O Estado de S. Paulo

Patrimônio de Marin encolhe R$ 37 milhões

Corrupção. Ex-dirigente, que obteve liberdade nos Estados Unidos e voltará ao Brasil, vendeu imóveis para pagar multas

- Raphael Ramos

Após conseguir na Justiça dos Estados Unidos o direito à liberdade antes do cumpriment­o total da pena de quatro anos a que fora condenado, o ex-presidente da CBF José Maria Marin aguarda os últimos trâmites burocrátic­os para deixar a prisão e pegar o primeiro voo disponível rumo ao Brasil, o que deve ocorrer nos próximos dias. Aos 87 anos – completa 88 no mês de maio – e com a saúde debilitada, o ex-dirigente está detido em uma penitenciá­ria federal de segurança baixa em Allenwood, no interior do Estado norte-americano da Pensilvâni­a, e na segunda-feira viu a juíza Pamela K. Chen acatar pedido de soltura feito pelos seus advogados em meio à pandemia do coronavíru­s.

De volta ao Brasil, o Estado apurou que Marin vai morar com a mulher, Neusa, em um apartament­o no bairro de Cerqueira César, zona de sul de São Paulo. O imóvel tem aproximada­mente 140 m².

Antes, os dois moraram por mais de duas décadas em um apartament­o, nos Jardins, de 609 m² e cinco vagas de garagem. O imóvel foi vendido em julho de 2018 por R$ 7,6 milhões. O dinheiro foi usado para pagar despesas com advogados, dívidas processuai­s e multas nos Estados Unidos.

Entre os motivos listados pela juíza Pamela K. Chen para aceitar que Marin saísse da cadeia agora estão a sua “idade avançada, saúde significat­ivamente deteriorad­a, risco de graves consequênc­ias para a saúde devido ao atual surto de covid19, status de crime não violento e cumpriment­o de 80% de sua sentença original”.

Mais de 160 mil pessoas já foram diagnostic­adas com a covid-19 nos Estados Unidos. Cadeias estão relatando uma propagação acelerada da doença e, por isso, detentos foram libertados antes do término de suas penas. Em Allenwood estão 1.300 presos.

Marin deixará a prisão dois anos e quatro meses depois de ter sido condenado pelos crimes de organizaçã­o criminosa, fraude bancária e lavagem de dinheiro cometidos no período em que presidiu a CBF – entre março de 2012 e abril de 2015, quando foi sucedido por Marco Polo Del Nero, de quem era aliado desde os tempos em que dirigiam a Federação Paulista.

Antes, em 2015, ele já havia ficado detido na Suíça – foi preso poucas horas antes de participar de um congresso da Fifa – e em prisão domiciliar em Nova York acusado de ter recebido U$ 6,5 milhões (mais de R$ 32 milhões pelo câmbio atual) de propina para assinar contratos de direitos comerciais da Libertador­es, do torneio Copa do Brasil e da Copa América.

A Justiça dos EUA condenou Marin a pagar US$ 1,2 milhão (R$ 6 milhões) e confiscou mais US$ 3,3 milhões (R$ 16 milhões) do brasileiro. Já a Fifa baniu Marin do futebol e ainda aplicou multa de 1 milhão de francos suíços (R$ 5,4 milhões).

Preso em 2015 na Suíça, Marin vendeu, além do apartament­o onde morava com a mulher, um prédio comercial na Rua Colômbia, no Jardim América, por R$ 18,1 milhões, e um casarão localizado no Jardim Europa por R$ 11,5 milhões. A mansão estava em terreno de 2.600m², possuía dois andares, 12 salas, dez banheiros e estacionam­ento para 30 carros.

Durante os quase cinco anos em que esteve fora do Brasil depois de ter sido preso na Suíça, Marin se desfez de um patrimônio imobiliári­o avaliado em R$ 37 milhões para pagar multas que lhe foram impostas.

Os imóveis foram adquiridos em mais de três décadas, período em que Marin foi governador do Estado de São Paulo, além de presidente da Federação Paulista de Futebol e depois da CBF.

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STEPHEN YANG/REUTERS-22/12/2017 Perdoado. Marin não terá de cumprir pena até o fim

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