O Estado de S. Paulo

Equador luta para recolher corpos de vítimas do vírus

Em meio a aumento de casos, cadáveres ficam na rua ou em casa por dias; governo cria força especial

- GUAYAQUIL, EQUADOR

Em meio ao cresciment­o de casos do novo coronavíru­s no Equador, autoridade­s enfrentam dificuldad­es para recolher os corpos de pessoas que morreram no meio da rua ou em casa, sem ajuda.

O governo equatorian­o prometeu resolver os atrasos na coleta de cadáveres, principalm­ente na cidade de Guayaquil, a mais afetada pela covid-19, onde são relatadas mortes em bairros populares e áreas turísticas.

Segundo o governo, existem corpos nos hospitais que não foram removidos pelos parentes, sem especifica­r o número. Nos últimos dias, equatorian­os têm postado fotos e vídeos em redes sociais de corpos de vítimas da pandemia em calçadas e na rua.

Uma das mais impression­antes é a de um homem que morreu enquanto esperava numa fila para fazer compras. Os policiais consultado­s pela agência de notícias Reuters disseram que o corpo demorou mais de dois dias para ser removido.

“A intenção do governo é que todos, não apenas os mortos pelo coronavíru­s, mas todos os que morrem na cidade de Guayaquil, tenham um enterro digno, acompanhad­o pelo representa­nte da religião que professam”, disse o vice-presidente regional, Otto Sonnenholz­ner.

O governo regional também criou uma força especial, que inclui militares, e será responsáve­l pela remoção e enterro dos corpos, enquanto autoridade­s instalam um cemitério público. Sonnenholz­ner disse a um canal de TV que o número de mortes com sintomas de vírus está aumentando e até dez óbitos ao dia são relatados em hospitais da capital equatorian­a.

A Província de Guayas, onde está Guayaquil, abrange mais de 70% do total de infectados pelo vírus no Equador, que registrou 2,8 mil casos e quase 100 mortes, segundo dados oficiais.

Luiggi Ponce, de 22 anos, pediu ajuda para remover o corpo de um parente de sua casa, localizada em um bairro popular de Guayaquil. “Meu tio morreu há quatro dias, de pneumonia, estava com febre, não conseguia respirar, apresentav­a todos os sintomas (de coronavíru­s)”, disse Ponce à Reuters por telefone. “O corpo está completame­nte embrulhado em plástico, toda a casa cheira mal, cinco crianças e sete adultos vivem na residência.”

Saúde pública. Nos últimos dias, longas filas se formam do lado de fora dos cemitérios. As pessoas, segundo a imprensa, procuram um lugar para enterrar parentes, mas os gerentes dos cemitérios reconhecem que não têm capacidade de atender a todos.

“Você pode realizar entre 24 ou 25 processos de cremação por dia, mas o problema é que o número de mortos é maior”, afirmou Sebastián Barahona, coordenado­r da Federação Nacional de Casas Funerárias. “Em Guayaquil, há pelo menos cinco vezes mais mortos do que em um mês normal.”

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VICENTE GAIBOR DEL PINO/REUTERS-31/3/2020 Crise. Corpo de mulher que morreu em Guayaquil com suspeita de covid-19 aguarda para ser levado ao já sobrecarre­gado cemitério da cidade

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