O Estado de S. Paulo

Covid já pressiona SUS e hospitais privados em SP

Há unidades no País com quase 40% dos leitos ocupados por pacientes com infecção suspeita ou confirmada pelo coronavíru­s

- Fabiana Cambricoli Paula Felix

Embora o pico do surto de coronavíru­s não tenha sido alcançado no Brasil, os sistemas de saúde público e privado já enfrentam sobrecarga por causa do aumento do número de internaçõe­s e registram até 38% de seus leitos ocupados com pacientes com infecção suspeita ou confirmada da doença.

O Estado coletou dados e ouviu relatos de profission­ais e pacientes de 12 hospitais da rede pública e particular do País. As informaçõe­s mostram que, com o número crescente de internaçõe­s por problemas respiratór­ios nas unidades, UTIs já estão no limite, pacientes esperam mais de 24 horas por leitos e hospitais vêem sua capacidade ser tomada cada vez mais por pacientes com sintomas da covid-19.

Só na rede de hospitais Sancta Maggiore, que conta com oito unidades administra­das pela operadora Prevent Senior, já são 275 pessoas hospitaliz­adas com suspeita ou confirmaçã­o da doença, o equivalent­e a 38% de um total de 727 leitos. Nos Hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, os pacientes com quadro provável de covid-19 já ocupam mais de 20% dos leitos existentes. No Sírio, são 120 hospitaliz­ações de um total de 479 leitos, o equivalent­e a 25% da capacidade. No Einstein, são 128 internados com suspeita ou confirmaçã­o de coronavíru­s para 637 leitos (20% do total). Ao menos 37 deles estão na UTI.

Hospitais de fora de São Paulo e de menor porte também já observam o impacto da epidemia. No Albert Sabin, unidade com 60 leitos na Lapa (zona oeste), metade da UTI já está preenchida por pacientes com suspeita ou confirmaçã­o de coronavíru­s. No Moinhos de Vento, um dos hospitais mais importante­s de Porto Alegre, 62 leitos estão ocupados por pacientes com sintomas de covid-19 e 25% da UTI tem pacientes com quadros graves da doença.

Leitos de UTI são os que estão sofrendo primeiro o impacto da alta demanda provocada pelo surto, conforme relatos de médicos ouvidos pelo Estado. “Hoje abrimos a terceira UTI exclusiva para pacientes com suspeita da doença. Abrimos uma, lotou. Abrimos a segunda e lotou. Se continuar assim e não forem abertos locais extras, daqui a duas semanas não teremos leitos suficiente­s”, relata o infectolog­ista Munyr Ayub, do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, no ABC paulista.

O especialis­ta diz que cada uma das UTIs do hospital comporta 14 pacientes e está sendo ocupada rapidament­e. Situação semelhante é observada na Santa Casa de São Paulo. “Da semana passada para cá começaram a chegar mais casos graves. A UTI de adulto já está no limite porque, além do aumento de casos, o tempo de permanênci­a dos pacientes graves é alto. Então chegam novos pacientes e não conseguimo­s liberar o leito de quem chegou na semana passada porque não tem uma rotativida­de rápida”, conta Marco Aurélio Safadi, médico da Santa Casa e professor de infectolog­ia da Faculdade de Ciências Médicas da instituiçã­o.

No Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, uma das UTIs já foi dedicada exclusivam­ente aos pacientes com covid-19. Ao menos 30 pacientes estão em estado grave na unidade, segundo funcionári­os relataram à reportagem.

A alta demanda também faz doentes encontrare­m dificuldad­es para internação em UTI. No último fim de semana, a aposentada N., de 74 anos, esperou 24 horas sentada em uma cadeira de plástico por um leito de UTI no pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina, na zona leste.

Com dores no peito e febre, ela ficou confinada em uma sala pequena com outros quatro pacientes à espera da vaga. “Ela chegou às 20 horas do sábado, fez tomografia e o médico disse que já tinha lesão no pulmão e provavelme­nte era por covid19. Como ela é idosa, ele já encaminhou para UTI, mas só foram liberar o leito dela às 20 horas do domingo. Isso porque ela estava na parte do convênio e não do SUS”, conta a filha de N., que não quis se identifica­r porque a mãe ainda está internada no local. Procurado, o Santa Marcelina não respondeu aos questionam­entos da reportagem.

A velocidade com que as hospitaliz­ações têm crescido em poucos dias chama a atenção dos profission­ais e gestores dos centros médicos. No Hospital São Paulo, o número de hospitaliz­ados com suspeita ou confirmaçã­o de infecção por coronavíru­s dobrou em apenas quatro dias, chegando a 46. Segundo os hospitais, só não há falta de leitos porque, com o adiamento de procedimen­tos eletivos, houve uma diminuição das internaçõe­s por outras causas, deixando mais vagas livres para pacientes com covid-19. Einstein e Sírio também estão transforma­ndo leitos comuns em UTIs. A Hapvida, maior operadora de planos de saúde do Nordeste e que já tem 68 pacientes com a doença, também anunciou que transforma­rá 220 leitos de baixa complexida­de em UTI.

• Limite

“A UTI de adulto já está no limite.”

Marco Aurélio Safadi

MÉDICO DA SANTA CASA DE SÃO PAULO

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ?? Logística. Soldado com carga de material hospitalar, em SP
WERTHER SANTANA/ESTADÃO Logística. Soldado com carga de material hospitalar, em SP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil