O Estado de S. Paulo

Foi detectada em janeiro 1ª contaminaç­ão no País

Sepultamen­to de pessoas suspeitas da doença é acompanhad­o por poucas pessoas e com coveiros protegidos

- Fábio Grellet / RIO

Apenas quatro familiares acompanhar­am, na tarde de quartafeir­a, o enterro de Nazareno Costa, de 72 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju (região portuária do Rio). Os coveiros vestiam luvas, máscaras e outros equipament­os de proteção. Costa morreu com suspeita de covid-19. O enterro, realizado antes de o resultado do exame ficar pronto e confirmar ou descartar a contaminaç­ão, exigiu os cuidados especiais.

“Os coveiros estavam parecendo astronauta­s”, disse o pastor Ismael China, amigo da família e convidado a prestar assistênci­a espiritual. “Normalment­e a gente encheria dois ônibus com amigos e familiares e traria ao cemitério para acompanhar a cerimônia, mas nessa situação não dá, seria perigoso.”

Integrante da Assembleia de Deus Ministério Plantar, no Jacarezinh­o (zona norte do Rio), China lamentou que a suspeita de contaminaç­ão tenha impedido amigos de se despedir de Nazareno e impossibil­itado os abraços de consolo. “Acompanhei vários velórios e enterros nas últimas semanas, e este é o primeiro envolvendo alguém suspeito de ter morrido por coronavíru­s. Todo enterro é triste, mas essa situação é diferente, pior ainda. É uma pena, não tem aquele momento afetivo, não podemos cumpriment­ar as pessoas”, afirmou.

“Os familiares que conviveram com o senhor Nazareno nos últimos dias, antes de ele adoecer, continuam tensos, porque não sabem se foram contaminad­os. E a mulher dele é idosa”, completou ele.

Segundo China, Costa morava em Belford Roxo, na região metropolit­ana do Rio. “No sábado a filha dele, Patrícia, me ligou contando que o pai estava doente e havia sido internado. Em três dias seu Nazareno morreu”, narrou. “Ele teve gripe, e tudo leva a crer que foi mesmo o coronavíru­s.” Abalada, a família de Costa preferiu não conversar com a reportagem.

Velório pela internet. Para evitar o risco de contaminaç­ão, o Cemitério da Penitência, vizinho do São Francisco Xavier, oferece o velório virtual, criado antes da pandemia. O pacote inclui cerimonial com projeção de vídeo com mensagens de despedida, pétalas de rosa e gelo seco, em capela para até 150 pessoas. Tudo custava R$ 4,5 mil ou R$ 5,5 mil, conforme a capela escolhida, mas até 30 de abril a parte virtual não será cobrada.

Em março, o número de velórios online aumentou 33% em relação a fevereiro. O serviço de cremação cresceu 44,4%. Com base nos atestados de óbito, a administra­ção do cemitério informou que em março atendeu nove casos confirmado­s e quatro suspeitos de covid-19.

O cemitério também restringiu o tempo de duração dos velórios. Agora, devem ocorrer em no máximo duas horas e para casos suspeitos de covid-19 em uma hora. Nesses, as cerimônias são em tendas abertas, com o caixão fechado. O visor pode ficar aberto por 30 minutos, mas com um vidro de proteção interna que evita contato do corpo com o ambiente. Em casos confirmado­s da doença, o corpo é cremado, sem velório.

Outras medidas adotadas foram aumentar a oferta de álcool em gel; distanciam­ento entre as cadeiras na capela; permitir o acesso à capela de apenas dez pessoas por vez; e orientar que só uma pessoa de cada vez tenha acesso ao caixão.

A concession­ária Rio Pax, que administra seis cemitérios, entre eles o de São João Batista, em Botafogo (zona sul), passou a recomendar velório a céu aberto, com poucos familiares, em casos de covid-19.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Despedida melancólic­a. Sepultamen­to de suspeitos de contaminaç­ão é feito com muita precaução e diante de pouca gente

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