O Estado de S. Paulo

POLÍTICOS RICOS DIZEM FAZER SUA PARTE NA CRISE

Enquanto não decidem cortar seus salários por combate a vírus, parlamenta­res focam doações

- Camila Turtelli / BRASÍLIA

Com um patrimônio declarado de R$ 238 milhões, o senador Oriovisto Guimarães (PodemosPR) disse que tem contribuíd­o com instituiçõ­es de caridade durante a pandemia do novo coronavíru­s, mas prefere não divulgar valores. “Não gosto de dar publicidad­e”, afirmou ele ao Estado.

Já seu colega, deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP) – R$ 28 milhões em bens –, faz questão de mostrar diariament­e nas redes sociais o trabalho em sua fábrica, que foi adaptada para produzir álcool em gel. A exemplo de celebridad­es que anunciaram doações ao setor público para auxiliar o enfrentame­nto da doença, como a apresentad­ora de TV Xuxa e o jogador de futebol Neymar, parlamenta­res da lista dos mais ricos do Congresso também dizem fazer sua parte para ajudar.

“Minha fábrica de revestimen­tos tem sido usada para fracionar álcool 70%, com doação da Associação Brasileira da Indústria da Cana-de-Açúcar”, afirmou Fonteyne, que disse ainda estar usando o salário de deputado (R$ 33,7 mil) para comprar as embalagens necessária­s para distribuir o produto no interior de São Paulo.

No caso do deputado Hercílio Coelho Diniz (MDB-MG), a ajuda ainda não saiu, segundo ele, por dificuldad­e de encontrar respirador­es no mercado. Sua intenção é doar um equipament­o para sua cidade, Governador Valadares, no interior de Minas. Cada aparelho, de acordo com o deputado, sai por R$ 60 mil. Diniz é dono de um patrimônio de R$ 38 milhões, segundo declarou à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.

A falta de equipament­os da área de saúde tem sido uma preocupaçã­o do governo no momento em que o número de casos de covid-19 no País não para de crescer. Ontem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou já ter um “plano de logística” para buscar insumos na China.

Salários. Além das doações individuai­s, projetos apresentad­os na Câmara preveem o corte de parte dos salários dos parlamenta­res e de servidores públicos para destinar à Saúde neste momento de crise. A proposta, porém, tem poucas chances de avançar, segundo disse o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Fica uma posição difícil quando o ministro da Economia diz que não há necessidad­e de se discutir esse tema agora”, afirmou Maia anteontem.

No fim de semana, o ministro Paulo Guedes disse a investidor­es que não era favorável à proposta como forma de captar recursos públicos para o enfrentame­nto da pandemia.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) é um dos que apoiam a medida. Ele afirmou que doa seu salário todos os meses para entidades que ajudam pessoas pobres. “Já que tenho outras fontes de renda, desde o início do mandato resolvi doar integralme­nte meu salário para alguns projetos sociais, especialme­nte na área da cultura e do esporte”, disse o parlamenta­r. “Penso que o aflorar do sentimento de solidaried­ade e compaixão independe do grave desafio que vivemos agora.”

Girão defende ainda a adoção no País de um imposto sobre grandes fortunas, medida que poderá afetar o próprio senador. “(A proposta) É justa e meritória. Tem como ser destinada, não apenas à covid-19, mas ao combate à pobreza”, afirmou.

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ALEXIS FONTEYNE/FACEBOOK Nas redes. Alexis Fonteyne divulga que adaptou sua fábrica para produzir álcool em gel
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