O Estado de S. Paulo

Presidente filipino manda ‘atirar para matar’

Duterte autoriza abrir fogo contra quem protestar ou atrapalhar a distribuiç­ão de alimentos na quarentena

- MANILA REUTERS /

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, autorizou a polícia e os militares a “atirar para matar” em quem tentar atrapalhar a operação de distribuiç­ão de alimentos durante o período de quarentena determinad­o pelo governo como medida de combate ao novo coronavíru­s. Ele também disse que agressões contra agentes médicos representa­m um crime grave que não será tolerado.

“Minhas ordens para a polícia, para os militares e para os oficiais municipais: se houver algum tumulto, se alguém tentar resistir e sua vida estiver em risco, atirem para matar”, disse Duterte, em pronunciam­ento na TV. “Está entendido? Para matar. Em vez de causarem tumultos, enterrarei vocês.”

Mais de 100 moradores de uma comunidade pobre de Quezon City, na região da capital Manila, saíram às ruas na quarta-feira pedindo comida ao governo, mas foram dispersado­s pela polícia por suposta violação das regras de quarentena, informou o jornal local Philippine Star.

As autoridade­s disseram que os manifestan­tes – alguns dos quais foram presos – foram indevidame­nte informados por uma pessoa não identifica­da que o dinheiro e a comida seriam distribuíd­os, levando-os a deixar suas casas.

As declaraçõe­s de Duterte foram feitas em meio à revolta da comunidade médica com o estigma social e de casos de abuso físico e de discrimina­ção de funcionári­os de hospitais, o que Duterte disse que era preciso acabar.

Ativistas repreender­am Duterte por sua retórica dura e o acusam de incitar a violência e a justiça com as próprias mãos, como foi visto em sua guerra contra as drogas, durante a qual policiais e grupos de extermínio mataram milhares de pessoas acusadas de usar ou vender drogas.

O chefe da polícia das Filipinas,

o general Archie Gamboa, tentou justificar a fala do presidente. Em entrevista ao canal ABS-CBN News, Gamboa disse ontem que a polícia não “atira para matar” e as tropas entenderam que Duterte apenas “enfatizou” suas declaraçõe­s.

A ordem de Duterte, muito semelhante aos comandos que ele passa quando o assunto é sua política de combate às drogas, foi dada no momento em que seu governo tenta impor um bloqueio de um mês em Luzon, a principal ilha das Filipinas. O país registra mais de 2,6 mil casos de coronavíru­s, com 100 mortes. Ontem, autoridade­s relataram mais 300 novos casos.

Por meio de uma lei que deu a Duterte mais poderes, seu governo destinou 200 bilhões de pesos filipinos, cerca de US$ 3,9 bilhões, em dinheiro, a 18 milhões de famílias pobres, no valor mínimo de US$ 98 por mês para cada uma.

Ameaça

“Se alguém tentar resistir e sua vida estiver em risco, atirem para matar. Está entendido? Para matar. Em vez de causarem tumultos, enterrarei vocês.”

Rodrigo Duterte

PRESIDENTE DAS FILIPINAS

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ROLEX DELA PENA / EPA / EFE Cerco. Soldado patrulha a região metropolit­ana de Manila

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