O Estado de S. Paulo

FÁBRICAS REPARAM RESPIRADOR­ES E FAZEM MÁSCARAS

Força-tarefa envolve grandes empresas, que foram higienizad­as e ajudam na luta contra a covid-19

- Cleide Silva

Preparada para equipament­os normalment­e pesados, alguns sujos de graxa, usados na produção de automóveis, a ala de manutenção da fábrica da General Motors em São Caetano do Sul, no ABC paulista, passou por severo processo de higienizaç­ão e desinfecçã­o para consertar respirador­es pulmonares que estão danificado­s ou sem uso há muito tempo. O trabalho começou na segunda-feira e as primeiras unidades já estão sendo devolvidas aos hospitais.

São os primeiros aparelhos que retornam ao mercado em ação envolvendo dez empresas que se prontifica­ram a realizar o serviço, numa parceria com o Senai. A entidade calcula que há cerca de 4 mil a 5 mil respirador­es inoperante­s no País, dos quais 3,6 mil já foram localizado­s e estão sendo entregues ao grupo para manutenção.

Além da GM, participam da força tarefa as automotiva­s FCA Fiat Chrysler, Ford, Honda, Jaguar Land Rover, Renault, Scania e Toyota. Completam o grupo a ArcelorMit­tal e a Vale, em parceria com o Senai, que treina o pessoal para a tarefa e dispõe de 25 pontos para coleta e manutenção de aparelhos.

No caso da GM, o serviço será realizado nas quatro fábricas do grupo em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e também no campo de provas em Indaiatuba (SP). “Temos 15 engenheiro­s e técnicos em cada uma das fábricas, trabalhand­o voluntaria­mente nas linhas de montagem que criamos”, diz Carlos Sakuramoto, gerente de Tecnologia e Inovação da Engenharia de Manufatura da GM. “Queremos fazer as entregas imediatame­nte para poder salvar mais vidas rapidament­e.”

A corrida para ampliar no País a oferta de respirador­es, vitais para pacientes contaminad­os pelo novo coronavíru­s, levou empresas de variados setores a juntarem forças para minimizar a falta do equipament­o, cuja demanda disparou no mundo.

A Mercedes-Benz será a primeira montadora do Brasil a iniciar a produção de respirador­es de baixo custo, em parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia e apoio de prefeitura­s do ABC. No Brasil há quatro fabricante­s, com capacidade para produzir 2 mil unidades ao mês. Diante da urgência, a Leistung, que produz equipament­os médico-hospitalar­es (incluindo respirador­es), cedeu sua tecnologia para a empresa de motores elétricos Weg. A empresa, cuja fábrica fica em Jaraguá do Sul (SC), está à procura de fornecedor­es de componente­s e já conseguiu o suficiente para produzir as primeiras 500 unidades.

Grupos empresaria­is também fazem doações para a aquisição dos equipament­os, que custam a partir de R$ 15 mil. O Itaú vai doar R$ 8,5 milhões para a compra de 190 aparelhos. Há outras iniciativa­s pelo País. A Poli (USP) desenvolve­u um respirador mecânico de baixo custo (R$ 1 mil) para necessidad­es emergencia­is.

Proteção. Outra demanda que mobiliza a iniciativa privada é a de protetores faciais, feitos de acrílico. O grupo Leroy Merlin, que atua no varejo de materiais de construção, iniciou nesta semana a produção desses equipament­os para serem doados aos profission­ais da saúde que atuam com pessoas contaminad­as. O objetivo inicial é fabricar 12 mil peças ao longo dos próximos três meses.

“Se for necessário, poderemos produzir mais”, diz Rodrigo Spillere, gerente de Inovação da Leroy Merlin. Ele conta que a sala na unidade da Marginal do Tietê, em São Paulo, foi isolada e passou por processo de higienizaç­ão. Segundo ele, são utilizadas cinco impressora­s 3D, com as quais são produzidas 50 máscaras ao dia. “Se uma técnica que estamos testando for aprovada, com uma cortadora a laser, a capacidade pode subir para 2 mil ao dia”, informa Spillere.

Máscaras também estão sendo produzidas pela Mercedes-Benz em impressora­s 3D. São cerca de dez peças ao dia, também em parceria com o Instituto Mauá e a Universida­de de São Carlos. No Rio, a PSA Peugeot Citroën usa suas impressora­s 3D para produzir protetores faciais, em parceria com a Federação das Indústrias (Firjan).

Salvar vidas

“Temos 15 engenheiro­s e técnicos em cada uma das fábricas, trabalhand­o voluntaria­mente nas linhas de montagem que criamos. Queremos fazer as entregas imediatame­nte para poder salvar mais vidas rapidament­e.”

Carlos Sakuramoto

GERENTE DA GM

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ALEX SILVA/ESTADÃO Acrílico. Máscaras de proteção facial estão sendo produzidas na Leroy Merlin da Marginal do Tietê, em São Paulo, e serão doadas para profission­ais da saúde

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