O Estado de S. Paulo

Barril sobe 24%, mas não muda plano da Petrobrás

Em função da demanda em queda, avaliação é de que é cedo para estatal recuar na decisão de reduzir a produção de petróleo

- Denise Luna Fernanda Nunes / RIO

A alta do preço do petróleo no mercado internacio­nal – após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizar com um possível corte no volume da produção da commodity pela Arábia Saudita e Rússia – não foi suficiente para a Petrobrás recuar na decisão de reduzir a produção de petróleo e combustíve­is, diante de um consumo em queda e de poucos sinais de recuperaçã­o da economia global.

Após Trump escrever nas redes sociais que aguardava uma retração de 10 milhões de barris por dia pela Rússia e Arábia Saudita, as ações das petroleira­s saltaram. Os papéis da Petrobrás fecharam o dia com alta de 8,5%, na casa dos R$ 15.

A guerra de preços entre a Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (Opep) e a Rússia se arrasta desde fevereiro, porque os russos se negaram a negociar cotas de produção com os sauditas. Nos últimos dias, a commodity caiu ao patamar de US$ 20. Mas ontem a queda deu uma trégua. O barril do petróleo WTI para maio, negociado nos Estados Unidos, fechou em alta de 24,67%, a US$ 25,32, enquanto o Brent, produzido na Europa, para junho, avançou 21,02%, a US$ 29,94.

Para a coordenado­ra de pesquisa da FGV Energia, Fernanda Delgado, o preço é um fator que não muda muito o cenário para o Brasil e para a Petrobrás, já que o problema maior é a retração da demanda. “Mesmo que tenha aumento de preço agora com um eventual corte de produção, não tem quem compre no curto e médio prazo”, avalia. Ela argumenta que o mercado permanece volátil e não há perspectiv­a de melhora do consumo. “Esse cenário deve manter as medidas anunciadas pela Petrobrás inalterada­s”, explica.

Corte. A petroleira anunciou na última quarta-feira um corte de produção de 200 mil barris diários, o equivalent­e a 10% da sua extração. Além disso, informou que vai reduzir o ritmo das refinarias e reduzir salários e investimen­tos para preservar o caixa. O investimen­to projetado para este ano passou de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões.

“A situação do Brasil continua desconfort­ável. Uma alternativ­a vai ser vender petróleo cru no mercado interno, para as refinarias. O papel do mercado interno vai ser muito relevante no curto prazo”, afirma o coordenado­r Técnico do Instituto Nacional de Estudos Estratégic­os do Petróleo (Ineep), Rodrigo Leão. A avaliação é que o barril não foi valorizado a ponto de justificar a retomada de projetos de fora do pré-sal, região ainda competitiv­a. Em sua opinião, cada vez mais a estatal vai ter dificuldad­e de exportar, já que os mercados compradore­s estão fechados.

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FABIO MOTTA /ESTADÃO - 18/12/2018 Produção. Petroleira anunciou corte de 200 mil barris por dia

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