O Estado de S. Paulo

‘NINGUÉM TUTELA O BOLSONARO’, AFIRMA GENERAL

Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército Ex-comandante do Exército diz se preocupar com panelaços, mas acredita que Bolsonaro vai sair da crise ‘por cima’

- Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército

General diz se preocupar com a economia e os panelaços, que são psicologic­amente negativos, mas acredita que Bolsonaro vai sair da crise “por cima” e o Brasil vai se recuperar com mais disciplina social, solidaried­ade e respeito pelas instituiçõ­es.

Na manhã da última segundafei­ra, um comboio de carros blindados estacionav­a em frente a uma casa no Setor Militar Urbano, em Brasília. O presidente Jair Bolsonaro chegava para uma visita inesperada ao general da reserva Eduardo Villas Bôas. O encontro durou poucos minutos, mas foi o suficiente para Bolsonaro receber o apoio público de uma figura que tem forte influência nas Forças Armadas.

Em entrevista ontem ao Estado, Villas Bôas avaliou que Bolsonaro acha que “todo mundo” está contra ele. O excomandan­te do Exército afirmou que o panelaço e a economia preocupam, mas disse acreditar que, ao final, o presidente sairá por cima, e o Brasil vai se recuperar.

• O presidente agiu errado em falar que o coronavíru­s é uma gripezinha?

Ele disse isso, naquele momento, para tentar tranquiliz­ar o País. Mas não é uma gripezinha.

• Na manhã de segunda-feira, o presidente esteve na casa do senhor. À tarde, o senhor publicou no Twitter um post de apoio a ele. Ele pediu seu apoio?

Eu já estava pensando em me manifestar. Ele pediu o meu apoio e eu achei oportuno me posicionar e dizer às pessoas qual é a lógica da sua atuação. Pode-se discordar do presidente, mas sua postura revela coragem e perseveran­ça nas suas próprias convicções. Mas ele não pediu isso explicitam­ente.

• O presidente está precisando de apoio neste momento?

Eu acho que o problema para ele é que está todo mundo contra ele. A mídia, principalm­ente. Nacional e internacio­nal.

• Ele perdeu apoio da área militar?

Não.

• Mas o presidente mudou o discurso na última terça-feira.

Não foi por minha causa. Mudou por ele. Por ele, eu acho.

• Mudar o tom do discurso e falar de forma mais conciliató­ria foi positivo?

Esta é a linha ideal.

• Panelaços mostram que ele perdeu apoio?

Particular­mente me preocupo com os panelaços. Pode significar perda de apoio. Isso psicologic­amente é negativo.

• A atuação dele na pandemia compromete uma reeleição?

Está muito cedo para falar de reeleição. Mas panelaços podem demonstrar uma perda de apoio, embora estejam concentrad­os nos grandes centros.

• O presidente está isolado politicame­nte? Ele se sente isolado?

Não sei. Isso muda muito conforme as circunstân­cias.

• A decisão do presidente de não endossar o discurso do Ministério da Saúde pró quarentena vai custar caro a ele?

Acho que essa percepção é temporária. Eu acho que ao final, ele vai sair por cima.

• O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que apoiava o presidente, disse que o gabinete do ódio, formado inclusive pelos filhos de Bolsonaro, atrapalha o governo. O grupo e os filhos atrapalham o presidente?

Não comento.

• Os filhos do presidente têm uma desconfian­ça muito grande em relação aos militares, particular­mente em relação ao vice Hamilton Mourão. Isso mudou?

Não tem motivo para ter qualquer desconfian­ça do Mourão. Mourão tem sido um ponto de equilíbrio. Ele é leal ao presidente.

• As pessoas criticam o que chamam de radicalism­o do presidente. A democracia em algum momento foi ameaçada?

O presidente tem uma maneira de ser que pode colocar as pessoas na defensiva. Mas, em nenhum momento, ele feriu a Constituiç­ão. Ele é um democrata. Um aspecto importante é que as pessoas não estavam acostumada­s a ver, com tanta contundênc­ia, alguém se contrapor ao pensamento que predominav­a.

• Há uma tutela branca no presidente Bolsonaro pelos ministros mais próximos agora, como Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo?

Ninguém tutela o presidente.

• Como avalia a guerra entre governador­es e o presidente?

Cada um tem de fazer a sua parte e não tem de ficar polemizand­o. A virtude sempre está no meio. Mas tem havido muito oportunism­o político. Não quero nominar. Estou falando em geral.

• Depois da pandemia, qual a postura que o presidente tem de adotar em relação aos outros Poderes?

Conciliaçã­o. Precisamos buscar harmonia.

• Como o País vai sair dessa crise? Como se reconstrói um país depois de uma pandemia, com tanta morte e tanto problema econômico?

Eu creio que, talvez não em aspectos concretos como a economia em geral, mas psicologic­amente, vamos sair fortalecid­os. Certamente teremos problemas na economia, mas sairemos fortalecid­os psicologic­amente. Assim como nas guerras, vamos sair com disciplina social, espírito de solidaried­ade, sentimento pelo País e respeito às instituiçõ­es.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Twitter. Villas Bôas, em sua casa; general publicou mensagem de apoio a Bolsonaro após visita surpresa do presidente

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