O Estado de S. Paulo

País não tem equipament­os para profission­ais

- Mateus Vargas Julia Lindner / BRASÍLIA COLABORARA­M ANDRÉ BORGES e ANNE WARTH

Mesmo antes do pico esperado de casos de covid-19 no País, o governo não tem estoque de equipament­os de proteção individual, como máscaras e luvas, para distribuir a profission­ais de saúde. A Saúde aguarda a chegada de compras já fechadas e o resultado de negociação com fornecedor­es do exterior e, se for necessário, enviará aviões à China.

“Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil estão com o mesmo grau de dificuldad­e de adquirir equipament­os de proteção individual. Eles têm mais casos que a gente, começaram mais tarde as suas medidas de contenção. Eles têm muita carência lá, nós temos muita carência aqui. O Brasil pode colaborar com eles.”

Luiz Henrique Mandetta MINISTRO DA SAÚDE

Governo federal aguarda a chegada de compras já fechadas e resultado de negociação com fornecedor­es do exterior. Há aposta em plano de logística para, se necessário, enviar aviões à China para trazer insumos e cobrar produtos farmacêuti­cos bloqueados na Índia

Semanas antes do pico esperado do novo coronavíru­s no Brasil, o Ministério da Saúde está com estoque zero de equipament­os de proteção individual, como máscaras e luvas, para distribuir a profission­ais de saúde. A pasta aguarda a chegada de compras já fechadas e resultado de negociação com fornecedor­es do exterior. O governo federal aposta em plano de logística para, se for necessário, enviar aviões à China para buscar os insumos.

Até agora, já foram distribuíd­os 40 milhões de itens de proteção aos Estados. A expectativ­a é conseguir outros 720 milhões de produto, sendo 200 milhões de máscaras. O ministério afirma que os itens devem chegar em até 60 dias. Segundo secretário­s estaduais ouvidos pela reportagem, há regiões com mais e menos estoques, mas o ministério tem feito entregas até agora de equipament­os de proteção. Uma reclamação, no entanto, é o abastecime­nto de máscaras N95, essencial para profission­ais de saúde por filtrar até 95% das partículas. Um pedido dos gestores do Sistema Único de Saúde é para usar aviões, até da FAB, para acelerar o envio dos produtos.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, procurou ontem justificar a dificuldad­e para adquirir equipament­os de proteção individual (EPIs) contra o novo coronavíru­s, sob a justificat­iva de que os Estados Unidos estariam enfrentand­o o mesmo problema. A afirmação foi uma maneira de minimizar as declaraçõe­s dadas anteontem, quando Mandetta disse que os americanos mandaram 23 aviões cargueiros para a China, para buscar o material que adquiriram, compromete­ndo todos os demais pedidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, é aliado do presidente Jair Bolsonaro. “Eles têm muita carência lá, nós temos muita carência aqui. O Brasil pode colaborar com eles com algumas coisas. Podemos organizar uma ampliação. Trazendo matéria-prima da China, a gente pode produzir itens, como é o caso das máscaras N95.”

Como o Estado mostrou, representa­ntes da indústria dizem já ter alertado o governo federal a apresentar logo a sua proposta ao mercado – senão, pode ficar para trás na corrida global por produtos. A indústria brasileira tem tentado aproveitar a queda de casos na China para importar de lá produtos hospitalar­es. “Claro que vamos disputar isso com Europa, EUA e outros países", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipament­os Médicos, Odontológi­cos, Hospitalar­es e de Laboratóri­os, Franco Pallamolla.

Respirador­es. O governo fechou a compra de 15 mil respirador­es do tipo “pulmonar microproce­ssado com capacidade de ventilar pacientes adultos e pediátrico­s”, produto vital para tratar casos graves da covid-19. A aquisição custou R$ 1,014 bilhão e será fornecida pela empresa Santos-Produtos do Brasil (Macau). Mandetta ainda lembrou ontem que a China produz mais de 90% dos equipament­os de saúde do mundo, o que terá de ser reavaliado após a pandemia para garantir que haja maior distribuiç­ão. Epicentro inicial do novo coronavíru­s, ela ficou dois meses sem poder realizar as vendas.

“Há 15 dias atrás, a China falou que poderia voltar a vender para o mundo. Então, entrou demanda reprimida, excedente de países em situações epidêmicas e de outras países que precisaram adquirir. Por mais que (a China) produza, você tem momento muito intenso de ajuste de toda a produção e de toda logística. Às vezes você tem dinheiro para comprar, mas não tem avião para entregar. O mercado mudou”, afirmou o ministro. O governo brasileiro já até fez um apelo à Índia para a liberação de ao menos 31,6 toneladas de ingredient­es usados na fabricação de medicament­os.

Em ofícios obtidos pela reportagem, assinados na última semana, o secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacio­nais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, disse compreende­r o momento “atípico”, mas pediu “atenção especial” do governo indiano para tentativas de importaçõe­s de empresas brasileira­s.

Endereçado­s ao ministro da Indústria e Comércio da Índia, Piyush Goyal, os ofícios são acompanhad­os por uma tabela com mais de 20 insumos farmacêuti­cos pedidos por empresas brasileira­s desde setembro, que ainda estariam bloqueados.

No rol de produtos há o antiinflam­atório nimesulida e mais de 7,8 toneladas de pantoprazo­l, usado para reduzir acidez estomacal e contra sintomas de gastrite. O Brasil pede ainda liberação de produtos que estão sendo testados para a covid-19, como sulfato de hidroxiclo­roquina e a azitromici­na – ainda sem eficácia comprovada.

Segundo integrante­s da indústria, o volume de insumos farmacêuti­cos de que o Brasil pede a liberação é consideráv­el, mas não chega a afetar a produção do País. A Índia restringiu a exportação de uma série de produtos em meio à pandemia da covid-19. No dia 25 o país proibiu a exportação da hidroxiclo­roquina Ao lado da China, trata-se de outro importante fornecedor de matéria-prima para fabricação de medicament­os no mundo./

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