De volta para casa
Oque virá após o atual surto do novo coronavírus ainda é cedo para dimensionar. Mas, tal como vem acontecendo em todos os setores de nossas vidas, o impacto da quarentena na forma como vemos e vivemos nossas casas não deve ser pequeno – e seus primeiros reflexos já se fazem sentir. Por ora, parece que entramos em um ciclo de desaceleração.
De repente, nos vemos impelidos a diminuir o ritmo, a trabalhar em casa, a buscar entretenimento apenas entre os mais próximos, a voltar a dormir e a cozinhar mais. Estamos mais atentos aos detalhes, aos pequenos rituais domésticos, a tudo, enfim, capaz de tornar nossa permanência em casa o mais eficiente e prazerosa possível. E os desafios não são poucos.
De uma hora para outra, nossa vida em casa mudou e experimentamos a necessidade urgente de mudar em todos os níveis. Precisamos redefinir nossa noção de privacidade, arejar nossos hábitos de consumo. Mas também de camas mais macias, sofás mais confortáveis, poltronas mais adaptadas a utilização prolongada durante o trabalho ou as horas passadas na internet.
Por certo vamos ter de nos acostumar a viver com menos. Se há algo que o vírus interrompeu foi a escalada do consumo. Teremos de reaprender a ser felizes com o que temos em casa e isso, necessariamente, não precisa ser visto com maus olhos. Afinal, é sempre possível redecorar aquele canto esquecido, redescobrir um livro ou um CD na estante, prestar mais atenção àquele canteiro ou vaso que há tempos precisa de uma maior atenção.
Além da sustentabilidade, fator que tende a se tornar prioritário em todo e qualquer projeto, para este consumidor mais engajado, o upcycling – processo de transformação de resíduos e produtos indesejados em outros de melhor qualidade –, a simples troca e a compra de produtos de segunda mão são possibilidades cada vez mais vivas no horizonte. Assim como o “Do It Yourself”, ou, em português claro, a cultura do faça você mesmo.
Frente ao nosso atual retiro doméstico, mais do que nunca vamos buscar trazer a natureza para dentro de casa, assim como, orientados por uma nova estética, movida pela sensibilidade social, abriremos espaço para mercadorias mais artesanais, produzidas com base em fundamentos mais justos e humanos.
Pessoalmente, não acredito que esta demanda reprimida esteja prestes a explodir assim que a quarentena terminar. Mesmo antes do vírus, já era perceptível, principalmente entre os mais jovens, que o simples acúmulo de objetos, de roupas a carros, passando por móveis e equipamentos eletrônicos, por si só, não faz uma pessoa, ou uma casa, melhor ou mais feliz. Nesse jogo, estilo, capacidade de improvisação e criatividade contam pontos. E muitos.