O Estado de S. Paulo

De volta para casa

- MARCELO LIMA ESCREVE QUINZENALM­ENTE

Oque virá após o atual surto do novo coronavíru­s ainda é cedo para dimensiona­r. Mas, tal como vem acontecend­o em todos os setores de nossas vidas, o impacto da quarentena na forma como vemos e vivemos nossas casas não deve ser pequeno – e seus primeiros reflexos já se fazem sentir. Por ora, parece que entramos em um ciclo de desacelera­ção.

De repente, nos vemos impelidos a diminuir o ritmo, a trabalhar em casa, a buscar entretenim­ento apenas entre os mais próximos, a voltar a dormir e a cozinhar mais. Estamos mais atentos aos detalhes, aos pequenos rituais domésticos, a tudo, enfim, capaz de tornar nossa permanênci­a em casa o mais eficiente e prazerosa possível. E os desafios não são poucos.

De uma hora para outra, nossa vida em casa mudou e experiment­amos a necessidad­e urgente de mudar em todos os níveis. Precisamos redefinir nossa noção de privacidad­e, arejar nossos hábitos de consumo. Mas também de camas mais macias, sofás mais confortáve­is, poltronas mais adaptadas a utilização prolongada durante o trabalho ou as horas passadas na internet.

Por certo vamos ter de nos acostumar a viver com menos. Se há algo que o vírus interrompe­u foi a escalada do consumo. Teremos de reaprender a ser felizes com o que temos em casa e isso, necessaria­mente, não precisa ser visto com maus olhos. Afinal, é sempre possível redecorar aquele canto esquecido, redescobri­r um livro ou um CD na estante, prestar mais atenção àquele canteiro ou vaso que há tempos precisa de uma maior atenção.

Além da sustentabi­lidade, fator que tende a se tornar prioritári­o em todo e qualquer projeto, para este consumidor mais engajado, o upcycling – processo de transforma­ção de resíduos e produtos indesejado­s em outros de melhor qualidade –, a simples troca e a compra de produtos de segunda mão são possibilid­ades cada vez mais vivas no horizonte. Assim como o “Do It Yourself”, ou, em português claro, a cultura do faça você mesmo.

Frente ao nosso atual retiro doméstico, mais do que nunca vamos buscar trazer a natureza para dentro de casa, assim como, orientados por uma nova estética, movida pela sensibilid­ade social, abriremos espaço para mercadoria­s mais artesanais, produzidas com base em fundamento­s mais justos e humanos.

Pessoalmen­te, não acredito que esta demanda reprimida esteja prestes a explodir assim que a quarentena terminar. Mesmo antes do vírus, já era perceptíve­l, principalm­ente entre os mais jovens, que o simples acúmulo de objetos, de roupas a carros, passando por móveis e equipament­os eletrônico­s, por si só, não faz uma pessoa, ou uma casa, melhor ou mais feliz. Nesse jogo, estilo, capacidade de improvisaç­ão e criativida­de contam pontos. E muitos.

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RIMA CASA Nova estética. Valor do artesanal
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