Avanço do coronavírus muda forma de contratação
Empresas ampliam recrutamento digital e novos empregados já começam o trabalho em home office
O novo coronavírus mudou a forma como as empresas contratam empregados, sem no entanto estagnar os processos de recrutamento. Apesar de alguns setores optarem pelo congelamento de vagas para contenção de gastos ou pela impossibilidade de trabalho remoto, outros mostram resiliência e até aumento em contratações.
De acordo com Luiz Valente, CEO da holding de recrutamento Talenses Group, 20% dos clientes congelaram processos em andamento, mas o restante mantém vagas abertas. “De forma geral, empresas que já possuíam uma política consolidada de home office e, por consequência, a infraestrutura necessária para colocar seus colaboradores em trabalho remoto conseguiram sair na frente”, diz ele.
Segundo levantamento realizado pela Talenses entre 13 e 17 de março com 50 empresas, apenas 60% haviam conseguido implantar o regime integral de home office para empregados administrativos. “Hoje, este número aumentou para 92%”, diz o executivo, pontuando que as empresas que mais demoraram para se adequar são de setores tradicionais, como a indústria de bens de capital.
Entre as vagas disponíveis, permanentes ou temporárias, Valente destaca que a contratação remota não é só coisa de empresa de base tecnológica e envolve setores como saúde, compras, segurança do trabalho, marketing e vendas. O processo de recrutamento agora é 100% digital, feito por videoconferências e metodologias como mapeamento das competências técnicas e comportamentais e testes para avaliação do fit cultural entre as partes.
A Revelo, plataforma de recrutamento digital, também observou queda de 12% no agendamento de entrevistas, mas espera ligeira retomada nas contratações (15%) ao longo das próximas semanas, principalmente para posições ligadas a operações de tecnologia e em negócios com atividades online.
As áreas com tendência de expansão identificadas pela empresa são business intelligence (BI), tecnologia da informação (TI) e os setores de e-commerce e software.
Apoio remoto. O jornalista Afonso Ribeiro, de 28 anos, começou como analista de comunicação pleno no Instituto Ayrton Senna no dia 16 de março – data em que todo o time do instituto passou ao regime de home office. O apoio do RH e dos coordenadores foi fundamental para tornar o início à distância mais tranquilo, diz ele.
“Começar um trabalho novo já é desafiador. Passar por isso à distância exige um controle ainda maior das emoções, principalmente da ansiedade”, conta. Além da disponibilização de toda a estrutura, como computador, perfil no Zoom, suporte para telefone e acesso a sistemas internos, o instituto abriu os canais de comunicação para dar segurança ao recém-chegado.
“Eles estão me possibilitando ter uma curva de adaptação mais branda, sem grandes impactos”, diz Ribeiro. “Outro desafio era o de conhecer toda a equipe, mas temos reuniões semanais.” De acordo com o colaborador, o RH mantém ginástica laboral duas vezes por semana e yoga às quintas-feiras, ambas por videoconferência, além de uma rede social interna. “São atividades e ferramentas que ajudam não só a aliviar a tensão causada pelo isolamento como a encontrar meus colegas.”
Segundo Ewerton Fulini, vice-presidente corporativo do instituto, a cultura interna diminui a sensação de não pertencimento, e o RH estruturado com três profissionais para menos de 100 pessoas ajuda mais o funcionário. “Conseguimos personalizar esse atendimento, garantindo mais alinhamento e humanização nas relações.”
Para Richard Vinhosa, presidente da EZZE Seguros, o apoio do gestor direto é fundamental no processo de chegada, assim como o suporte de RH e tecnologia. Com quatro vagas a preencher, Vinhosa acaba de contratar o administrador de empresas Wagner Spindola, de 52 anos, como sócio-diretor de transportes. Com mais de 30 anos de carreira, o executivo diz se sentir confortável com o início remoto e acredita que o formato vai ajudar no futuro, quando a rotina voltar ao normal. “Certamente, as possibilidades tecnológicas nos deixarão mais ágeis e flexíveis no dia a dia.”
Expansão. Com 1.450 empregados atualmente trabalhando de casa, a Locaweb, empresa de soluções B2B para transformação digital de negócios, permanece com processo seletivo online aberto para 42 posições.
A última contratação foi de uma especialista em projetos, no período de quarentena. A empresa mantém um programa de integração completo por meio de videoconferência em que apresenta a estrutura para o novo colaborador. “Ele também realiza um game de onboarding (integração) para conhecer mais sobre a empresa, nossa cultura, estrutura de negócios e gestores”, afirma Simony Morais, gerente de gente e gestão.
A Stark Bank, fintech B2B em open banking no Brasil, também está com mais de 20 vagas nas áreas de marketing, vendas, finanças e tecnologia. O recrutamento é realizado por videoconferências e exercícios online.
“Não foi necessário suspender nenhuma vaga, muito pelo contrário”, diz o CEO e fundador, Rafael Stark. “Com a procura das empresas para serem digitais, aumentaram as necessidades de termos mais gente na expansão da operação.”