‘LinkedIn’ da comunidade oferece apoio a diaristas dispensadas
Moradores de favelas criam redes de auxílio para quem não consegue sustento durante a pandemia
Comunidades se organizam em uma rede de solidariedade para tentar colocar comida na mesa, enquanto o auxílio emergencial do governo, de R$ 600, não chega a quem perdeu o trabalho.
Em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, foi criada a campanha “Adote uma diarista” na plataforma digital Emprega Comunidade,
uma espécie de “LinkedIn” da favela. Normalmente, essa rede conecta empresas a candidatos que moram na periferia. Agora tem a função de ajudar diaristas dispensadas do trabalho, a ter alguma renda.
“As diaristas estão desesperadas porque não têm dinheiro para pagar aluguel, fazer compras básicas”, diz Rejane Santos, fundadora do Emprega Comunidade. A intenção é ajudar diaristas por três meses, oferecendo cesta básica, produtos de higiene e bônus de R$ 300. Recursos doados por empresas, pessoas físicas e uma vaquinha virtual bancam a campanha. Mais de mil diaristas se inscreveram e 150 já estão recebendo o benefício.
Eduarda Dantas, de 21 anos, é uma das delas. “Se não fosse isso, a gente não estaria aqui para contar a história.” Com dois filhos pequenos, tirava cerca de R$ 2 mil por mês. Com a pandemia, a patroa americana voltou para os Estados Unidos. As outras duas a dispensaram sem oferecer ajuda. Também dispensada sem apoio, Andréia Neres, de 42 anos, mãe de três filhos, vive com R$ 130 que recebe do Bolsa Família, do programa da comunidade e de doações.
Marmitas. Já Elizandra Cerqueira, da Associação de Mulheres de Paraisópolis e sócia do empreendimento social Mãos de Maria, que além de outras atividades tem um restaurante na comunidade, viu seu negócio ser afetado. Para atender à demanda por alimentos e continuar empregando 20 cozinheiras, ela e a sócia produzem marmitas distribuídas de graça para moradores da favela. “Desde 23 de março já distribuímos 15 mil marmitas e a demanda tem sido maior do que esperávamos.”
Em Heliópolis, também na zona sul, desde a semana passada 64 costureiras produzem máscaras, que serão distribuídas a quem vive na comunidade, com apoio da união de associações dos moradores e bancos.
No Rio, também há ações de distribuição de cestas básicas e produtos de higiene, como a encabeçada por Eliana Sousa Silva na campanha A Maré diz Não ao Coronavírus. Ao menos 6 mil famílias vivem na Maré, zona norte do Rio. “São 140 mil pessoas em uma área de 4,5 km², há dificuldade real de fazer esse distanciamento (social) acontecer.”