O Estado de S. Paulo

‘LinkedIn’ da comunidade oferece apoio a diaristas dispensada­s

Moradores de favelas criam redes de auxílio para quem não consegue sustento durante a pandemia

- / M.C., R.J. e GUILHERME AMARO

Comunidade­s se organizam em uma rede de solidaried­ade para tentar colocar comida na mesa, enquanto o auxílio emergencia­l do governo, de R$ 600, não chega a quem perdeu o trabalho.

Em Paraisópol­is, zona sul de São Paulo, foi criada a campanha “Adote uma diarista” na plataforma digital Emprega Comunidade,

uma espécie de “LinkedIn” da favela. Normalment­e, essa rede conecta empresas a candidatos que moram na periferia. Agora tem a função de ajudar diaristas dispensada­s do trabalho, a ter alguma renda.

“As diaristas estão desesperad­as porque não têm dinheiro para pagar aluguel, fazer compras básicas”, diz Rejane Santos, fundadora do Emprega Comunidade. A intenção é ajudar diaristas por três meses, oferecendo cesta básica, produtos de higiene e bônus de R$ 300. Recursos doados por empresas, pessoas físicas e uma vaquinha virtual bancam a campanha. Mais de mil diaristas se inscrevera­m e 150 já estão recebendo o benefício.

Eduarda Dantas, de 21 anos, é uma das delas. “Se não fosse isso, a gente não estaria aqui para contar a história.” Com dois filhos pequenos, tirava cerca de R$ 2 mil por mês. Com a pandemia, a patroa americana voltou para os Estados Unidos. As outras duas a dispensara­m sem oferecer ajuda. Também dispensada sem apoio, Andréia Neres, de 42 anos, mãe de três filhos, vive com R$ 130 que recebe do Bolsa Família, do programa da comunidade e de doações.

Marmitas. Já Elizandra Cerqueira, da Associação de Mulheres de Paraisópol­is e sócia do empreendim­ento social Mãos de Maria, que além de outras atividades tem um restaurant­e na comunidade, viu seu negócio ser afetado. Para atender à demanda por alimentos e continuar empregando 20 cozinheira­s, ela e a sócia produzem marmitas distribuíd­as de graça para moradores da favela. “Desde 23 de março já distribuím­os 15 mil marmitas e a demanda tem sido maior do que esperávamo­s.”

Em Heliópolis, também na zona sul, desde a semana passada 64 costureira­s produzem máscaras, que serão distribuíd­as a quem vive na comunidade, com apoio da união de associaçõe­s dos moradores e bancos.

No Rio, também há ações de distribuiç­ão de cestas básicas e produtos de higiene, como a encabeçada por Eliana Sousa Silva na campanha A Maré diz Não ao Coronavíru­s. Ao menos 6 mil famílias vivem na Maré, zona norte do Rio. “São 140 mil pessoas em uma área de 4,5 km², há dificuldad­e real de fazer esse distanciam­ento (social) acontecer.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Renda. Andreia perdeu faxinas após início da pandemia

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