Temperatura sobe na fusão de Eneva com AES Tietê
Subiu a temperatura nos bastidores da operação de compra da AES Tietê pela Eneva. Diante da indefinição sobre a convocação da assembleia de acionistas pela administração da Tietê para deliberar sobre a transação, as duas empresas intensificaram a troca de acusações sobre os rumos do negócio, de acordo com fontes a par do assunto. A proposta atual da Eneva, que prevê o pagamento de R$ 6,6 bilhões aos acionistas da AES Tietê, é válida até dia 30 deste mês. Para que continue em vigor, a administração da geradora americana teria de convocar a assembleia de acionistas até a data. Esta semana, em comunicado ao mercado, a Eneva informou aos acionistas da Tietê que poderia prorrogar sua oferta por mais tempo, caso necessário.
» Atraso. Apesar de sinalizar com mais prazo, a Eneva acusa, nos bastidores, a administração da AES Tietê de adiar a convocação da assembleia e adotar atitude protelatória, insistindo na solicitação de mais informações. Muitos delas, alega, de caráter público. O tom é diferente ao adotado semanas atrás, quando a geradora ainda mantinha postura mais cordial sobre o tema.
» Hostil. A AES Tietê, que até então acusava a Eneva de omitir detalhes do que classifica como “oferta hostil”, diz que as informações são necessárias para avaliar um negócio complexo, de modo a preservar o interesse dos acionistas. Além disso, afirma que a Eneva teve um ano para analisar o negócio, ao passo que a administração da Tietê teve pouco mais de um mês para estudá-la.
» 50% + 1. Em que pese o clima de conflito, a Eneva confia no sucesso da operação. Em entrevista recente ao Estadão/Broadcast, o diretor da geradora, Marcelo Habibe, afirmou que a empresa já tem mais de 50% dos votos necessários para aprovar o negócio. A assembleia pode ser convocada por qualquer acionista (ou grupo deles) com mais de 5% das ações da Tietê, como o BNDES e a Eletrobrás. Procurados, Eneva e AES Tietê não se manifestaram. » Vendas. A procura das empresas por liquidez também está impulsionando as operações de crédito à exportação nos bancos. Em meio ao cenário repleto de incertezas, as companhias têm antecipado operações. Para apoiar o segmento, o Banco Central anunciou ontem que dobrou o prazo dos contratos de câmbio relativos ao comércio exterior.
» Custo da pandemia. No entanto, o custo desse crédito – assim como outros – aumentou bastante. Empresas de proteína bovina, por exemplo, que se financiavam por contratos de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) a um custo de CDI mais 1,5% antes da pandemia, estão conseguindo renovar linhas de um ano a CDI mais 6,5%.
» Liquidez. Nos últimos 30 dias, o BB viu o salto de 122% no desembolso das linhas voltadas ao comércio exterior, se comparado ao mesmo período de 2019. Os desembolsos somaram R$ 5,9 bilhõe.
» Festa. O governo quer aproveitar a pandemia do novo coronavírus para rever subsídios embutidos na conta de luz. A conclusão é que a crise econômica evidenciou custos que já deveriam ter sido reavaliados. Somente neste ano, a previsão é que os benefícios atinjam R$ 22 bilhões.
» Na mira. O principal alvo são os descontos a consumidores que compram energia de fontes renováveis, que saltaram de R$ 586 milhões em 2013 para R$ 3,241 bilhões em 2020, o que muitos consideram uma “farra” de arbitragens regulatórias. O governo também está de olho nos subsídios dados aos consumidores rurais e ao carvão mineral.
» Poupado. Já o programa Tarifa Social, destinado à população de baixa renda, ganhou R$ 900 milhões extras do Tesouro e não será cortado. A avaliação é que esse subsídio tem baixo custo, frente aos benefícios à população mais vulnerável.
» Pressa. Lideranças partidárias na Câmara querem votar com urgência o projeto de lei do deputado Hugo Leal (PSD-RJ), que flexibiliza regras dos processos de recuperação judicial na pandemia. O texto também tem medidas emergenciais para evitar que empresas se tornem insolventes no período. Com o requerimento apresentado, agora só depende do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a inclusão do assunto na pauta do plenário.
» Livre. No projeto com alterações temporárias da legislação, o deputado sugere que as obrigações previstas nos planos de recuperação judicial ou extrajudicial já homologados não serão exigíveis do devedor pelo prazo de 120 dias. Nesse período, o juiz não pode decretar a falência em razão do descumprimento do plano.
» Outro. O projeto também autoriza a apresentação de novo plano, no qual poderão ser incluídos créditos posteriores ao pedido de recuperação. Essa e outras flexibilizações só poderão ser acessadas na calamidade, prevista até o fim do ano.