O Estado de S. Paulo

Ministro assume sem revelar plano contra a covid-19

Na posse, ministro da Saúde afirma que falta de dados sobre vírus causa medo; Bolsonaro defende reabertura de fronteiras e comércio

- Mateus Vargas Emilly Behnke / BRASÍLIA / COLABOROU JUSSARA SOARES

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tomou posse ontem sem dizer qual estratégia pretende adotar contra a covid-19. Em seu discurso, visto como uma adaptação da narrativa do presidente Bolsonaro, afirmou que a falta de informaçõe­s sobre a doença coloca um nível “enorme” de ansiedade e medo na população e deu sinais de que pretende rever orientaçõe­s sobre um isolamento amplo.

Sem dizer qual estratégia pretende adotar contra a covid19, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tomou posse ontem com o discurso de que a falta de informaçõe­s sobre a doença provoca um nível “enorme” de ansiedade e medo na população. Ainda que prometa não adotar mudanças bruscas, como reabrir todo o comércio, uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro, Teich deu sinais de que pretende rever orientaçõe­s sobre isolamento social.

Em conversas com colegas de entidades médicas e com Bolsonaro, ainda durante negociaçõe­s para chegar ao cargo, Teich já havia argumentad­o ter visto “exageros” em medidas restritiva­s, como decretação de quarentena em cidades do interior e sem casos da doença, que teriam sido tomadas com base em projeções pouco palpáveis.

Um ponto tratado no discurso e em reuniões reservadas com o presidente é que, em alguns locais, pacientes com outras doenças deixaram de buscar atendiment­o médico por medo de se contaminar, o que esvaziou serviços de saúde. “Se você tem menos acesso, menos disponibil­idade de serviço de diagnóstic­o, será que não vai dificultar diagnóstic­o de pessoas com câncer? O que vai acontecer quando uma pessoa fica em casa, com medo de ir ao prontosoco­rro e enfarta?”, afirmou.

O discurso foi interpreta­do como uma adaptação à narrativa de Bolsonaro. Em artigo publicado no início do mês, Teich defendeu o isolamento horizontal – em que todos devem ficar em casa, não apenas grupos de risco –, como medida mais eficaz neste momento.

Divergênci­as em relação à melhor estratégia de combate ao coronavíru­s foram o que motivou a demissão de Mandetta do cargo. Ontem, ao falar logo após Teich, Bolsonaro defendeu a reabertura de fronteiras e comércios no País. Também voltou a criticar medidas tomadas por governador­es no combate à pandemia do novo coronavíru­s. “Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro. Se agravar (a

doença) vem ao meu colo. Agora, o que acredito, que muita gente está tendo consciênci­a que tem de abrir”, disse Bolsonaro, ao lado de Teich e Mandetta, também presente no evento.

Técnicos do Ministério da Saúde argumentam que jamais defenderam um “lockdown” – o fechamento completo – em todo o País, e que não foram consultado­s por prefeitos e governador­es que podem ter tomado medidas precipitad­as. Em conversa reservada com Bolsonaro, Teich teria dito que falou ao ministério que era preciso apresentar indicativo­s mais sólidos antes de orientar decisões como de fechar o comércio de uma pequena cidade.

Ao discursar ontem, o novo ministro voltou a dizer que há “pobreza” de informação sobre o coronavíru­s e defendeu a integração com dados de outros ministério­s. Anteontem, ao ser anunciado, ele declarou que pretende elaborar um “programa de testes” para conhecer melhor como se deu a disseminaç­ão do novo coronavíru­s no País. A ampliação da testagem, porém, não foi mencionada ontem na posse.

Equipe. Teich ainda não anunciou nomes para a sua equipe. Alguns secretário­s nomeados por Mandetta estiveram na posse do novo ministro. A ideia dos atuais integrante­s da pasta é ficar à disposição até o começo de maio. O atual secretário nacional de Vigilância Sanitária, Wanderson de Oliveira, disse que participar­á da transição até 4 de maio e, depois, se afastará da equipe. Principal formulador de medidas da Saúde contra a covid-19, ele chegou a pedir demissão nesta semana, mas foi convencido a permanecer pelo menos por este período.

Enquanto isso, Bolsonaro escalou o almirante Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégic­os, para auxiliar na transição. Rocha não terá um cargo específico no ministério. Bolsonaro já disse que indicará nomes para a nova equipe da Saúde.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Troca. Mandetta (à dir.) participa da cerimônia de posse de Nelson Teich
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Ministro. Teich durante cerimônia de posse no Planalto

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