O Estado de S. Paulo

ASTROS DA MÚSICA EM MEGALIVES

Roberto Carlos festeja 79 anos com uma surpreende­nte live tocando piano e fora da época de seus especiais natalinos

- Julio Maria

Roberto Carlos comemora 79 anos com show amanhã em seu canal do YouTube. Ídolos do rock tocam hoje.

Sinal definitivo dos tempos, Roberto Carlos, encorajado pela operação das superlives sertanejas das últimas semanas, vai fazer a sua. A primeira live produzida de um artista clássico da MPB será neste domingo (19), às 19h45, no dia em que ele chega aos 79 anos de idade. O show terá as duas primeiras músicas exibidas pela Globo, casa com a qual Roberto tem contrato desde 1974, quando foi ao ar seu primeiro especial de fim de ano, e, depois, seguirá pelo seu canal oficial no YouTube (YouTube.com/RobertoCar­losOficial) e pelo Globoplay.

Será um raro momento em que Roberto terá um projeto de TV fora de sua tradiciona­l temporada natalina. O show que está sendo pensado por ele e pelo maestro Eduardo Lages desde a última quarta (15) vai contar com cerca de dez músicas e caber, ao contrário das maratonas sertanejas com até cinco horas de duração, em 45 minutos. As músicas escolhidas, segundo pessoas de sua produção, podem trazer surpresas. Roberto cogitou escolher algumas que canta raramente em seus shows. Outra surpresa será vê-lo ao piano mais do que o comum para fazer o próprio acompanham­ento. Mantendo uma distância segura dentro do estúdio, só estarão com ele Lages e seu tecladista Tutuca Borba.

Com o envolvimen­to da Globo no projeto, os cuidados para se evitar contaminaç­ões foram reforçados. Haverá poucas pessoas no estúdio, o mínimo para o programa ser feito, e o próprio cantor escreveu pedindo para que fãs não o procurem na porta de seu prédio. “Agradeço a compreensã­o, e reforço que isso é para o nosso bem.” O estúdio montado por ele fica em um endereço na Urca, no Rio, a 800 metros de seu prédio. Trata-se de um antigo convento que Roberto comprou e adaptou, erguendo o estúdio na área externa e mantendo sala, quarto, cozinha e outras dependênci­as da construção antiga.

Roberto Carlos também não deve falar sobre arrecadaçõ­es para ajudar o combate da pandemia, algo que se tornou uma bandeira nas grandes lives mundiais. A Globo talvez entre com a parte das arrecadaçõ­es, mas o artista tem uma postura clara com relação a ajudar o próximo, como diz sua assessoria de imprensa. Ele destina grandes quantias por mês a pessoas físicas e coletivos assistenci­ais, mas pede para que jamais divulguem suas ações. Acredita que o bem deve ser feito anonimamen­te e sem interesses midiáticos.

O confinamen­to tem colocado cada vez mais artistas estabeleci­dos diante das câmeras de celular para shows virtuais, uma frente considerad­a há bem pouco tempo apenas recreativa e amadora. Uma roda então começa a girar em meio à estagnação mundial, com empresas começando a se especializ­ar em lives, equipament­os específico­s evoluindo (as gigantes dos celulares não devem estar dormindo neste momento), potenciais anunciante­s se atrelando a nomes sobretudo de massa (cabe aos pequenos pensar em projetos como festivais, para atrai-los com mais facilidade) e até críticos, jornalista­s ou não, se especializ­ando em resenhar lives com retornos astronômic­os de audiência. Ao mesmo tempo, vem o ônus. “E quem paga a conta?”, pergunta Paula Lavigne.

Ao pensar em uma live ainda

sem data para ser realizada, com Caetano Veloso e outros artistas do Procure Saber, do qual Roberto já fez para defender as restrições na publicação de biografias e depois saiu, Paula sabe que tudo o que dá certo não pode trazer só lucros. “Como devem ficar os direitos autorais?” Por ser algo tão novo, ninguém ainda pensou que, um dia, pode ser cobrado pelo Ecad (o escritório de arrecadaçã­o e distribuiç­ão desses direitos) por veicular músicas de terceiros mesmo dentro de suas salas. Antes das lives, essa prática era protegida e poupada da lei por ser de natureza doméstica. Mas, no momento em que até Roberto Carlos, em quarentena há pelo menos 20 anos, abre sua natureza doméstica para o mundo, o leão dos direitos autorais afia as garras.

Roberto sai na frente de uma geração que não dá sinais de boa vontade com as lives até aqui. Caetano vai fazer, mas algo apenas colaborati­vo, com outros artistas. Gil, Chico, Gal, Milton... Ainda nenhum se manifestou. Simone, que não chegava perto de redes sociais há poucos dias, se empolgou e fará agora, ao que tudo indica, uma live por semana. Depois da primeira no domingo passado, ela anunciou nesta sexta (17) a próxima para as 18h de domingo (19), usando o conceito do playback. E olha ele de volta aí, mais uma vez, graças a quem? Às lives.

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ESTEVAM AVELLAR/GLOBO Do palco para o estúdio. Roberto vai cantar cerca de dez canções em 45 minutos
 ?? EDUARDO NICOLAU / ESTADÃO ?? Paul. Uma das primeiras atrações a atender ao chamado de Lady Gaga para a live estelar
EDUARDO NICOLAU / ESTADÃO Paul. Uma das primeiras atrações a atender ao chamado de Lady Gaga para a live estelar

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