O Estado de S. Paulo

Bolsonaro mostra pouco apreço pelo Congresso

- Gabriela Lotta e Marco Antonio Teixeira PROFESSORE­S DE ADMINISTRA­ÇÃO PÚBLICA DA FGV-SP

Por essência, o Poder Legislativ­o é a casa do povo. Por isso, governos e parlamenta­res negociam sempre na perspectiv­a de achar um ponto de convergênc­ia, e essa é a razão de os governos valorizare­m a relação com o Legislativ­o e sempre escolherem seus melhores quadro da base de apoio político para negociarem seus interesses.

Entretanto, desde que assumiu a presidênci­a, Jair Bolsonaro não mostrou muito apreço pelas relações políticas com o Congresso. À revelia da tradição do presidenci­alismo de coalizão, optou por formar uma base com grupos de interesse colocando como protagonis­tas pessoas com pouca experiênci­a política e, muitas delas, com baixa interlocuç­ão junto a lideranças no Congresso.

Não se pode culpar o Congresso pela falta de governabil­idade, já que os poucos projetos aprovados nesta gestão, como a reforma da Previdênci­a, se devem à atuação pessoal de Rodrigo Maia e outros líderes que assumiram a lacuna deixada pelo governo.

A briga mais recente vociferada pelo presidente contra Maia é mais uma etapa deste processo. Poucos instantes depois de tirar da frente o “inimigo imaginário” Mandetta, Bolsonaro já volta a mobilizar a sua artilharia contra o presidente do Câmara. Neste processo, perdemos todos. Descartou-se um ministro da Saúde em meio a uma pandemia. Perdemos a habilidade de negociação política, que é essencial do processo civilizató­rio. Perdemos a capacidade de construir consensos e diminuir desavenças, que são elementos fundamenta­is de uma democracia. Perdemos enquanto país. Perdemos enquanto sociedade.

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