O Estado de S. Paulo

CPI identifica bolsonaris­ta em rede de ataque a políticos

Estudante de Medicina controla perfil nas redes que critica adversário­s do presidente e incentiva atos pró-governo

- Felipe Frazão Patrik Camporez / BRASÍLIA

As quebras de sigilos aprovadas pela Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) das Fake News permitiram identifica­r quem são os responsáve­is por operar dois dos perfis suspeitos de integrar uma rede de ataques virtuais a políticos. Com base em dados enviados ao Congresso pelo Facebook, o Estado localizou duas pessoas, em São Paulo e em Minas Gerais, que entraram na mira do colegiado. Elas alimentam perfis com os codinomes “Presidente­BolsonaroB­R – Mito do Brasil” e “Conservado­r Liberal”, ambos com mais de 100 mil seguidores.

O “Conservado­r Liberal” pertence a Webert Florêncio, de 25 anos, morador de Ipatinga (MG), um militante de direita. Evangélico e estudante de Medicina, Florêncio passou a apoiar Bolsonaro em 2016 e fez parte de grupos como o “Direita Minas”. Hoje é entusiasta do partido bolsonaris­ta em gestação, o Aliança pelo Brasil. Na eleição de 2014, fez campanha para Aécio Neves (PSDB). A Justiça Eleitoral não registra filiação partidária dele.

À reportagem, Florêncio disse que jamais ocupou cargos comissiona­dos ou recebeu dinheiro para manter as páginas.

Além do Instagram, onde possui 120 mil seguidores, o estudante administra mais três páginas no Facebook, todas com uma fotografia de Margaret Tatcher, a ex-premiê britânica conhecida como “Dama de Ferro”. Uma delas é uma página oficial do Conservado­r Liberal, além de um grupo público e as páginas de notícias “Conservado­r Liberal News” e de sátiras “Conservado­r Liberal em Memes”. São mais de 208 mil pessoas atingidas.

As páginas dele reproduzem ofensas a adversário­s políticos de Bolsonaro, como deputados do PSOL, e incentivos a manifestaç­ões pró-governo e contrárias ao Congresso e ao STF. Ele escreveu “chega de chantagem” e reproduziu o palavrão dito pelo ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal) contra os demais poderes: “Foda-se”. Nos últimos dias, fez coro às críticas ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta a forma de reação à pandemia do novo coronavíru­s. Apesar disso, Florêncio diz que apenas compartilh­a notícias e opiniões, sem difamar nas redes.

“A CPI é uma maneira de tentar calar, mas não adianta porque se eu parar outros vão falar. A rede social levou o povo para perto dos políticos, e a cobrança incomoda. Político tem que saber ouvir crítica em vez de processar”, disse o estudante.

A conta “Mito do Brasil” no Instagram é vinculada a um telefone e e-mail de Mariana Aparecida Rosa de Campos, de 39 anos, moradora de Osasco (SP). Ela é responsáve­l por abastecer de conteúdo o perfil, que retrata o dia a dia do presidente e família. O alcance é de 168 mil pessoas. O Estado telefonou para Mariana, mas ela não atendeu as chamadas. Segundo dados do TSE, ela não possui filiação partidária.

Filho do presidente. Os dados que levaram à identifica­ção de Florêncio e Mariana chegaram à CPI em março, numa leva que também possibilit­ou aos investigad­ores estabelece­r elo direto com o clã presidenci­al. A conta “Bolso_Feios” foi criada em Brasília por Eduardo Guimarães, assessor parlamenta­r do deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), filho do presidente. Ele alega que o perfil era apenas uma sátira à família, sem divulgar ataques a adversário­s políticos, o que contraria registros de publicaçõe­s ofensivas da página.

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MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO Fake News. Sessão da CPI no Senado, em março; parlamenta­res investigam perfis na internet

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