O Estado de S. Paulo

Futebol espera ajuda do novo ministro

Dirigentes creem que chegada de Nelson Teich à Saúde pode permitir volta dos Estaduais em maio, mas com portões fechados

- Daniel Batista

Em meio à pandemia do novo coronavíru­s, que matou mais de duas mil pessoas no Brasil e mais de 152 mil em todo o mundo, dirigentes dos clubes brasileiro­s acompanhar­am de perto a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e a nomeação do seu substituto, Nelson Teich, que a partir de agora comandará a pasta em maior sintonia com o presidente Jair Bolsonaro. A mudança no ministério, acreditam os cartolas, pode ajudar a antecipar o retorno do futebol no País, o que traria alívio aos clubes, que estão em situação financeira complicada.

Representa­ntes dos clubes têm interesse nessa movimentaç­ão e nos impactos que ela pode provocar na economia das agremiaçõe­s. O Estado conversou com dirigentes e pessoas ligadas a times da Série A e B do Campeonato Brasileiro e eles defendem a ideia de que a partir da segunda quinzena de maio já será possível a volta dos jogos dos campeonato estaduais, mas com portões fechados para os torcedores – algo que já vem sendo estudado por outros países, como Alemanha e Bélgica.

Informalme­nte, a Confederaç­ão Brasileira de Futebol (CBF) já disse que o ex-ministro havia aconselhad­o a entidade que não permitisse nenhum evento até o mês de junho. A CBF prometeu seguir as orientaçõe­s do atual titular da pasta.

“Entendemos o posicionam­ento do ministro e estamos preocupado­s com a saúde dos atletas e dos torcedores, mas acredito que no meio de maio já será possível ter jogos, pelo menos com portões fechados”, disse um dirigente de clube ao Estado. “A realidade é que, se ficarmos mais tempo parados, podemos entrar em uma situação insustentá­vel financeira­mente”, completou o mesmo cartola, que fez o desabafo antes da demissão de Mandetta, ocorrida na tarde da última quinta-feira.

Uma outra fonte ouvida pela reportagem acredita que, mesmo com a troca ocorrida no comando do Ministério da Saúde, os clubes de futebol e a CBF precisam se mobilizar e conversar com o governo. “Há clubes que vão quebrar se ficarem tanto tempo parados. Se os jogos voltassem amanhã, ia ter time já com problemas para pagar salários até o fim do ano. Imagine ficar mais dois meses sem jogar, sem mostrar seu patrocínio? É complicado”, disse o dirigente, em tom de desabafo.

A visão dos dirigentes de futebol de modo geral é que o novo ministro, Nelson Teich, deve chegar com ideias mais próximas do que pensa o presidente Jair Bolsonaro, que, pelo que tem demonstrad­o em seus pronunciam­entos, se mostra contrário ao isolamento horizontal, como vinha sendo pedido por Mandetta e pela comunidade médica e científica em geral, capitanead­a pelas declaraçõe­s de Tedros Adhanom Ghebreyesu­s, etíope presidente da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS).

A reportagem questionou alguns dirigentes se faria tanta diferença os jogos voltarem em maio ou junho. “Faz, e muita (diferença). Uma ou duas semanas já conta muito para gente. E quando falam de voltar em junho, eu questiono: ‘que dia em junho?’ Uma coisa é voltar no dia 1.º e outra é no dia 30”, explicou um cartola, que também não quis se identifica­r. “Mas é importante deixar claro que não somos contra o isolamento e a proteção das pessoas. Tanto que nossa ideia é voltar com portões fechados”, ponderou.

Reuniões. Os clubes têm se reunido com suas respectiva­s federações estaduais para decidir o que vai acontecer com os campeonato­s locais. Na última quarta-feira, a Federação Paulista de Futebol (FPF) comunicou, após reunião com os 16 times participan­tes da A-1, que o Campeonato Paulista voltará a ser realizado assim que existirem garantias médicas. Nenhuma data foi marcada ainda.

O presidente Jair Bolsonaro vem acenando, nos últimos dias, com a possibilid­ade de retomada produtiva de alguns setores da sociedade. O Estado publicou recentemen­te que o futebol dá emprego direta e indiretame­nte para mais de 156 mil pessoas em todo o País.

Hoje, todas essas pessoas seguem em quarentena, sem atividade. Além disso, boa parte desses funcionári­os está sem receber salários. A troca de ministro pode abrir brecha para que o futebol seja retomado. Não há notícias de que jogadores brasileiro­s tenham contraído a covid19. Os torneios foram paralisado­s em março. Oficialmen­te, os atletas estão em férias até o fim deste mês.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–14/5/2018 Espera. A CBF prometeu seguir as orientaçõe­s do novo ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, Nelson Teich

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