Futebol espera ajuda do novo ministro
Dirigentes creem que chegada de Nelson Teich à Saúde pode permitir volta dos Estaduais em maio, mas com portões fechados
Em meio à pandemia do novo coronavírus, que matou mais de duas mil pessoas no Brasil e mais de 152 mil em todo o mundo, dirigentes dos clubes brasileiros acompanharam de perto a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e a nomeação do seu substituto, Nelson Teich, que a partir de agora comandará a pasta em maior sintonia com o presidente Jair Bolsonaro. A mudança no ministério, acreditam os cartolas, pode ajudar a antecipar o retorno do futebol no País, o que traria alívio aos clubes, que estão em situação financeira complicada.
Representantes dos clubes têm interesse nessa movimentação e nos impactos que ela pode provocar na economia das agremiações. O Estado conversou com dirigentes e pessoas ligadas a times da Série A e B do Campeonato Brasileiro e eles defendem a ideia de que a partir da segunda quinzena de maio já será possível a volta dos jogos dos campeonato estaduais, mas com portões fechados para os torcedores – algo que já vem sendo estudado por outros países, como Alemanha e Bélgica.
Informalmente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já disse que o ex-ministro havia aconselhado a entidade que não permitisse nenhum evento até o mês de junho. A CBF prometeu seguir as orientações do atual titular da pasta.
“Entendemos o posicionamento do ministro e estamos preocupados com a saúde dos atletas e dos torcedores, mas acredito que no meio de maio já será possível ter jogos, pelo menos com portões fechados”, disse um dirigente de clube ao Estado. “A realidade é que, se ficarmos mais tempo parados, podemos entrar em uma situação insustentável financeiramente”, completou o mesmo cartola, que fez o desabafo antes da demissão de Mandetta, ocorrida na tarde da última quinta-feira.
Uma outra fonte ouvida pela reportagem acredita que, mesmo com a troca ocorrida no comando do Ministério da Saúde, os clubes de futebol e a CBF precisam se mobilizar e conversar com o governo. “Há clubes que vão quebrar se ficarem tanto tempo parados. Se os jogos voltassem amanhã, ia ter time já com problemas para pagar salários até o fim do ano. Imagine ficar mais dois meses sem jogar, sem mostrar seu patrocínio? É complicado”, disse o dirigente, em tom de desabafo.
A visão dos dirigentes de futebol de modo geral é que o novo ministro, Nelson Teich, deve chegar com ideias mais próximas do que pensa o presidente Jair Bolsonaro, que, pelo que tem demonstrado em seus pronunciamentos, se mostra contrário ao isolamento horizontal, como vinha sendo pedido por Mandetta e pela comunidade médica e científica em geral, capitaneada pelas declarações de Tedros Adhanom Ghebreyesus, etíope presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A reportagem questionou alguns dirigentes se faria tanta diferença os jogos voltarem em maio ou junho. “Faz, e muita (diferença). Uma ou duas semanas já conta muito para gente. E quando falam de voltar em junho, eu questiono: ‘que dia em junho?’ Uma coisa é voltar no dia 1.º e outra é no dia 30”, explicou um cartola, que também não quis se identificar. “Mas é importante deixar claro que não somos contra o isolamento e a proteção das pessoas. Tanto que nossa ideia é voltar com portões fechados”, ponderou.
Reuniões. Os clubes têm se reunido com suas respectivas federações estaduais para decidir o que vai acontecer com os campeonatos locais. Na última quarta-feira, a Federação Paulista de Futebol (FPF) comunicou, após reunião com os 16 times participantes da A-1, que o Campeonato Paulista voltará a ser realizado assim que existirem garantias médicas. Nenhuma data foi marcada ainda.
O presidente Jair Bolsonaro vem acenando, nos últimos dias, com a possibilidade de retomada produtiva de alguns setores da sociedade. O Estado publicou recentemente que o futebol dá emprego direta e indiretamente para mais de 156 mil pessoas em todo o País.
Hoje, todas essas pessoas seguem em quarentena, sem atividade. Além disso, boa parte desses funcionários está sem receber salários. A troca de ministro pode abrir brecha para que o futebol seja retomado. Não há notícias de que jogadores brasileiros tenham contraído a covid19. Os torneios foram paralisados em março. Oficialmente, os atletas estão em férias até o fim deste mês.