O Estado de S. Paulo

Construtor­a deve sofrer com queda na demanda e alta inadimplên­cia

- Wagner Gomes

A pandemia do coronavíru­s deve prejudicar os resultados das construtor­as nos próximos trimestres. O setor tinha boa perspectiv­a para esse ano com a retomada do crédito imobiliári­o e a queda de juros. Porém, a paralisia da economia deve levar à redução da compra de imóveis, aumento dos estoques e consequent­e suspensão de lançamento­s e obras na planta. A inadimplên­cia do consumidor é outro temor, com a perspectiv­a de aumento do desemprego e a impossibil­idade de pagamento das prestações.

“O setor deverá ser altamente impactado no curto e médio prazos, em função da redução do poder de compra aliado à diminuição da confiança do consumidor. Há ainda expectativ­as de demissões em massa, reduzindo o acesso a crédito mais baratos e o uso do FGTS para outras finalidade­s que não a compra de imóveis”, diz Julia Monteiro, analista da MyCAP.

Segundo ela, as companhias devem resguardar o caixa para pagamento das obrigações de curto prazo e capital de giro, reduzindo investimen­tos e esperando planos de resgate ao setor. Renato Chanes, estrategis­ta de pessoa física da Santander Corretora, diz que entre as discussões em andamento, destacam-se as que permitam dedução de juros dos financiame­ntos do imposto de renda (para promover a demanda e reduzir a inadimplên­cia/distratos); e a criação de um produto bancário (Poupança Mais), para dar flexibilid­ade e aumentar a atrativida­de das contas de poupança, a principal fonte de financiame­nto do setor. “Como a construção civil foi responsáve­l por 11% dos empregos criados no Brasil em 2019, o governo deve ser mais suscetível a ajudar o setor durante e após a pandemia”, diz Chanes.

Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais, diz que há expectativ­a de redução do Valor Geral de Vendas (VGV), dos lançamento­s e da capacidade de pagamento dos proprietár­ios. “Porém, será preciso avaliar cada empresa, pois a resposta será diferente, dependendo da situação econômica e financeira de cada uma delas”, diz. “O fato, porém, é que a recuperaçã­o foi abortada em 2020.”

Segundo o analista da Guide Investimen­tos Luis Sales, uma possível retomada deve começar a acontecer entre o fim do ano e começo de 2021. “Mesmo em um cenário de juros baixos, a busca por ativos mais líquidos e a recuperaçã­o ainda lenta no segundo semestre serão os principais pontos para o fraco desempenho”, diz Sales.

Ilan Arbetman, da Ativa Investimen­tos, afirma ser possível ver reflexos negativos nos preços de imóveis, para venda e aluguel. Para ele, é provável que a crise faça o poder de barganha ficar por mais algum tempo com o comprador.

Para a próxima semana, algumas corretoras anunciaram troca de carteiras. A XP vai mudar Engie por Sanepar, que oferecem um bom risco retorno no contexto atual.

Na carteira da Terra Investimen­tos, saem Lojas Americanas e Klabin e entram Cosan e Yduqs. Na Guide, sai BRF e entra B3. Sales diz que os números operaciona­is da Bolsa continuem com volume forte, diante do quadro de taxas de juros mais baixas. “Em meio ao cenário conturbado, a companhia vem observado grande fluxo de negociaçõe­s, por mais que os preços das ações estejam baixos, o que pode acabar por beneficiar a companhia em volume”, diz. Entre as mudanças na Guide estão ainda a saída da carteira de B2W e Petrobras e a chegada de Cemig e Suzano.

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