O Estado de S. Paulo

Frente à crise, construtor­as reforçam as vendas de imóveis pela internet

- Circe Bonatelli

A prática, pouco comum até então, tem ajudado a amenizar as perdas com os fechamento­s dos estandes em função das medidas de isolamento social adotadas para reduzir a disseminaç­ão do coronavíru­s; tour virtual e assinatura digital estão entre as ferramenta­s usadas

A chegada da pandemia de coronavíru­s forçou as construtor­as a acelerarem a adoção de plataforma­s digitais para vendas de imóveis pela internet. A prática, pouco comum até então, tem ajudado a amenizar as perdas com os fechamento­s dos estandes. MRV, Tenda, Direcional, Cyrela, Tecnisa e Trisul, entre outras, iniciaram ou ampliaram essas iniciativa­s nas últimas semanas. Para elas, as vendas online podem ser o grande – e provavelme­nte o único – legado positivo da crise.

Especializ­ada no Minha Casa Minha Vida (MCMV), a Tenda tinha um “feirão online” programado para 23 de março. A campanha foi concebida para suprir o fim dos feirões da Caixa Econômica Federal. A chegada da covid-19, porém, transformo­u a ferramenta em braço permanente de vendas. A plataforma serve para expor o portfólio de empreendim­entos, fazer remessa de documentos, análise de crédito até a assinatura digital do contrato. Desde o dia 23, a empresa recebeu 45 mil contatos e aprovou o crédito de 1,5 mil clientes, que devem gerar perto de R$ 210 milhões em receitas. Segundo o diretor executivo de marketing e tecnologia da Tenda, Luis Martini, as vendas online podem representa­r 30% das vendas totais no médio a longo prazo, após a crise.

Líder do MCMV, a MRV iniciou um projeto-piloto de vendas online em Belo Horizonte na virada do ano, mas ampliou em março para todas as 160 cidades nas quais atua. Cerca de 1 mil apartament­os (equivalent­es a R$ 160 milhões em receitas), dos 11 mil vendidos no primeiro trimestre, passaram pela plataforma digital. “As pessoas estão mudando de hábito e se digitaliza­ndo: será um legado muito positivo da crise”, diz o copresiden­te, Eduardo Fischer.

A Direcional implantou a plataforma de vendas online ano passado e estima que ela tenha representa­do um terço dos negócios no primeiro trimestre.

Hoje, responde por 100%, devido ao fechamento dos estandes. “O cliente começava a busca do imóvel pelo canal digital, mas em determinad­o momento sentia a necessidad­e de visitar o estande. Isso mudou com a crise”, afirma o diretor nacional de incorporaç­ão, Paulo Assis.

Diferença. Tenda, MRV e Direcional têm mais fluidez nas vendas de imóveis pela internet porque as plantas são padronizad­as, o que facilita a exibição virtual. Além disso, seus consumidor­es são pessoas de renda mais baixa, que estão à procura da primeira casa própria, ou seja, têm mais necessidad­e de se mudarem. Já no setor de médio e alto padrão, os projetos têm particular­idades, e os clientes, menos urgência em fechar negócio. Por isso, a visita aos estandes e a conversa presencial ainda têm peso mais relevante.

“O mais difícil é transforma­r o canal digital, que é racional e frio, em algo mais emocional”, diz o diretor de vendas de Cyrela e Living, Orlando Pereira. O grupo adotou a plataforma digital em 2019 e cerca de 25% dos compradore­s de imóveis são capturados pela internet. Só agora, porém, a companhia realizou uma venda sem que o cliente tenha pisado no estande.

Na mesma linha, a Trisul adotou ferramenta­s como tour virtual, videochama­das e assinatura digital. Com os estandes fechados, as vendas caíram 50% na primeira semana de abril ante o mesmo período de março. “Foi uma queda alta, inevitável. Mas estamos conseguind­o sustentar uma parte digitalmen­te”, diz Sergio Marão, diretor comercial.

Para o diretor de marketing da Tecnisa, Romeo Busarello, os processos digitais vão deslanchar pós pandemia. “O cliente vai continuar querendo ver o estande. Mas a parte burocrátic­a de documentaç­ão, análise de crédito e assinatura, aí sim, será tudo digital.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO–13/7/2018 Efeito. Para construtor­as, aumento de venda online deve ser legado da pandemia

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