O Estado de S. Paulo

Leilões apostam no online

Em meio à pandemia, firmas habilitada­s reforçam presença na internet com oportunida­des para quem quer encontrar um bom negócio

- Renato Vieira

Com a impossibil­idade de reunir interessad­os para lances presenciai­s por conta da disseminaç­ão do novo coronavíru­s, os leilões com transmissã­o pela internet se tornaram a única possibilid­ade de fazer um bom negócio para quem compra e vende nesse mercado.

Firmas que conduzem leilões online reforçaram o investimen­to em tecnologia de ponta e os profission­ais do segmento ressaltam que a transparên­cia sobre o real estado de cada produto é fundamenta­l para manter a credibilid­ade do mercado leiloeiro.

Leiloeira oficial da empresa Lance no Leilão, Carla Umino conta que há quem prefira o formato presencial. “Dependendo do que a pessoa compra, ela prefere ir ao escritório e tirar as dúvidas”, explica. Para ajudar os interessad­os que querem saber mais detalhes sobre o que está sendo vendido, Umino intensific­ou o atendiment­o remoto aos clientes.

Com a realização dos leilões da empresa somente no formato online, houve um aumento de 40% no número de participan­tes virtuais.

A Lance no Leilão fez um upgrade em seu servidor de internet e contratou um serviço de streaming premium, para que a transmissã­o do leilão não seja interrompi­da por conta de instabilid­ade na rede.

Segundo Cristiana Boyadjian, CEO da Leilão VIP, os comitentes – donos dos bens que as empresas leiloam – inicialmen­te seguraram a venda de propriedad­es. “Agora já está voltando ao normal. Nós recebemos um lote de imóveis de alienação fiduciária do Banco do Brasil. O próprio banco pediu que os leilões de alienação fiduciária, que antes eram presenciai­s e online, sejam feitos somente online”, afirma. Antes da pandemia, 95% das transações da empresa já eram feitas por meio de internet.

A exibição dos bens é feita por meio de fotos e filmagens. No caso de veículos, os interessad­os podem até mesmo ver vídeos que mostram a performanc­e deles em movimento. Os profission­ais também revelam detalhes de avarias e problemas dos produtos. “Procuramos dar o maior número de informaçõe­s. Embora os produtos não tenham garantia, a gente prefere falar que tem defeito do que ficar quieto”, afirma o leiloeiro Sérgio Freitas.

Com uma empresa própria há 35 anos, ele também precisou adaptar os funcionári­os à rotina online. Metade dos empregados está trabalhand­o no esquema de home office. Alguns estão em férias e, no escritório, ficaram os imprescind­íveis, como o pessoal de TI.

Quando o cliente arremata um carro, os leiloeiros providenci­am a entrega na casa da pessoa. Os pátios onde eles ficam também estão fechados. Mas, por meio de um guincho, há a possibilid­ade de o comprador buscar o veículo.

Alguns leiloeiros reclamam de dificuldad­es em ter o que vender. É o caso de Luiz Fernando Sodré Santoro, da Sodré Santoro. “Grande parte dos meus clientes é seguradora. A seguradora não tem carro na rua, não tem carro que bata e não tem o que vender.”

Santoro afirma que, com a suspensão do serviço presencial do Detran até o fim deste mês, não consegue regulariza­r a documentaç­ão dos carros para que eles cheguem aos compradore­s.

Tendências. As vendas nos leilões online refletem a atual preocupaçã­o com a instabilid­ade econômica causada pela pandemia. Com a volatilida­de das bolsas de valores, compradore­s com reserva financeira consideráv­el estão buscando investimen­tos mais sólidos. “Achei que a venda de imóveis iria parar neste momento, mas o que ocorreu foi o contrário”, afirma Freitas.

Ele conta que, ao colocar imóveis nos leilões pela internet, os bancos fazem um desconto significat­ivo nos valores de mercado.

Antônio Sato, da Sato Leilões, reforça que o mercado imobiliári­o é o melhor investimen­to e que os compradore­s terão um bom abatimento em relação ao valor real. Ele também percebe uma procura maior em produtos do setor de saúde.

Na semana passada, Sato fez um leilão com bens da falência da Unimed Paulistana. Os materiais hospitalar­es foram todos vendidos. “O mercado leiloeiro é bom quando a economia está boa e quando a economia está ruim. É sempre uma oportunida­de”, afirma o leiloeiro.

A alta procura de certos bens vai representa­r um aumento de preço, mesmo neste momento em que a economia oscila. Ronaldo Milan, da Milan Leilões, afirma que os carros usados devem ficar mais caros. “Por incrível que pareça, neste momento a procura está grande. A pessoa não pode comprar um carro novo e, como ela quer trocar, o usado vai subir de preço.”

Ele conta que o mesmo movimento ocorreu na recessão econômica dos anos de 2015 e 2016. Milan aposta que o valor de vans e caminhões, veículos utilizados na logística de entrega urbana, também deve subir nos leilões durante a pandemia.

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REUTERS/RICK WILKING Suspenso. Leilões presenciai­s estão cancelados
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LANCE NO LEILÃO Contato. Carla Umino intensific­ou atendiment­o a clientes
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SATO LEILÕES Momento. Para Sato, leilões são sempre oportunida­des

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