O Estado de S. Paulo

TERAPIA E FANTASIA SÃO OS GRANDES SEGREDOS

Séries ‘Grey’s Anatomy’ e ‘Station 19’, criadas por Shonda Rhimes, têm agora todos os seus crossovers exibidos este mês no Brasil

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO

Dizer que Krista Vernoff é uma das mulheres mais poderosas da televisão americana não é exagero. Ela é showrunner (a produtora responsáve­l pela coordenaçã­o dos roteirista­s e rumos da história, entre outras coisas) de duas séries. E não quaisquer duas, mas Grey’s Anatomy, que está em sua 16ª temporada, e seu spin-off Station 19,

em seu terceiro ano. Ambas são exibidas no Sony Channel, às terças, às 21h e 21h55, respectiva­mente – o canal está apresentan­do todos os crossovers das duas séries em abril. “Comandar duas séries tem sido um grande desafio, mas muito empolgante”, disse Vernoff em entrevista em Los Angeles com a participaç­ão do Estado. “Trabalho como roteirista e produtora faz 20 anos, então estava pronta, mas não é nada parecido com o que eu tinha vivido antes.”

Ela admitiu, porém, que deu um medinho. Afinal, Vernoff estava assumindo as séries com assinatura da Shondaland, o império de entretenim­ento de Shonda Rhimes, criadora de Grey’s Anatomy. Rhimes assinou um contrato de US$ 150 milhões (cerca de R$ 746 milhões) com a Netflix em 2017, que deve dar seus primeiros frutos neste ano, e deixou suas séries no canal americano ABC nas mãos de outras pessoas. “Mas eu acho que tudo que vale a pena dá um pouco de medo”, afirmou Vernoff. “E eu sabia que, se Shonda tinha me oferecido as rédeas de Grey’s Anatomy, ela tinha fé em mim. Foi um grande voto de confiança dela, sem dúvida. Me senti elogiada sabendo que tinha seu apoio.”

O primeiro episódio da terceira temporada de Station 19

que será reexibido no dia 28, é um crossover que envolve médicos do hospital Grey Sloan depois que um carro invade o Joe’s Bar, ponto de encontro dos bombeiros e médicos. Ben (Jason George) e Pruitt (Miguel Sandoval) se juntam aos doutores Jackson (Jesse Williams), Levi (Jake Borelli) e Nico (Alex Landi) para ajudar os feridos dentro do bar, que incluem vários residentes do hospital, enquanto outros bombeiros atuam do lado de fora. Logo na sequência, é exibido o décimo episódio da 16ª temporada de Grey’s Anatomy, em que a ação se transfere para o Grey Sloan, onde as vítimas vão ser cuidadas. Lembrando que Grey’s Anatomy se prepara para a despedida de Justin Chambers, o Dr. Alex Karev, um dos poucos remanescen­tes do elenco original, no 16º episódio, já exibido nos Estados Unidos. A série, no entanto, não vai ter um final de temporada tradiciona­l, já que as gravações foram interrompi­das por causa da covid-19. O último episódio da 16ª temporada é o 21º, quatro a menos do que o planejado.

Para se inspirar, Krista Vernoff lê tudo sobre casos médicos e ações de bombeiros.

“Eu me tornei hipocondrí­aca quando trabalhava nas primeiras temporadas de Grey’s Anatomy porque lia cada artigo sobre tudo o que dava errado. Tive um parto natural que durou 26 horas porque estava com medo da anestesia peridural, tinha lido muitos artigos sobre peridurais que haviam terminado mal”, disse ela. “Então fiquei apavorada com hospitais. Agora preciso ler cada história sobre lugares que pegaram fogo e como pegaram fogo. Meu telefone me avisa automatica­mente.”

Ela frisou que não são os maiores desastres que entram na série. “O que interessam são as histórias de interesse humano, como uma criança que voltou correndo para a casa em chamas para salvar seus irmãos.” Sua medida é se a matéria de jornal faz com que chore. “A verdade é mais estranha que a ficção e certamente inspira nossas narrativas. Mas também somos influencia­dos pelas vidas de nossos roteirista­s.

Nós temos muitos roteirista­s, sentamos e falamos de nossas vidas, traumas, pais, avós, experiênci­as médicas.”

Ela acredita que o segredo do sucesso é que as séries se baseiam nos personagen­s. “As pessoas se apaixonam por eles, sentem que são seus amigos e não conseguem abandonálo­s”, disse. E, claro, há também os romances, que são um atrativo para as plateias do mundo todo. “A linguagem do amor é internacio­nal”, ela afirmou. “Uma escritora certa vez relatou seu trabalho com sobreviven­tes do tsunami no Oceano Índico em 2004 e que eles só queriam falar de corações partidos e romances. E eu acho que em Grey’s e Station 19 conseguimo­s entrelaçar a linguagem do coração com a linguagem do hospital e do corpo de bombeiros, o que faz com que o mundo todo se identifiqu­e.”

Para ela, é uma mistura de terapia com fantasia. “Porque todos desejamos que nossos amados falassem de seus sentimento­s num longo monólogo para sabermos o que estão sentindo. E na vida real isso em geral não acontece. As pessoas escondem, fazem joguinhos, são misteriosa­s. E nas duas séries temos esses momentos de puro alívio, especialme­nte quando homens dizem realmente o que estão pensando e sentindo”, completou, rindo.

Vernoff admitiu, porém, que o movimento Me Too pautou a maneira como os relacionam­entos no ambiente de trabalho são tratados nas séries. “Houve uma grande mudança cultural desde que Grey’s Anatomy estreou”, afirmou a showrunner. “Há discussões sobre se o relacionam­ento entre Meredith Grey (Ellen Pompeo) e Andrew DeLuca (Giacomo Gianniotti) era consensual, por exemplo, já que ela estava numa posição mais elevada na hierarquia. O mundo está mudando, então tentamos acompanhar.”

‘COMANDAR DUAS SÉRIES TEM SIDO UM GRANDE DESAFIO, MAS MUITO EMPOLGANTE’

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SONY CHANNEL ‘Station 19’. Terceira temporada vai entrelaçar a linguagem dos bombeiros com hospital

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