O Estado de S. Paulo

Regina Duarte minimiza torturas

Secretária da Cultura diz à CNN que ‘na humanidade não para de morrer’ gente e não quer ‘arrastar cemitério de mortos nas costas’

- André Cáceres

A secretária especial da Cultura, Regina Duarte, minimizou ontem as torturas e mortes cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar. “Na humanidade, não para de morrer (gente). Se você falar vida, do lado tem morte. Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas”, disse ela em entrevista à CNN Brasil.

“Sou leve, estou viva. Para que olhar para trás? Que horrível ficar arrastando cordéis de caixões”, continuou a atriz. Ainda durante a entrevista, Regina cantou Pra Frente, Brasil, de Miguel Gustavo, jingle que se tornou hino da seleção brasileira de 1970, ao vivo. “Não era gostoso cantar isso?”

Regina falou sobre seus primeiros 60 dias no comando da pasta e disse que permanece no cargo, apesar da “fritura” que vem sofrendo por parte do presidente Jair Bolsonaro. Anteontem, os dois se encontrara­m e, segundo ela, foi “um momento leve e descontraí­do”. A reunião teve ainda a participaç­ão de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares e crítico da atriz. “Deixa o Sérgio Camargo fazer o trabalho dele, eu não tenho nada com isso. Não vão cair no meu CPF as coisas que ele possa vir a fazer”, disse ela.

Coronavíru­s. A secretária também comentou a pandemia do novo coronavíru­s. Para ela, “a covid-19 está trazendo uma morbidez insuportáv­el”.

Regina ainda questionou a importânci­a de manifestaç­ões públicas de autoridade­s a respeito de mortes no setor cultural, como os escritores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza, os músicos Aldir Blanc e Moraes Moreira e o ator Flávio Migliaccio. “A cultura está acima dos partidos, das ideologias. Será que a secretaria vai virar um obituário? Ou o reconhecim­ento existe ou não existe. O País está cultuando a memória deles, não precisam da Secretaria de Cultura. Se eu amadurecer que é importante para a memória das pessoas, posso ter no site da secretaria um obituário.”

Ao fim da entrevista, a emissora tentou mostrar uma mensagem em vídeo gravada pela atriz Maitê Proença cobrando ações mais expressiva­s da Secretaria da Cultura para a classe artística, mas Regina se irritou e não quis mais responder a nenhum questionam­ento. “Vocês estão desenterra­ndo mortos”, disse a atriz, em tom exaltado.

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