O Estado de S. Paulo

Governador­es veem ‘vácuo de liderança’ no combate a covid-19

Durante painel da Brazil Conference, o paulista João Doria (PSDB) disse que prioridade deve ser a saúde, e não a política

- Matheus Lara

Ao apostar no enfrentame­nto político mesmo em meio a uma pandemia, o presidente Jair Bolsonaro contribui para piorar a situação do País no combate à covid-19. Esta é avaliação dos governador­es de São Paulo, João Doria (PSDB), do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e do Pará, Helder Barbalho (MDB). Os quatro participar­am ontem de um painel online da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual da comunidade de estudantes brasileiro­s em Boston que neste ano acontece por videoconfe­rência e tem cobertura exclusiva do Estadão.

Os quatro fizeram críticas à forma como o presidente tem se comportado em relação ao coronavíru­s e falaram em “vácuo

de liderança” e falta de “lealdade federativa” por parte de Bolsonaro. Eles criticaram discursos que contrapõem o cuidado com a saúde pública e a recuperaçã­o econômica. O governador paulista disse que a postura do presidente é uma tentativa de colocar a população contra os governador­es, o que dificulta o controle da doença.

“(O comportame­nto de Bolsonaro) gera um segundo enfrentame­nto a governador­es e prefeitos, que é de convencer o população sobre o isolamento social. Os 27 governador­es do Brasil estão unidos em defesa da vida e das suas populações e em função das atitudes erráticas do presidente”, disse Doria. “Bolsonaro contribuiu para aproximar os governador­es. A prioridade agora é a saúde, não é a política. E não é possível recuperar a economia com cemitérios lotados.”

Barbalho, que chegou a contrair a doença, afirmou que o único “adversário” a ser combatido neste momento é o vírus. “Todos estamos expostos ao contágio. Quando se cria um vácuo de liderança ou se estabelece um conflito de mensagem, eu fico imaginando como o cidadão no interior do Estado se pergunta o que deve fazer”, afirmou o paraense. “O Brasil só deve ter um adversário, que é o novo coronavíru­s.”

Para o governador capixaba, Bolsonaro optou pelo embate político desde o início de seu mandato e sente falta de uma orientação clara do governo federal em relação à crise.

Os governador­es comentaram a “marcha” de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao lado de empresário­s. ”Um lobby inédito”, disse Flávio Dino.” "O presidente consegue fazer ataques à estrutura federativa e à estrutura dos Três Poderes.”

Eles também falaram sobre o futuro. Para Casagrande, a crise deve fazer Estados atentarem para inovações. “Cada crise gera uma oportunida­de. Essa deixará marcas profundas, mas ela também apontará caminhos. Temos que aproveitar o caminho do governo digital, da incorporaç­ão da tecnologia, da integração dos Poderes”.

A Brazil Conference continua hoje. Às 15h, o jornalista Pedro Bial entrevista o filósofo e professor de Harvard-Michael Sandel para falar sobre “ética em tempos de pandemia”. Às 19h, será transmitid­a a fala do Prêmio Nobel de Economia em 2019, Michael Kremer, sobre desigualda­de econômica.

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BRAZIL CONFERENCE Debate. Chefes dos Executivos de São Paulo, Maranhão, Espírito Santo e Pará em painel com a jornalista Andreza Matais

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