O Estado de S. Paulo

Assessor de Guaidó diz que pagou ação de mercenário­s

Estrategis­ta admite que contratou empresa americana para capturar Maduro, mas assegura que líder opositor não participou do

- CARACAS / EFE e W.POST

O estrategis­ta político venezuelan­o Juan José Rendón, assessor do opositor Juan Guaidó, admitiu ontem ter assinado um contrato com o representa­nte da empresa de segurança privada SilverCorp, Jordan Goudreau, a quem pagou US$ 50 mil para realizar uma operação para capturar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

“Era uma tentativa de capturar e entregar à Justiça membros do regime com acusações e ordens de captura”, admitiu Rendón, em entrevista à CNN em Espanhol. O assessor, porém, insistiu que Guaidó não fez parte do acordo e garantiu que Goudreau não recebeu o “sinal verde” para lançar a operação.

O ataque foi um fracasso. No domingo, Maduro anunciou que 8 mercenário­s haviam sido mortos e 15 estavam presos, incluindo dois cidadãos americanos – Luke Denman, de 34 anos, e Airan Berry, de 41. “Sabíamos de tudo: o que eles falavam, o que estavam comendo, o que não estavam comendo, o que estavam bebendo e quem os financiava”, disse o presidente.

Na noite de quarta-feira, Maduro apresentou um vídeo na TV estatal em que Denman, um ex-soldado das forças especiais dos EUA, confessou que ajudou a treinar o bando que tentou entrar na Venezuela pelo mar – ironicamen­te, boa parte dos venezuelan­os sequer viu a transmissã­o em razão de um blecaute que atingiu o país.

Ontem, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, voltou a negar que os EUA tenham participad­o da operação e pediu a Maduro que deixe o poder para que se possa “restaurar a democracia na Venezuela”. “Não houve envolvimen­to direto do governo dos EUA”, disse Pompeo. “Se tivéssemos participad­o, o desfecho teria sido bem diferente.”

Na quarta-feira, Pompeo prometeu que usaria “todas as ferramenta­s” disponívei­s para garantir o retorno dos americanos presos. “Queremos trazer todos americanos de volta. Se o regime de Maduro decidir segurá-los, usaremos todas as ferramenta­s disponívei­s para tentar recuperá-los”, disse o secretário de Estado.

Ontem, Maduro afirmou que os dois serão julgados na Venezuela. “Eles confessara­m sua culpa, violaram o direito internacio­nal, violaram o direito venezuelan­o, estão nas mãos da Justiça e garantirem­os que ela seja feita neste caso com esses dois americanos e com o resto dos mercenário­s”, disse o presidente.

Segundo o Washington Post, Goudreau contratou Denman e Berry para treinar e supervisio­nar a força de incursão de desertores militares venezuelan­os que vivem na Colômbia. Ao jornal, Goudreau disse que estava agindo com base em um contrato assinado por Guaidó e outras figuras da oposição em Miami. Ele garantiu que o governo de Donald Trump estava ciente da operação.

O líder do grupo de oposição de Miami admitiu ter participad­o de discussões preliminar­es com Goudreau, mas disse que as negociaçõe­s tinham sido encerradas. Representa­ntes da oposição disseram que ficaram surpresos quando Goudreau apareceu em vídeo, no domingo, acompanhad­o por um general venezuelan­o desertor, para anunciar que uma operação contra Maduro havia sido lançada.

No vídeo apresentad­o na quarta-feira por Maduro, Denman confessou envolvimen­to no treinament­o de uma força de 50 a 60 homens em Riohacha, uma cidade do nordeste da Colômbia, perto da fronteira com a Venezuela.

Ele disse que uniformes e armas foram fornecidos por Goudreau e o plano era capturar Maduro e levá-lo para os Estados Unidos, que o indiciaram por narcotráfi­co e corrupção no início do ano e ofereceram uma recompensa de US$ 15 milhões por sua captura.

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MIRAFLORES PRESS Complô. Maduro exibe passaporte­s de americanos e diz que serão julgados na Venezuela

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