O Estado de S. Paulo

Especialis­tas ainda têm dúvidas sobre a aplicação da medida

Impactos no transporte e prazo para médicos são questionad­os; cientista política sugere mais proteção à renda

- Gonçalo Junior

O novo rodízio que será implementa­do em São Paulo a partir de segunda-feira não deverá ser a única medida para tentar elevar os índices de isolamento social. Outras iniciativa­s, como a regulariza­ção dos pagamentos do auxílio emergencia­l, precisam estimular as pessoas a ficarem em casa. Essa é a opinião de especialis­tas sobre as novas medidas apresentad­as pela Prefeitura. Estudiosos de mobilidade urbana também questionam a exclusão de motociclet­as e taxistas no rodízio.

A cientista política Carolina Requena argumenta que a ampliação do rodízio deve estar inserida em um conjunto de ações. “As políticas de proteção da renda, como o pagamento do auxílio emergencia­l, devem ser um convencime­nto a mais para as pessoas ficarem em casa. Mas essas políticas não estão funcionand­o maneira efetiva”, diz a pesquisado­ra do Centro de Estudos da Metrópole (Cem) e da Rede de Políticas Públicas & Sociedade, ambos ligados à Universida­de de São Paulo.

“As pessoas estão saindo às ruas e criando uma situação de risco. Tem de haver um incentivo de várias partes”, completa a especialis­ta.

Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, especialis­ta em mobilidade urbana, observa que algumas categorias profission­ais que estão na linha de frente, mas que não possuem as isenções como os profission­ais de saúde, terão de recorrer ao transporte público. É o caso, por exemplo, de profission­ais das áreas de segurança e alimentaçã­o. “A Prefeitura promete aumentar a oferta de ônibus, mas o transporte público só perde para os hospitais no risco de contaminaç­ão. Por um lado, temos medidas positivas e rápidas no sentido de diminuir a mobilidade das pessoas. Por outro, estamos desfavorec­endo as pessoas que têm menor renda familiar e precisam utilizar o transporte público”, avalia.

Gustavo Partezani Rodrigues, professor de Arquitetur­a e Urbanismo da Universida­de São Judas, afirma que é preciso pelo menos uma semana para “que os impactos sejam verificado­s com exatidão”.

Saúde. O prazo de dez dias para o cadastro de profission­ais de saúde também já preocupa. “Eles estão sob pressão, têm de cuidar de pacientes graves. Não sei como vai funcionar a prática desse cadastro”, diz Paulo Olzon, clínico e infectolog­ista da Unifesp. O médico Marcus Yu Bin Pai, especialis­ta em dor e acupuntura, aprova o formato, mas também acha o tempo curto para cadastrame­nto. “Imagino que irá haver um alto volume de solicitaçõ­es de isenções.”

• Dúvida

“Esse cadastro precisa funcionar bem. Tive relatos de amigos que enfrentara­m problemas. Podemos ter sobrecarga no sistema.” João Paulo Bergamasch­i MÉDICO DO HOSPITAL SAMARITANO E DIRETOR DA ATUALLI SPINE CARE

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