Síndrome misteriosa em crianças preocupa médicos brasileiros
Problema inflamatório pode ter relação com o novo coronavírus; paciente de 12 anos morreu em São Paulo
Embora o risco de agravamento dos casos do novo coronavírus seja maior entre os mais velhos, relatos de crianças que desenvolveram sintomas de uma síndrome inflamatória ainda pouco conhecida e potencialmente ligada à covid-19 preocupam especialistas ao redor do mundo. Estados Unidos, Reino Unido e Europa já investigam casos do tipo, que também acionaram o alerta de pediatras brasileiros.
Na semana passada, o serviço público de saúde do Reino Unido, NHS, alertou sobre um pequeno número de crianças apresentando um conjunto pouco comum de sintomas, incluindo transtornos gastrointestinais e inflamação em torno do coração. Elas tiveram de receber cuidados intensivos. O ministro da Saúde britânico disse que algumas crianças com o quadro testaram positivo para a covid19. Já há relatos em outros locais na Europa e nos EUA.
Os sintomas descritos chegaram a ser associados aos da Síndrome de Kawasaki, síndrome vascular que ainda não tem uma causa conhecida e acomete sobretudo crianças, criando, entre outros, uma intensa manifestação inflamatória.
No Brasil, o médico e professor de Pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí Saulo Passos, membro do grupo Rekamlatina, que reúne pesquisadores da América Latina que estudam a síndrome de Kawasaki, relata que o grupo dará início a uma pesquisa por conta da possível associação entre o coronavírus e a síndrome. “Existe uma teoria de que a covid poderia ser o gatilho inicial para a doença de Kawasaki.”
O cardiologista pediátrico do Hospital Israelita Albert Einstein Gustavo Foronda pondera que ainda não é possível observar relação direta entre esse quadro de síndrome inflamatória e a Síndrome de Kawasaki. “O que acreditamos hoje é que, talvez, o novo coronavírus desenvolva resposta multissistêmica inflamatória nas crianças.”
Foronda relata que no Brasil uma criança de 12 anos morreu em São Paulo depois de ter sido diagnosticada com a covid-19 e ter tido “um acometimento cardíaco importante, com quadro de choque e um processo inflamatório intenso, que pode ser encaixado nesta síndrome”.
O presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, diz que o entendimento que se tem é que o vírus pode desencadear essas manifestações inflamatórias intensas em algumas crianças. “O que não entendemos ainda é por que essas crianças desenvolvem esses quadros mais graves.”