O Estado de S. Paulo

Bolsonaro vê 10 mi de desemprega­dos

Presidente lança número, mas não apresenta estatístic­as e assina decreto que inclui setor de construção civil como atividade essencial

- Mateus Vargas Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o Brasil “se aproxima de 10 milhões de pessoas que perderam emprego de carteira assinada”, mas não apresentou os levantamen­tos estatístic­os que comprovam o encolhimen­to no mercado de trabalho formal no País nessa magnitude.

“Se aproxima 10 milhões de pessoas que perderam emprego de carteira assinada”, disse o presidente ao chegar ao Palácio da Alvorada no início da noite. Segundo ele, dos 38 milhões de autônomos, 80% perderam poder aquisitivo.

Uma demissão de 10 milhões, como citou o presidente, mostraria que a pandemia do novo coronavíru­s foi capaz de, sozinha, dizimar praticamen­te um terço do mercado de trabalho formal no Brasil. O País tem hoje cerca de 33 milhões de trabalhado­res com carteira assinada.

Ao ser confrontad­o pelos jornalista­s sobre a origem do número, Bolsonaro disse que ele foi repassado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e que ele mesmo, o presidente, tinha se surpreendi­do. Mas afirmou que tem visto que num pequeno comércio de cinco empregados, a prática mostra que três têm sido demitidos. Sobre o dado dos autônomos, Bolsonaro afirmou que era da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT), sem entrar em detalhes.

Questionad­o sobre a origem do dado e sobre como a equipe econômica avalia tamanho impacto no mercado de trabalho apesar das medidas adotadas, com recursos públicos, para manter os empregos, o Ministério da Economia informou que “não irá se manifestar”.

O Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged), que reúne essas informaçõe­s e é mantido pela Secretaria Especial de Previdênci­a e Trabalho, está com a divulgação suspensa porque as empresas estão com dificuldad­es para enviar os dados em meio à pandemia e uma mudança nos sistemas da pasta. O último número, divulgado em janeiro, foi referente ao fechamento do ano de 2019.

O termômetro mais próximo seria o número de pedidos de seguro-desemprego, que somaram 804.538 entre o começo de março e a primeira quinzena de abril de 2020. Outros 200 mil pedidos devem estar represados devido ao fechamento de agências do Sine, segundo os próprios técnicos da área econômica anunciaram na semana passada. Ou seja, pelas números oficiais do Ministério da Economia, o desemprego como consequênc­ia da pandemia teria atingido 1 milhão de pessoas, aumento de 150 mil em relação ao mesmo período do ano passado.

Já a Pnad Contínua, pesquisa sobre o mercado de trabalho do IBGE, mostra uma melhora no mercado de trabalho formal no primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2019 –o dado mais recente divulgado pelo órgão. O número de trabalhado­res do setor privado com carteira aumentou em 178 mil nessa comparação.

Contrário. O discurso da equipe econômica tem ido na direção contrária. Ontem mesmo, o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Bruno Bianco, divulgou vídeo nas redes sociais comemorand­o a manutenção de 6 milhões de empregos formais a partir das negociaçõe­s para reduzir jornada e salário ou suspender contratos.

O governo prevê gastar R$ 51,2 bilhões para pagar benefícios aos trabalhado­res, numa compensaçã­o pela perda temporária no salário. Com isso, espera que a crise resulte num número bem menor de demissões, por volta de 3,2 milhões.

A declaração do presidente foi dada no mesmo dia em que Bolsonaro foi pressionad­o por setores da indústria a adotar medidas de retomada da atividade econômica. Ele recebeu os empresário­s acompanhad­o do ministro da Economia, Paulo Guedes. O grupo seguiu depois a pé para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde se reuniu com o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.

O presidente assinou e publicou ontem um decreto que inclui o setor de construção civil e as atividades industriai­s no rol de atividades essenciais, que podem funcionar durante a pandemia da covid-19, desde que “obedecidas as determinaç­ões do Ministério da Saúde”. A norma vem num momento em que um número cada vez maior de municípios tem adotado ou falado em adotar medidas de “lockdown” (confinamen­to obrigatóri­o) na tentativa de conter o avanço da doença.

“Vamos colocar novas categorias com responsabi­lidade e observando as normas do Ministério da Saúde. Porque senão, depois da UTI, é o cemitério, e não queremos isso para o Brasil", disse Bolsonaro..

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GABRIELA BILO/ ESTADAO Nova liberação. Bolsonaro assinou ontem decreto que inclui o setor de construção civil como atividade essencial

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