VALE A PENA COMPRAR VIAGENS?
Compre agora, viaje depois: vale a pena investir nessas ofertas?
Para enfrentar queda no faturamento, operadoras e hotéis oferecem promoções para passeios turísticos após confinamento.
Entre todos os hábitos, viajar foi o primeiro a ser cortado depois da pandemia do coronavírus. Para garantir recursos para seguir com seus negócios, operadoras, hotéis e cidades turísticas criam promoções e vouchers para o viajante comprar agora e usar depois, em ação parecida à vista entre restaurantes do País. Algumas ofertas são tentadoras. Mas será que valem a pena?
Paulo Márcio Terra Nunes decidiu arriscar. Proprietário de uma franquia de comida japonesa em Minas Gerais, ele usou o mesmo recurso em seu negócio. Assim, decidiu pagar R$ 4 mil no voucher da Vay Agora para ter R$ 5 mil para gastar em passagens no futuro. “Vi como uma oportunidade porque viajo bastante, no Brasil e no exterior. Quando tudo isso acabar, vou querer viajar”, conta o empresário.
“Acho que, do meio do ano em diante, as coisas vão normalizar. Existe uma força de negócios e comércio que não vai ficar parada”, diz Paulo. Mas pondera: “Se não fosse uma empresa conhecida, talvez não comprasse”.
Com atendimento via WhatsApp desde 2015, a companhia totalmente online ganhou o nome Vay no ano passado, quando investiu em uma mudança tecnológica. Diante das perdas causadas pela pandemia, lançou a campanha #VayDepois, com três tipos de voucher para bilhetes aéreos: R$ 500 (pelo preço de R$ 450), R$ 1.000 (a R$ 850) e R$ 5 mil (por R$ 4 mil). “Tivemos de lidar com uma redução nas vendas de passagens de 50% em março e 95% em abril”, conta Vitor Coutinho, cofundador e diretor de operações da Vay. Os bilhetes podem ser emitidos, no nome do titular ou de outras pessoas, em até dois anos.
Com tempo.
O prazo longo é um aspecto importante a ser considerado pelo viajante para ter uma ideia mais clara de como estará a situação do Brasil e do mundo em relação ao novo coronavírus. “Neste momento, é muito difícil fazer qualquer previsão sobre viagens. Mas um prazo de dois anos é mais razoável”, afirma Eliseu Alves Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
A baiana Débora Silva Souza quer aproveitar o tempo dado pela promoção da Loumar Turismo, operadora especializada em Foz do Iguaçu. Para incentivar a compra de passeios, ingressos de atrações, transporte e hospedagem, os vouchers com preço até 70% menor podem ser pagos em um período máximo de 12 vezes e usados dentro de dois anos. “Estou fazendo fé de ir para Foz em dezembro. Se não der, tenho a segurança de poder marcar para depois”, diz a técnica em contabilidade.
A compra deve ser realizada até domingo. “Em março, tivemos uma venda normal até o fim da segunda semana. Após isso, a queda foi de 99%”, afirma Marcelo
Valente, CEO da empresa. A Loumar começou a divulgar a promoção em 23 de abril e, seis dias depois, já contabilizava 600 contatos interessados. “A maior parte são pessoas interessadas em visitar Foz no próximo semestre ou em 2021”, afirma Valente.
Débora está entre elas: “Estamos num cenário de incerteza, mas creio que vai melhorar. O turismo interno vai voltar, e Foz tem muito passeio que é aberto”. “Iremos nos reinventar. Eu não tenho medo. Vai ser tudo novo, mas ninguém vai poder parar de viver.”
Pelo Brasil.
A Azul Viagens também aposta no prazo longo para conquistar viajantes com pacotes sem data fixa para o embarque. “Sabemos das dificuldades deste momento e queremos que as pessoas fiquem em casa mesmo. Mas por que não garantir um pacote de viagem para o segundo semestre ou até para daqui a um ano? Desta forma, damos segurança, tranquilidade e flexibilidade”, diz Daniel Bicudo, diretor da operadora oficial da Azul.
Com duração de quatro ou sete dias, os pacotes incluem parte aérea, hospedagem e traslado e custam a partir de R$ 1.557,51 (bit.ly/viagazul). “O Bilhete Viagem
contempla duas grandes opções uma para quem prefere praia, outra para quem gosta mais do friozinho”, explica Bicudo. O embarque pode ser de 1º de julho a 15 de dezembro ou entre 20 de janeiro e 30 de abril de 2021 – exceto o período de 9 a 23 de fevereiro. A viagem deve ser marcada 40 dias antes do embarque, ou com uma antecedência de 60 dias, no caso de feriados.
Entre os destinos, Porto de Galinhas, João Pessoa, Curitiba e Gramado. “Entendemos que o mercado doméstico deve ter um retorno mais rápido e esse produto é uma forma de ajudar a fomentar os destinos nacionais”, afirma o diretor da Azul Viagens.
Destinos que vivem do turismo também têm criado promoções próprias. Famosa pelo patrimônio histórico e pela beleza natural da serra fluminense, Petrópolis criou a ação Petrópolis em Dobro (visitepetropolis.com/dobro). Até 12 de maio, quem compra uma diária nos hotéis participantes ganha outra. Nos restaurantes, o viajante recebe um adicional no valor pago – o estabelecimento emite um voucher válido até 30 de dezembro. “Neste momento, precisamos nos preparar para a retomada das atividades, seguindo todos os protocolos e cuidados necessários para que o cliente tenha a percepção de segurança”, diz Samir El Ghaoui, presidente do Petrópolis Convention & Visitors Bureau (PCVB). “Precisamos movimentar o fluxo de caixa de forma a manter a empregabilidade e o funcionamento de restaurantes e hotéis.”
Em Socorro, o setor responde por quase metade da economia da cidade. A queda de faturamento é estimada em 88%. Para garantir o funcionamento de micro e pequenos empresários do segmento, a Associação de Turismo da Estância de Socorro (Astur) lançou a campanha Compre Agora, Viaje Depois (voucherdesconto.socorro.tur.br), com a venda até 15 de maio de vouchers com 40% de desconto, tendo 14 de dezembro deste ano como limite para o uso.
Participam da campanha cerca de 40 negócios, nas áreas de hospedagem, compras e artesanato, gastronomia e atividades de ecoturismo. “Como a tendência pós-epidemia será de um aumento do turismo doméstico, a campanha também mira naqueles que ainda não conhecem a cidade”, diz Ana Luiza Russo, presidente da Astur. São cinco opções de voucher, entre R$ 50 (pagando R$ 30) e R$ 500 (a R$ 300). As compras podem ser divididas em parcelas mínimas de R$ 100. No ar há duas semanas, teve cerca de 40 vouchers vendidos.
“É uma super oportunidade, e o risco não é alto”, acredita Eliz Claro, jornalista e produtora de eventos, que comprou vouchers para hospedagem e restaurante. “Estou programando a viagem para novembro. Se piorar a situação, acredito que eles vão estender o prazo”, diz. “Acho vantajosa a promoção e também a chance de ajudar as cidades que dependem do turismo.”
Segurança.
Para Waldman, professor da USP, as pessoas terão de viajar com a disposição de manter os requisitos de segurança para a saúde. “Terão de levar álcool em gel e usar máscara. Nas viagens aéreas, as companhias terão de pensar em uma solução para manter algum afastamento entre os viajantes”, diz. A quem pega estrada, o professor do Departamento de Epidemiologia recomenda: “O ideal é ir com janela aberta, para não usar o ar-condicionado do carro”. Segundo ele, será preciso que os lugares tenham protocolos de higiene para restaurantes e hotéis. “E é importante que o pessoal cumpra, tanto funcionários como viajantes.”
É importante que o viajante leve em conta potenciais riscos e os dias de folga disponíveis no futuro antes de fechar negócio, aponta Guilherme de Almeida Prado, fundador do portal de comparação de serviços financeiros Konkero e mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). “Se você tem flexibilidade de datas e folga financeira, aí pode ser bem interessante arriscar em determinadas promoções”, afirma. “Fique atento às regras de remarcações.”
CONSIDERE O PRAZO DISPONÍVEL PARA A VIAGEM E AS REGRAS DE REMARCAÇÃO CIDADES TURÍSTICAS COMO SOCORRO E PETRÓPOLIS CRIARAM PROMOÇÕES PRÓPRIAS