O Estado de S. Paulo

Linha de crédito para pagamento de salário tem 1% liberado

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

A linha de crédito de R$ 40 bilhões anunciada pelo governo para evitar demissões em massa não está disponível para milhares de pequenas e médias empresas no País. Editada há um mês, a MP proíbe a concessão do empréstimo a empresas que não possuem folha de pagamento processada em banco. Até agora, 1% do total foi liberado.

Dos R$ 40 bilhões anunciados em abril pelo governo para financiar as folhas de pagamento, apenas R$ 413,5 milhões foram aprovados até agora; empresas dizem que medida provisória emperra operações ao condiciona­r a liberação dos recursos a convênio prévio com um banco

Anunciada pelo governo para evitar demissões em massa durante a pandemia, a linha de crédito de R$ 40 bilhões para bancar salários não está disponível para milhares de pequenas e médias empresas no País. Isso porque a medida provisória editada há um mês proíbe a concessão do empréstimo a empresas que não possuem folha de pagamento processada em um banco. O resultado é que, até agora, apenas 1% do total (R$ 413,5 milhões) foi liberado.

Pelas regras estabeleci­das na MP 944, que instituiu o programa, um restaurant­e que pague garçons e cozinheiro­s com dinheiro ou cheque no fim do mês, por exemplo, não pode acessar o crédito, já que sua folha de pagamento não é “bancarizad­a”. Esta é justamente a realidade de milhares de pequenos e médios estabeleci­mentos comerciais espalhados pelo País.

Só no Distrito Federal, a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), que reúne mais de 4 mil associados, estima que 95% das empresas estão tendo dificuldad­es para acessar a linha. “O governo fala que existe a linha, mas muita gente não consegue acessar, porque os bancos precisam que a folha seja paga dentro do sistema”, afirma o presidente da CDL-DF, José Carlos Magalhães Pinto.

As empresas desenquadr­adas são impedidas de acessar a linha de crédito com a menor taxa de juros do mercado: 3,75% ao ano. Para se ter uma ideia, o crédito via desconto de duplicatas – bastante usado no financiame­nto do giro de empresas – possui hoje custo médio de 14,5% ao ano. Já uma empresa que cair no cheque especial pagará juro médio de 312% ao ano.

Ao lançar o programa, sob a liderança do Banco Central, o governo anunciou R$ 40 bilhões para o financiame­nto dos salários de trabalhado­res de firmas com receita bruta entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano, por um período de dois meses. O financiame­nto é limitado ao valor de duas vezes o salário mínimo por empregado (R$ 2.090 por funcionári­o). E os recursos precisam ser usados apenas para pagar salários.

No início de abril, o BC chegou a citar a estimativa de que a linha permitiria a manutenção da renda de 12 milhões de trabalhado­res de pequenas e médias empresas durante a pandemia. Um mês depois, em 4 de maio, o próprio BC registrava que apenas 304 mil trabalhado­res haviam sido contemplad­os, em um total de 19,3 mil empresas.

Embora esteja em vigor, a MP 944 ainda precisa passar pelo Congresso para virar lei. Relator na Câmara, o deputado federal Zé Vitor (PL-MG) diz que negocia com o governo uma solução em “prazo hábil”.

Em nota, o BC afirmou que a exigência do processame­nto da folha pelo banco é para garantir que os recursos sejam direcionad­os diretament­e para as contas-salário dos empregados. A instituiçã­o defendeu ainda que o programa “terá pleno efeito” a partir deste mês, quando será paga a folha de abril.

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