O Estado de S. Paulo

Crise política pode afastar Brasil da OCDE

Chefe do grupo anticorrup­ção da entidade faz alerta e diz que membros são muito rigorosos nestes casos

- Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA Paulo Roberto Netto/ SÃO PAULO

Segundo o chefe do grupo de trabalho anticorrup­ção da Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), Drago Kos, acusações do ex-ministro Sérgio Moro podem ameaçar a candidatur­a do Brasil.

A acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal pode ameaçar a candidatur­a do Brasil à Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), disse o chefe do grupo de trabalho anticorrup­ção na entidade, Drago Kos.

Em entrevista à Bloomberg, Kos afirmou que a OCDE, “clube de países ricos” do qual o Brasil quer fazer parte, questionou autoridade­s brasileira­s para saber ‘o que estava acontecend­o’ após o anúncio de demissão de Moro. O ex-ministro deixou o governo em 24 de abril após relatar pressões do presidente para mudar o comando da PF.

“Nossos Estados-membros são muito, muito rigorosos quando discutem adesões à OCDE. Por isso, espero que o Brasil use isso como uma oportunida­de, mas se seguirem outro caminho, nossos Estados-membros saberão como lidar com isso”, disse. “Nós queremos ter a certeza absoluta de que o Brasil não está retroceden­do.”

Segundo Kos, uma videoconfe­rência marcada para junho vai discutir temas relacionad­os à candidatur­a brasileira, e o tópico “Moro” deve ser abordado.

Para um experiente negociador ouvido pela reportagem sob a condição de anonimato, a demissão em si não tem poder de influencia­r os rumos da candidatur­a brasileira à OCDE, apesar de Moro ser um símbolo internacio­nalmente conhecido por sua atuação na Operação Lava Jato. Segundo essa fonte, o que poderia pesar são os motivos por trás da saída do ex-ministro, caso se prove que houve tentativa de interferên­cia. Um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) investiga o caso.

A avaliação, porém, é de que a candidatur­a brasileira à OCDE envolve um leque amplo de áreas, inclusive econômicas, e que o País tem se adiantado no cumpriment­o das tarefas necessária­s para a adesão à organizaçã­o. Além disso, esse observador lembra que o candidato não é o presidente, mas sim o País.

A crise política no Brasil deve colocar uma “lupa” no funcioname­nto das instituiçõ­es, mas a análise desse negociador é de que, no limite, o próprio andamento das investigaç­ões poderá mostrar amadurecim­ento e emitir sinais de que as instituiçõ­es brasileira­s seguem funcionand­o.

O Brasil obteve apoio dos Estados Unidos para sua adesão à OCDE em janeiro deste ano, num movimento comemorado pelo governo e atribuído em parte à relação estreita mantida entre Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump. O País, no entanto, ainda tem um longo caminho pela frente para concluir a adesão.

É preciso primeiro obter consenso dos membros da OCDE sobre candidatur­as existentes.

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