O Estado de S. Paulo

País registra recorde de 751 mortes por covid em 24h

- André Borges / BRASÍLIA

O Brasil bateu seu terceiro recorde de mortes por covid-19 em uma semana. Foram 751 registros em 24 horas, o que situa o País apenas atrás dos EUA – 1.570 óbitos em um dia. O total de vítimas no Brasil chegou a 9.897. Projeção da consultori­a americana Kearney, que prevê cenários há mais de 80 anos, aponta 28 mil mortes até 20 de dezembro, na melhor das expectativ­as. Na hipótese mais pessimista, a previsão é de 295 mil mortos pelo vírus neste período. Os números variam conforme as medidas das autoridade­s.

Brasil registra terceiro recorde na semana; estimativa da empresa americana Kearney indica que Brasil está de 2 a 11 semanas do pico e podem faltar ao menos 2,5 mil leitos de UTI. Consultori­a sugere reavaliar capacidade hospitalar e a forma de transporta­r pacientes

O Brasil bateu seu terceiro recorde na semana e registrou 751 mortes decorrente­s do novo coronavíru­s em 24 horas, segundo atualizaçã­o feita pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira. Com isso, o total oficial de vítimas da covid-19 no País subiu de 9.146 para 9.897. E uma projeção da consultori­a americana Kearney, que trabalha com cenários há mais de 80 anos e está presente em mais de 40 países, prevê, na melhor das expectativ­as, que o País chegue a 28 mil vítimas até 20 de dezembro.

Segundo a plataforma de estatístic­as Worldomete­rs, o País continua a ser o segundo em registros no mundo, atrás apenas dos EUA, que relataram 1.570 novos óbitos por infecção em 24 horas. O número de casos confirmado­s da doença no Brasil saltou de 135.106 para 145.328, com 10.222 novos registros entre anteontem e ontem. Isso sem considerar os casos de subnotific­ação (mais informaçõe­s nesta página).

Para a Kearney, a flexibiliz­ação de medidas de isolamento social e a falta de ações que ampliem urgentemen­te a estrutura de saúde do País poderão fazer com que o Brasil se torne o recordista mundial de vítimas da doença. O Estado teve acesso exclusivo a um estudo concluído na semana passada pela empresa, que analisou em detalhes a evolução da doença em todo o mundo e, a partir de dados oficiais do Ministério da Saúde e dos Estados, fez simulações para as próximas semanas e meses do Brasil.

As projeções mostram que, em um cenário intermediá­rio, o Brasil chegará a cerca de 78 mil mortes por covid-19 até dezembro. No mais pessimista, o estudo aponta 295 mil mortos até 20 de dezembro. Seria como se a população inteira de uma cidade do porte de Taubaté (SP), Petrópolis (RJ) ou Governador Valadares (MG) fosse dizimada. São números, portanto, de referência, que podem variar muito conforme as medidas que forem tomadas.

Pico. Conforme as projeções, o Brasil ainda não atingiu o pico de casos, o que deve acontecer entre 2 e 11 semanas (10 de maio a 5 de julho), conforme a região do País. Medidas locais de combate à doença, no entanto, podem abreviar ou reduzir esse prazo. “O cenário é extremamen­te preocupant­e. A mensagem clara que tiramos disso, em síntese, é que a coisa ainda vai piorar muito, antes de melhorar”, diz Joaquim Cardoso, líder sênior da prática de saúde da Kearney Brasil.

Uma das principais fragilidad­es do Brasil em lidar com o avanço da doença está em sua infraestru­tura de saúde. A Kearney fez um levantamen­to detalhado sobre o que está disponível dentro da rede pública do SUS e o que há na rede privada de saúde. Os dados considerar­am um total de 34 mil leitos de UTI para adultos no País – com a covid-19 e outras situações, o número atual avançou um pouco para 40 mil. Consideran­do os números anteriores da consultori­a, na prática isso significav­a que, enquanto a média de leitos é de 40 unidades para cada 100 mil pessoas entre aqueles que têm plano de saúde, esse número caía para 9 leitos para cada 100 mil na rede pública. “O que vemos agora é a desigualda­de na saúde cobrando a conta”, diz Joaquim Cardoso, da Kearney Brasil.

O cenário fica ainda mais delicado quando considerad­o que cerca de 16 mil leitos já estavam em utilização por outras doenças antes da chegada da covid19. Nas estimativa­s da Keaney, as implementa­ções de hospitais de campanha não são suficiente­s para sequer trazer equilíbrio a esse cenário.

“A falta de leitos explica por que o lockdown (bloqueio total) é tão importante. Eu empurro o cresciment­o de casos para frente.”

Joaquim Cardoso

KEARNEY BRASIL

Sugestões. A consultori­a faz sugestões para minimizar problemas. “É preciso um plano urgente para as UTIs, que seja feito por Estados e cidades e considere a contrataçã­o de UTIs da rede privada pelo poder público”, afirma Cardoso. “É preciso avaliar também a possibilid­ade de transporte de pacientes entre cidades, regiões e Estados. Isso foi feito na França. Temos aviões, é uma alternativ­a.”

O estudo aponta que os Estados que sofrem com maior falta de leitos, principalm­ente na rede pública, estão nas Regiões Norte e Nordeste, como Amazonas, Pará, Amapá e Ceará. O colapso na rede de atendiment­o, porém, também se aproxima das redes de Acre, Rondônia, Roraima, Pernambuco, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Em um cenário otimista, o relatório estima que haverá falta de ao menos 2,5 mil leitos de UTI no pico das contaminaç­ões, mas esse número pode chegar à falta de aproximada­mente 24 mil leitos em situação mais crítica. Com base nas experiênci­as internacio­nais, a consultori­a alerta para a necessidad­e de se revisar políticas públicas, além de adotar medidas para reduzir as subnotific­ações.

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BRUNO KELLY/REUTERS–7/5/2020 Risco. Cenário mais pessimista projeta até 295 mil óbitos

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