Doria cita ‘cenário desolador’ e leva até dia 31 a quarentena
Governador vê cenário ‘desolador’ e diz que não descarta adotar medida mais restritiva
Ao anunciar a prorrogação até 31 de maio da quarentena no Estado de São Paulo, o governador João Doria (PSDB) disse que a medida está salvando vidas, mas qualificou de “desolador” o cenário causado pela pandemia. Ele não descartou medidas mais restritivas.
“Ninguém será poupado. É assustadora a progressão da doença. O isolamento já foi melhor, mas piorou. Nesse ritmo, o sistema de saúde ficará prejudicado.”
Dimas Tadeu Covas
COORDENADOR DO
CENTRO DE CONTINGÊNCIA
A quarentena no Estado de São Paulo teve o prazo prorrogado até 31 de maio. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB) ontem no Palácio dos Bandeirantes. “O cenário é desolador. E a quarentena está salvando vidas em São Paulo. Nenhum governante tem prazer em dar más notícias, mas não se trata de ter ou não este sentimento, trata-se de proteger vidas no momento mais crítico desse País”, disse Doria.
A quarentena foi implementada em todo o Estado no dia 24 de março. A medida permite somente o funcionamento dos serviços considerados essenciais e continua valendo para os 645 municípios paulistas. “Nenhum país conseguiu relaxar as medidas de isolamento social em meio a uma curva crescente. Autorizar o relaxamento agora seria colocar em risco vidas e o sistema de saúde. Retomaremos, sim, no momento certo, na hora certa”, afirmou.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), também participou do anúncio. “Situações extremas exigem medidas extremas. Só na cidade de São Paulo são 4.496 mortes, entre confirmadas e suspeitas. A lotação das UTIs municipais é de mais de 80% e mais da metade dos nossos hospitais já tem 100% de ocupação”, disse Covas.
Doria já havia prorrogado a quarentena por duas vezes, o que criou pressão de alguns setores da economia e de prefeitos, que pediam regras mais flexíveis. Diante desse cenário, Doria anunciou no dia 22 de abril que faria uma flexibilização das regras, o chamado Plano São Paulo. Na época do anúncio, o governo afirmou que a flexibilização levaria em conta três fatores: taxa de crescimento do número de infectados, capacidade do sistema de saúde de oferecer leitos e número de pessoas testadas para a doença.
Mas, nesta sexta-feira, Doria afirmou que ainda não será possível colocar o Plano São Paulo em prática. Questionado sobre a possibilidade de medidas ainda mais restritivas, Doria afirmou que o lockdown, o bloqueio total do Estado, “não está descartado”. “Acreditamos que as medidas da quarentena e a consciência das pessoas podem ser suficientes. Se isso não ocorrer, outras medidas podem ser adotadas”, disse.
O governo estabeleceu dois critérios para iniciar a flexibilização. Para a reabertura, será necessária uma redução no número de casos por 14 dias e que a taxa de ocupação de leitos de UTI fique no patamar de 60%.
O sistema de saúde público na Grande São Paulo já opera praticamente no limite. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, na Grande São Paulo a ocupação dos leitos de UTI já é de 89,6%. No Estado, é de 70%. Em leitos de enfermaria, a taxa de ocupação é de 74% na região metropolitana e de 51,7% no Estado. “Houve um agravamento nos últimos 15 dias e isso coincidiu com uma queda na taxa de isolamento”, afirmou o secretário Estadual da Saúde, José Henrique Germann.
Isolamento. São Paulo tem 41.830 casos confirmados e 3.416 mortes pelo novo coronavírus. O Estado vem enfrentando baixas taxas de isolamento social, abaixo dos 50%. A meta do governo é de 60% e o número ideal é 70%, a fim de evitar um colapso do sistema.
“Quanto menos nós obedecermos o afastamento social, maior será a taxa de contágio e, portanto, mais grave a epidemia e mais tempo vai durar (o fechamento)”, disse o novo coordenador do centro de contingência, Dimas Tadeu Covas.
Na capital paulista os índices giram em torno de 48% (o número só sobe em fins de semana) e, diante deste cenário, Covas determinou nesta quinta um novo rodízio, mais restritivo, que pretende tirar 50% dos carros das ruas. “O objetivo é fazer com que as pessoas fiquem em casa. Não há motivo para ficar circulando e levando o vírus de um lugar ao outro”, disse Covas, que relatou ter recebido ameaças após a medida.
Em outros municípios, a situação também é grave. Estudo divulgado pelo próprio governo na quinta-feira mostra um avanço da doença no interior. A cada três dias, 38 novas cidades paulistas registram casos de coronavírus. Se esse ritmo se mantiver, até o fim de maio todos os municípios paulistas (são 645) serão afetados pela doença.
“Ninguém será poupado desse vírus. É assustadora a progressão da doença. A adesão ao isolamento já foi melhor, mas piorou muito. Nesse ritmo, o sistema de saúde ficará muito prejudicado”, disse Dimas Tadeu Covas. Ontem, David Uip, que coordenava o Centro de Contingência, pediu licença. Na quarta, ele se sentiu mal e, por recomendação médica, ficará afastado por alguns dias.