O Estado de S. Paulo

Estamos apenas no início da recessão – e é fundamenta­l planejar a retomada da atividade econômica.

- José Márcio Camargo

Os dados da produção industrial do mês de março, que apresentou queda de -9,1% em relação a abril, mostram que o Brasil está entrando na pior recessão de sua história. As medidas de isolamento social implementa­das com o objetivo de reduzir a contaminaç­ão pelo coronavíru­s, indispensá­veis para salvar vidas humanas, levaram à paralisaçã­o de grande parte da economia. E estamos apenas no início deste processo.

O desempenho da economia brasileira em 2020 vai depender fundamenta­lmente de quanto tempo será necessário manter o isolamento social, até que a curva de novos casos se estabilize e, eventualme­nte, reverta a trajetória de cresciment­o.

Algumas projeções feitas pela equipe de macroecono­mia da Genial Investimen­tos mostram a dramaticid­ade do problema. Foram feitos três cenários distintos. No primeiro cenário, denominado otimista, foi feita a suposição de que o isolamento social precisará ser mantido até a segunda quinzena de maio de 2020, aproximada­mente 50 dias. No segundo cenário, considerad­o o cenário de maior probabilid­ade e, por essa razão, batizado de cenário-base, fez-se a suposição de que esta medida seja necessária por 60 dias, ou seja, até a primeira quinzena de junho. E, finalmente, projetou-se um cenário pessimista, no qual o isolamento social precisa ser mantido por pelo menos 70 dias, ou seja, até o início de julho de 2020.

Os resultados são dramáticos. No cenário otimista, os resultados mostram uma queda do PIB de -3,3% em 2020, com a taxa de desemprego atingindo 14,2% da força de trabalho no fim do ano (dessazonal­izada). No cenário-base, que é considerad­o o mais provável neste momento, os resultados são -5,4% de queda do PIB e desemprego de 15,4% da força de trabalho. Finalmente, no cenário pessimista, a previsão é de uma queda do PIB da ordem de -8,6%, com a taxa de desemprego atingindo 18,4% da força de trabalho no fim deste ano.

Certamente, a resposta não pode ser simplesmen­te abandonar o isolamento social num momento em que o número de novos infectados continua em trajetória de elevação, o que poderia levar a uma aceleração do número de infectados, indisponib­ilidade de leitos de UTI e grande número de mortes. Entretanto, é necessário fazer algo para tentar minimizar os custos deste cenário.

Manter a economia parada sem qualquer movimento na direção de retomar, paulatina e lentamente, a atividade não parece uma opção razoável. Na verdade, a sociedade já começa a dar sinais de cansaço do isolamento social. Várias regiões e cidades do País já começam a flexibiliz­ar as regras do isolamento, sem qualquer análise de como este processo deve ser feito para minimizar os custos, em termos de vidas humanas, dessa decisão.

O Ministério da Saúde aumentou o número de testes, a distribuiç­ão de leitos de UTI, respirador­es mecânicos e de equipament­os de proteção individual (EPIs) para os locais onde a situação é mais crítica. Este é um primeiro movimento.

Mas é fundamenta­l planejar a saída. Algumas regiões e cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus,

Manter a economia parada sem qualquer movimento para retomar a atividade não parece opção razoável

Fortaleza, entre outras, estão próximas de uma situação crítica, com aumento de novos casos e mortes, elevada utilização de UTIs, EPIs, etc., e deveriam manter uma estratégia de isolamento social restritiva ou, até mesmo, reforçá-la. Entretanto, outras regiões (Rio Grande do Sul, Goiás, Distrito Federal, entre outras) já mostram um comportame­nto menos dramático, com redução de novos casos e de mortes e com um nível de utilização de recursos hospitalar­es relativame­nte sob controle.

Definir as variáveis a serem seguidas, em que regiões e cidades, os grupos etários, qual a porcentage­m de utilização de UTIs e EPIs é segura, obrigar o uso de máscaras, enfim, adotar um conjunto de regras de forma a minimizar o risco da saída é fundamenta­l. Sem isso, corremos o risco de uma saída unilateral e desordenad­a pela própria sociedade, com graves desdobrame­ntos em termos de perdas de vidas humanas.

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