O Estado de S. Paulo

Centrão mira orçamento de R$ 78,1 bi com cargos

Por apoio no Congresso, governo negocia indicações em órgãos estratégic­os; Progressis­tas e Republican­os já emplacaram nomes no Dnocs e na pasta de Desenvolvi­mento Regional

- Vinícius Valfré / BRASÍLIA

Ao lotear cargos do governo com nomes indicados pelo Centrão, o presidente Jair Bolsonaro poderá deixar sob controle de políticos desse bloco um orçamento de até R$ 78,1 bilhões. Antes demonizado pelo próprio Bolsonaro e seus apoiadores, o Centrão sempre foi classifica­do como fisiológic­o e inclui siglas como o antigo PP, que teve o maior número de investigad­os na Operação Lava Jato. Na época da campanha, o atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal, general Augusto Heleno, trocou a palavra “ladrão” por Centrão na música ‘Reunião de bacana’ ao cantarolar em convenção do PSL, então partido do presidente: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”.

Ainda são esperadas nomeações em postos estratégic­os, como no Instituto Nacional de Colonizaçã­o e Reforma Agrária (Incra) e no Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit). O Dnocs sempre foi muito cobiçado por ser responsáve­l por obras de combate à seca em regiões carentes do Nordeste. O poder de decidir onde e quando o dinheiro será investido vira ativo eleitoral para políticos da região, principalm­ente em um ano de disputas municipais como este.

Desde quarta-feira o Dnocs é comandado por Fernando Leão, um afilhado do deputado Sebastião Oliveira (PL-PE). O cargo foi entregue ao Progressis­tas (antigo PP) do deputado Arthur Lira (AL). Mas, em busca de apoios para sua candidatur­a à presidênci­a da Câmara, em 2021, Lira repassou a escolha a Oliveira, que, por sua vez, está de malas prontas para o Avante.

Leão foi alçado de gerente do Procon de Pernambuco a chefe de um departamen­to com orçamento de R$ 1,09 bilhão, dos quais R$ 265 milhões são livres para obras. Procurado, ele não quis se manifestar.

A título de comparação, o total de R$ 78,1 bilhões que poderá ficar nas mãos do Centrão será maior do que tem disponível a maioria dos governador­es – só perde para os orçamentos de São Paulo, Rio e Minas Gerais. A quantia leva em conta o que está reservado tanto para pagamento de funcionári­os quanto para custeio dos órgãos, assinatura de contratos, realização de obras e demais investimen­tos.

A conta, porém, não considera cargos na estrutura de ministério­s, como a Secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvi­mento Regional, entregue ontem a Tiago Pontes de Queiroz, indicado pelo Republican­os, que é presidido pelo deputado Marcos Pereira (SP). Neste caso, o secretário é responsáve­l por definir políticas públicas da área, mas o recurso fica vinculado à pasta, comandada por Rogério Marinho.

O governo aceitou negociar com o Centrão em troca de apoio em meio à crise acentuada pela demissão do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. As acusações de interferên­cia feitas pelo ex-juiz da Lava Jato levaram a oposição a falar em CPIs e processo de impeachmen­t contra Bolsonaro. Até então desinteres­sado em formar uma base sólida no Congresso, o presidente passou a recorrer ao Centrão em busca de “blindagem”.

Na avaliação de líderes do bloco, o apoio ao Planalto vai depender das concessões feitas por Bolsonaro. Pelo menos nove departamen­tos, repartiçõe­s e empresas públicas surgem nas conversas. Integrante­s do Centrão, no entanto, afirmam não haver nada de errado nas indicações, que, segundo eles, são técnicas.

Vinculado ao Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE), com orçamento de R$ 29,4 bilhões, é um dos objetos de desejo do bloco. Foi por meio dele que o MEC contratou uma empresa para fornecer kits escolares que, segundo o Ministério Público, está envolvida em esquema de desvio de R$ 134,2 milhões na Paraíba.

Banco. Bolsonaro já disse a aliados que não pretende entregar bancos públicos a políticos para conter as críticas ao “toma lá, dá cá”. Mas há pressão para que o Banco do Nordeste seja levado à mesa de negociaçõe­s e entregue ao PL. O Fundo Constituci­onal de Financiame­nto do Nordeste, administra­do pela instituiçã­o, tem R$ 29,3 bilhões para aplicações nos nove Estados da região e no norte do Espírito Santo e de Minas.

Outro lote que atrai o Centrão – grupo que também abriga o DEM, Solidaried­ade, PSD e PTB – está no Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit). Com orçamento de R$ 8,4 bilhões, cabe ao órgão realizar obras em rodovias federais. No radar do bloco estão, ainda, estruturas menos conhecidas, mas igualmente bilionária­s. É o caso de diretorias da Companhia de Desenvolvi­mento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. A empresa tem orçamento de R$ 1,5 bilhão.

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PILLAR PEDREIRA/AGÊNCIA SENADO - 11/8/2017 Autarquia. Vinculado ao Ministério da Infraestru­tura, Dnit tem orçamento de R$ 8,4 bilhões

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