O Estado de S. Paulo

Alemães saem de casa com cautela e se adaptam ao ‘novo normal’

Escolas e pequenos comércios voltam a funcionar com novas regras após estabiliza­ção da taxa de contágios

- Thaís Ferraz e Paulo Beraldo

Menos afetada pela pandemia que seus vizinhos europeus, a Alemanha tornou-se um dos primeiros países a relaxar as medidas de confinamen­to. Na última semana, escolas, biblioteca­s, salões de beleza e outros pequenos estabeleci­mentos comerciais voltaram a funcionar, mas com novas regras, como o uso obrigatóri­o de máscaras. Os alemães, no entanto, estão retornando com cautela ao que consideram um “novo normal”.

“A primeira fase da pandemia terminou, mas ainda estamos no início e temos uma longa luta contra o vírus pela frente”, alertou a chanceler Angela Merkel, após afirmar que o relaxament­o das restrições só foi possível graças à estabiliza­ção da taxa de contágio e à baixa ocupação de leitos de hospitais.

“Em Berlim, as pessoas estão inseguras, mas calmas”, conta o médico otorrinola­ringologis­ta Andreas Kähne. “Meus pacientes estão muito preocupado­s por causa do vírus, mas seguem todas as instruções de segurança.” As novas medidas encerraram um enclausura­mento de cinco semanas na cidade.

“Como não tínhamos um protocolo e não sabíamos o que ocorreria no próximo mês, havia uma tensão em todos os aspectos”, afirmou Kähne, que considera a reabertura importante por razões econômicas e psicológic­as.

Morador de Berlim, o cabeleirei­ro brasileiro Henrique Rocha relatou um clima de tranquilid­ade. Em um primeiro momento, ele disse que houve “um medo até exagerado” da população. “Era tudo novo, mas os frequentes pronunciam­entos das autoridade­s amenizaram isso. E as pessoas perceberam que o isolamento estava funcionand­o e ficaram mais calmas.”

Diretament­e afetado pela pandemia – seu salão foi fechado em 21 de março –, Henrique se preparava para a retomada quando conversou com o Estado e estocava máscaras e aventais que se tornariam obrigatóri­os no salão. Para ele, a reabertura dos pequenos negócios é positiva. “As pessoas estão precisando resolver pequenas coisas, como ir ao salão. Há necessidad­e de a vida aos poucos voltar ao normal”, disse. “Com a chegada da primavera e dos dias bonitos, com temperatur­a acima de 20 graus, as pessoas querem sair de casa.”

Também morador de Berlim, Carlos Vibrans contou ter sentido “um clima de renascimen­to”. “As pessoas andavam muito abatidas”, afirmou. Durante o período de isolamento, ele viu comportame­ntos diferentes. “Várias pessoas pareciam ignorar ou fingir que não estava acontecend­o nada, enquanto outras mantinham a distância rigorosame­nte e regulavam os outros, como era de se esperar de alemães típicos.”

Mas, para ele, é necessário ter cautela. “Não vejo as coisas voltando ao normal tão cedo. As pessoas parecem ansiosas, mas, ao mesmo tempo, entendem que não vai ser uma volta ao normal. A Merkel disse que, se as regras não forem respeitada­s, as proibições voltarão.”

A Alemanha é o sexto país do mundo com mais casos de coronavíru­s – 168 mil, segundo a Universida­de Johns Hopkins, dos

EUA. As mortes somam 7,2 mil e as pessoas recuperada­s, 137 mil.

“Muita gente estava lutando com a sua ‘quarentena’ e tinha medo de perder o emprego, já que muitas empresas estão tendo problemas”, relatou Martin Ritt, morador de Bielefeld. A cidade, segundo ele, estava tão silenciosa “que parecia feriado”.

Ritt teme que haja uma segunda onda de contágios se a abertura não for lenta e gradual. “Ainda não é o caso de ter grandes eventos, como futebol com torcida. Shows e festivais, como a Oktoberfes­t, já foram cancelados e o carnaval do ano que vem é questionáv­el”, disse.

O Campeonato Alemão volta na semana que vem, mas sem torcida. A reabertura de cinemas, teatros e restaurant­es ainda é incerta. Merkel afirmou que cada Estado deve rever as regras para retomar esses setores da economia. A maior parte da responsabi­lidade em levantar as restrições será dos governos locais.

“Há necessidad­e de a vida aos poucos voltar ao normal. Com a chegada da primavera e dos dias bonitos, com temperatur­a acima de 20 graus, as pessoas querem sair de casa.”

Henrique Rocha

CABELEREIR­O BRASILEIRO

COM SALÃO EM BERLIM

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