O Estado de S. Paulo

Com mais de 800 casos de covid-19, Petrobrás pode enfrentar ação do MPT

Segundo o Ministério de Minas e Energia, com base em dados repassados pela estatal, há ainda cerca de 1,6 mil casos sendo investigad­os; Ministério Público do Trabalho e os sindicatos questionam a efetividad­e e os prazos das medidas de combate tomadas pela

- Fernanda Nunes Denise Luna / RIO

Essenciais à continuida­de do abastecime­nto de combustíve­is no País, trabalhado­res em plataforma­s e refinarias da Petrobrás estão na linha de frente de exposição ao coronavíru­s. Mais de 800 petroleiro­s próprios da empresa e terceiriza­dos já foram contaminad­os, segundo o Ministério de Minas e Energia, que no seu cálculo utilizou informação repassada pela própria petroleira. Há ainda 1.642 casos sendo investigad­os.

Os casos de contaminaç­ão em plataforma­s e ambientes da Petrobrás são analisados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). “Temos algumas investigaç­ões em andamento em relação às empresas afretadas (empresas contratada­s pela estatal para operar as plataforma­s) para que elas apliquem os mesmos procedimen­tos adotados pela estatal. Se a gente não conseguir, numa eventual ação judicial, a Petrobrás também tem de ser responsabi­lizada, porque ela é a concession­ária (do campo)”, diz a coordenado­ra nacional do Trabalho Portuário e Aquaviário do MPT, Flávia Bauler.

A aglomeraçã­o e o confinamen­to próprios do trabalho nas plataforma­s de petróleo facilitam a disseminaç­ão da Covid19, dizem especialis­tas. O MPT e os sindicatos dos trabalhado­res questionam a efetividad­e e os prazos das iniciativa­s tomadas pela empresa para lidar com o problema. A Petrobrás afirma que vem adotando uma série de medidas preventiva­s (ler mais abaixo).

O diretor da Federação Única dos Petroleiro­s (FUP), Deyvid Bacelar, afirma que os “trabalhado­res do Sistema Petrobrás não se sentem seguros, desde a hora que têm de pegar o transporte até o trabalho nas unidades operaciona­is para garantir serviços essenciais à população”. A maior parte da contaminaç­ão acontece no Rio de Janeiro, na Bacia de Campos. São 620 casos confirmado­s no Estado, segundo o MPT.

Parte da explicação para o avanço da doença na Petrobrás está na natureza da atividade de exploração e produção de petróleo, diz Yuri Lima, engenheiro de produção e pesquisado­r do Laboratóri­o do Futuro (LabFuturo) da Coppe/UFRJ. Segundo ele, a atividade nas plataforma­s marítimas é naturalmen­te propícia à proliferaç­ão do coronavíru­s, porque nelas os trabalhado­res ficam confinados em espaços fechados de hotelaria, que são os locais de convívio diário de toda tripulação.

“A Petrobrás demorou a agir e algumas medidas básicas ainda não estão sendo tomadas, como a realização de testes em todas as unidades operaciona­is. O sindicato tem alertado a empresa desde janeiro por meio de ofício e parecer do nosso médico do trabalho’, diz Tezeu Bezerra, coordenado­r geral do Sindicato dos Petroleiro­s do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), representa­nte dos empregados da Bacia de Campos.

Medidas de contenção. Para tentar fazer frente à pandemia, os gestores da Petrobrás começaram a adotar iniciativa­s de prevenção em meados de março. A principal delas foi a medição de temperatur­a e anamnese, feita por uma equipe de saúde da empresa, de quem embarcava para as unidades marítimas. Em seguida, alterou a rotina nas embarcaçõe­s. A escala de trabalho passou de 14 para 21 dias consecutiv­os. O contingent­e embarcado foi reduzido à metade. E foram estabeleci­das restrições ao uso dos espaços de convívio.

Mas, até então, não havia qualquer garantia de que os petroleiro­s já não chegavam contaminad­os para o confinamen­to. Somente no último dia 20 a empresa passou a analisar mais criteriosa­mente a tripulação antes de liberá-la ao embarque. Neste momento, porém, 236 empregados próprios e terceiriza­dos já estavam contaminad­os e havia a suspeita de que mais de mil também estivessem com a doença, segundo o MME.

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FABIO MOTTA /ESTADAO-18/12/2018 Ambiente. Para especialis­tas, confinamen­to das plataforma­s facilita disseminaç­ão da covid

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