O Estado de S. Paulo

Profission­ais trocam startup por tradição

Onda de demissões em startups, como a ‘unicórnio’ Gympass e o banco digital C6, tem levado os profission­ais de tecnologia, que davam preferênci­a a trabalhar em empresas emergentes, a assumir posições em companhias tradiciona­is, em busca de mais segurança

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo

Com as demissões causadas pela pandemia, trabalhado­res de startups estão migrando para empresas tradiciona­is.

Em um país que mesmo antes da pandemia de coronavíru­s tinha desemprego próximo de 12%, a falta de mão de obra em tecnologia permitia que esses profission­ais pudessem escolher onde trabalhar. Essa vantagem competitiv­a não deve desaparece­r no longo prazo – na semana passada, a consultori­a McKinsey divulgou estudo prevendo que o Brasil terá escassez de 1 milhão de trabalhado­res no setor até 2030. Mas, no curto prazo, com milhares de demissões em startups por causa da pandemia de coronavíru­s, até esse grupo passou a valorizar o fator segurança. E muitos estão trocando startups por companhias tradiciona­is.

O presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Amure Pinho, admite a ofensiva de grandes negócios por trabalhado­res formados nas 13,5 mil empresas nascentes do País. “Muitas startups tiveram de demitir e isso colocou muita gente competente à disposição das companhias que buscam acelerar seus projetos digitais”, afirma. Entre as empresas que estão aproveitan­do os dias de isolamento social para tentar “virar a chave” para o digital estão Grupo Boticário, Guararapes (controlado­ra da Riachuelo) e Via Varejo (dona da Casas Bahia).

O trabalho de quem “caça” esse tipo de profission­al foi facilitado pelas circunstân­cias, segundo Luana Castro, responsáve­l pela área de TI na consultori­a de recursos humanos Michael Page. Segundo estudo da consultori­a, a demanda por profission­ais se estende por todos os níveis hierárquic­os – de analistas que recebem a partir de R$ 4 mil a executivos de ciência de dados que podem ganhar quase R$ 30 mil. E ela diz que a busca de empresas tradiciona­is por esses profission­ais está compensand­o o fechamento de vagas em startups. “Essas pessoas não têm problemas em se recolocar. Isso não mudou”, ressalta a executiva.

Nova realidade. O que mudou, segundo a especialis­ta, foi a disposição em ouvir propostas de negócios tradiciona­is. “Antes, era comum o profission­al nem retornar o contato. Agora, está todo mundo conversand­o.” Demissões em startups como a unicórnio Gympass, a Max Milhas e o banco digital C6, obrigaram esses profission­ais a mudar de postura. “O fator segurança passou a entrar na conta”, diz Luana, da Michael Page.

Com 50 vagas abertas em TI, o banco Bexs é uma espécie de “mix” de empresa tradiciona­l e startup, uma vez que mais recentemen­te se especializ­ou principalm­ente em processar pagamentos de produtos e serviços comprados no exterior, apesar de ter 30 anos de estrada. O presidente do Bexs, Luiz Henrique Didier Júnior, afirma que hoje está “um pouco mais fácil” de encontrar profission­ais. “Antes, disputava a preferênci­a com as startups. Agora, minha briga é com as grandes empresas tradiciona­is.”

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