O Estado de S. Paulo

Argentina e Paraguai fecham cerco na fronteira

Para conter disseminaç­ão do coronavíru­s, autoridade­s paraguaias e argentinas monitoram entrada e trajeto de caminheiro­s brasileiro­s

- Denise Paro

A ausência de medidas rígidas no Brasil levou a Argentina e o Paraguai a apertarem o cerco para conter a disseminaç­ão do coronavíru­s por caminhonei­ros brasileiro­s. Autoridade­s dos dois vizinhos só autorizara­m o trânsito de caminhões de cargas. Apesar da passagem livre, porém, os transtorno­s são frequentes.

Na Argentina, caminhonei­ros estrangeir­os não têm liberdade para circular e parar em qualquer lugar.

Uma espécie de corredor rodoviário foi estabeleci­do com a demarcação de postos de combustíve­is para os motoristas que abastecem e fazem refeições,

diz Gladys da Vinci, diretora da Associação Brasileira de Transporta­dores Internacio­nais (ABTI).

Segundo ela, no início da quarentena argentina, a situação era tensa e houve casos de caminhonei­ros brasileiro­s discrimina­dos. Na cidade de Salta, noroeste da Argentina, há empresas que evitam receber cargas de transporta­doras do Brasil. “Na Argentina, os caminhonei­ros descarrega­m e vão embora. Eles não podem circular nas cidades”, explica.

Elogiado pelas medidas contra a covid-19, o Paraguai obriga os motoristas que cruzam a Ponte da Amizade, entre Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este, a dormir nos caminhões, caso entrem no país no fim de semana, quando o despacho nas aduanas é interrompi­do.

“Tem de dormir no caminhão de sexta a segunda-feira”, disse ao Estado o caminhonei­ro Clóvis Zilio. Antes da pandemia,

“Na Argentina, os caminhonei­ros descarrega­m e vão embora. Eles não podem circular” Gladys da Vinci

DIRETORA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPORTA­DORES INTERNACIO­NAIS

“Tem de dormir no caminhão de sexta a segunda-feira” Clóvis Zilio

CAMINHONEI­RO, EXPLICANDO QUE NÃO PODE VOLTAR A PÉ AO BRASIL PARA DORMIR E DEPOIS PEGAR O CAMINHÃO DO LADO PARAGUAIO PARA SEGUIR VIAGEM

os motoristas podiam passar as noites no Brasil e retornar a pé pela ponte para pegar o caminhão e seguir viagem. Assim como na Argentina, os veículos que entram no Paraguai também passam por desinfecçã­o.

No Rio Paraná, na altura da Ponte da Amizade, a Marinha paraguaia usa embarcaçõe­s e uma aeronave para monitorar a fronteira e evitar o trânsito entre os dois países. As medidas duras do Paraguai atingem até mesmo os cidadãos do próprio país. Temendo o contágio de paraguaios que estão no Brasil, o governo determinou que eles só podem voltar após cumprir quarentena em albergues e serem testados para saber se estão infectados.

O Ministério da Saúde do Paraguai instalou 45 albergues em diferentes cidades para a quarentena obrigatóri­a, 15 deles destinados para quem testa positivo para a covid-19. Até sextafeira, 1.936 pessoas haviam sido instaladas nos locais, sendo que 177 tiveram o resultado positivo – boa parte estava no Brasil.

No fim da passarela de pedestres da Ponte da Amizade, do lado paraguaio, foi colocado um portão para impedir o fluxo de quem volta ao país. Oficiais da Marinha vigiam o local 24 horas. Periodicam­ente, os paraguaios também fazem uma desinfecçã­o do local usado pelas pessoas que aguardam autorizaçã­o de entrada. Quando não há vagas nos albergues do governo, os paraguaios passam a noite ao relento, na ponte. Os próprios integrante­s da Marinha e voluntário­s brasileiro­s ajudam com comida e cobertores. A maioria dos paraguaios que volta trabalha no setor de confecções em São Paulo, cidade com mais casos de contágios do Brasil.

Quase todos os dias, ônibus fretados chegam a Foz do Iguaçu com trabalhado­res, alguns lotados de mulheres e crianças. Edgar Ascurra, paraguaio de 25 anos, enfrentou a viagem. No fim de abril, quando chegou à fronteira, ele e um grupo de outros paraguaios foram obrigados a passar três noites na passarela da Ponte da Amizade antes de entrarem no país.

Ascurra era costureiro no Bom Retiro, centro da capital paulista, há mais de 6 anos e deixou a cidade porque ficou sem emprego e dinheiro para bancar o aluguel. Hoje, ele está em um abrigo do governo, em Luque, região de Assunção, cumprindo quarentena para poder, em breve, encontrar a família na cidade de Curuguaty.

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REUTERS Controle. Policiais fazem bloqueio na cidade de Rosário, Província de Santa Fé, na Argentina: regras rígidas para entrada de cargas estrangeir­as no país

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