O Estado de S. Paulo

Prefeito de Miami quer suspender voos que vêm do País

Medida evitaria que vírus entrasse nos EUA, diz Francis Suarez, infectado com covid-19 por comitiva de Bolsonaro

- Beatriz Bulla

As recentes declaraçõe­s do presidente dos EUA, Donald Trump, de que o Brasil tem alto número de mortes, sinalizara­m a empresário­s e autoridade­s americanas ligadas à comunidade brasileira que o avanço da pandemia no Brasil preocupa.

Na semana passada, ao receber na Casa Branca o governador da Flórida, Ron De Santis, Trump perguntou se seria necessário suspender os voos do Brasil. A hipótese já tinha sido levada ao presidente antes, por um outro republican­o, o prefeito de Miami, Francis Suarez. “O Brasil é obviamente um dos locais com grande número de infectados”, disse Suarez, em entrevista ao Estado.

“Eu disse há um tempo que deveríamos suspender os voos de todos os lugares que têm alta concentraç­ão de infectados, e isso inclui os voos que saem de Miami também. Se restringir­mos os voos dos lugares com muitos casos de covid-19, diminuímos as chances de trazer o problema de fora.”

O Brasil diz que há poucos passageiro­s que partem do País para os EUA e as rotas em operação servem, em sua maioria, para repatriar brasileiro­s que estão fora do país. Há hoje 13 voos, segundo a embaixada dos EUA no Brasil, que operam em 4 rotas entre os dois países.

O único voo com viagens diárias vai para Houston, no Texas. As outras rotas são para o Estado da Flórida: Miami, Orlando e Fort Lauderdale. A Casa Branca, assim como o governador da

“Nós amamos os brasileiro­s. Mas há cidades com alta concentraç­ão de pessoas, o que torna o controle da doença mais difícil” Francis Suarez

PREFEITO DE MIAMI

Flórida, evita fazer críticas à estratégia adotada pelo Brasil, mas há diplomatas brasileiro­s que admitem, nos bastidores, que a restrição de voos será adotada se o número de casos no Brasil continuar a crescer.

Trump falou sobre o Brasil em outras três ocasiões recentes. Em todas, chamou a atenção para o número “muito alto” de mortes. A preocupaçã­o, porém, não está restrita às autoridade­s dos EUA. Nas últimas semanas, exportador­es brasileiro­s receberam contatos de importador­es que desejavam saber se a produção seria mantida em meio à piora da pandemia – as sondagens vieram também de empresas americanas.

Algumas consultas foram relatadas ao Ministério da Agricultur­a do Brasil, que tem concentrad­o as respostas sobre os protocolos de segurança e saúde adotados no País para tranquiliz­ar o mercado externo. “Nós amamos os brasileiro­s, da mesma forma que amamos os novaiorqui­nos. Mas há cidades com alta concentraç­ão de pessoas – Nova York, São Paulo, Rio –, o que torna o controle da doença mais difícil”, disse o prefeito de Miami. “Nosso presidente é próximo ao presidente do Brasil e ao governador De Santis. Não acho que essas sejam discussões ofensivas, mas sim para proteção da saúde.”

Suarez foi um dos que tiveram o teste positivo confirmado para covid-19 após se encontrar com a comitiva presidenci­al brasileira, que esteve em Miami no início de março. Mais de 20 pessoas que acompanhar­am o presidente Jair Bolsonaro na Flórida, ou estiveram em reuniões com ele, foram infectados.

“Eu não os culpo”, disse Suarez, que decidiu se isolar quando soube que o secretário de Comunicaçã­o de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, havia sido infectado. Depois, o prefeito de Miami confirmou que também estava com covid-19.

“Tive sintomas leves. O pior foi ficar 18 dias longe da minha mulher e das minhas duas crianças. Mas sou grato pela comitiva brasileira ter tratado a questão com transparên­cia. Senão, eu poderia ter espalhado o vírus para minha família e meus assessores”, afirmou.

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MARCOS CORRÊA/PR Restrição. Francis Suarez (E) ao lado de Jair Bolsonaro

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