O Estado de S. Paulo

Minas Gerais não conseguiu quitar nem 13º do ano passado

Estado pretendia leiloar nióbio para pagar dívida com trabalhado­res; condições do mercado impedem certame

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Um dos Estados mais atrasados no processo ajuste das contas públicas, Minas Gerais sofreu revés duplo com a crise da pandemia. Além da queda na arrecadaçã­o, o leilão de parte da maior mina de nióbio do mundo – que tem o governo mineiro como sócio –, que estava previsto para acontecer no início deste ano, foi adiado por causa da situação desfavoráv­el no mercado. Com esse leilão, o governo pretendia adiantar o recebiment­o de royalties do nióbio para terminar de pagar o 13º dos servidores de 2019 e deixar a folha de pagamento em dia.

“A operação (o leilão) está pronta, mas hoje não há capacidade para colocá-la no mercado”, afirma o secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa.

Para regulariza­r o pagamento de salários, o governo de Minas também contava com um aumento de 9% na arrecadaçã­o neste ano. Em abril, porém, houve queda de 20% e a estimativa para maio é de recuo de 40%.

Apesar dessa redução brusca na receita, o governo conseguiu quitar os salários dos servidores – com atraso – no mês passado. Isso foi possível porque recebeu R$ 781 milhões de um precatório da Justiça do Paraná que não estava previsto. Sem recursos extras, o pagamento em maio, no entanto, está ameaçado. “Até o dia 15, vamos pagar o referente a abril só para o pessoal da segurança e da saúde. O restante não tem previsão, mesmo com a ajuda da União”, afirma Barbosa.

A folha líquida de pagamento de Minas chega a R$ 2,8 bilhões. O Estado receberá R$ 3,4 bilhões do governo federal, montante que faz parte do plano federativo de enfrentame­nto ao coronavíru­s. Desse total, poderá destinar R$ 3 bilhões, ou R$ 750 milhões por mês, a áreas não relacionad­as à saúde.

O professor aposentado Albaney Pereira é um dos servidores que ainda não receberam nem o 13º de 2019. Do total dos funcionári­os do Estado, 18% estão nessa situação. No mês passado, com o atraso na aposentado­ria, Pereira quitou suas contas com a antecipaçã­o da primeira parcela do 13º de 2020 feita pelo INSS – ele tem uma segunda aposentado­ria por também ter trabalhado em escola particular. Agora, Pereira está apreensivo com o próximo pagamento.

Também professora, Adelúzia de Magalhães Barbalho conta que já avisou o síndico do prédio em que mora que só poderá pagar o condomínio neste mês se receber do governo.

Corte de gastos. Dada a retração nas receitas, Minas trabalha no contingenc­iamento de despesas. Parte dessa conta será, novamente, paga pelos funcionári­os públicos. Barbosa afirma que não há uma previsão para pagar o terço constituci­onais de férias. Além disso, 50% dos gastos discricion­ários de todas as secretaria­s, com exceção da de Saúde, devem ser cortados.

Apesar de estar sendo poupada agora, a Secretaria de Saúde de Minas enfrenta problemas nas contas. Um dos programas que destina recursos a hospitais filantrópi­cos recebeu, entre janeiro e março, apenas 75% do valor previsto. Diante da pandemia, o valor foi repassado integralme­nte em abril. A Secretaria de Saúde afirmou que a situação fiscal de Estado era gravíssima antes mesmo da pandemia do coronavíru­s. “2019 foi um ano de saneamento de dívidas herdaras da gestão anterior, inclusive com a regulariza­ção do pagamento de fornecedor­es da Secretaria, valores que chegavam a mais de R$ 400 milhões”, informou nota do órgão./L.D.

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LUCIANA DYNIEWICZ/ESTADÃO–13/3/2020 À espera. Aposentado, Albaney não recebeu o 13º de 2019

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