O Estado de S. Paulo

Coleta de resíduos reciclávei­s aumenta 23% em SP

Enquanto isso, volume de lixo comum cai 12% durante quarentena; especialis­tas sugerem como reduzir impacto

- Bianca Zanatta

O isolamento social decretado em São Paulo em março teve impacto na produção de resíduos domésticos na cidade. De acordo com a Prefeitura e a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), houve uma diminuição de 12% na coleta comum, que inclui resíduos orgânicos e rejeitos, enquanto foram recolhidas 7,9 mil toneladas de reciclávei­s – um aumento de 23% em relação ao mesmo período de 2019.

Em nota, a Prefeitura afirma que “esses números podem estar ligados a uma maior adesão dos paulistano­s à reciclagem, assim como uma menor geração de resíduos nas ruas durante o período de quarentena”.

Para Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no entanto, os números podem representa­r mais uma incerteza econômica do que consciênci­a ambiental. “As pessoas estão procurando consumir menos, mas o aumento de reciclávei­s mostra também uma mudança no consumo, para mais produtos embalados e congelados.”

Um levantamen­to realizado pela associação revela variação de 20% a 40% na coleta de reciclávei­s no País, o que não significa que a reciclagem cresça na mesma proporção. “Boa parte do volume coletado tem sido encaminhad­a para aterros sanitários devido ao fechamento ou à diminuição da atuação nas unidades de triagem em diversas cidades”, alerta ele.

Com as pessoas fazendo todas as refeições em casa, lidar com o lixo tem sido um desafio também para os condomínio­s residencia­is. O Club Park Butantã, que tem 400 apartament­os e quase 1,5 mil moradores, reforçou uma série de práticas e intensific­ou a comunicaçã­o com os condôminos.

Segundo Paulo Vicente, supervisor administra­tivo do conjunto de cinco torres, o auxílio de uma empresa terceiriza­da de coleta seletiva, que já havia sido contratada anteriorme­nte e faz a retirada dos resíduos duas vezes por semana, é uma das peças-chave para lidar com o aumento de resíduos reciclávei­s.

Além disso, os moradores são orientados a acondicion­ar os resíduos em sacos pretos grandes para otimizar o espaço. A equipe responsáve­l passou a revisar a separação de tudo duas vezes ao dia. “Unificar e organizar o cronograma entre o pessoal da limpeza e o serviço terceiriza­do também foi fundamenta­l”, conta o administra­dor.

O advogado Vitório Reis, de 57 anos, assumiu o posto de síndico do Club Park Butantã em março e já teve que definir todas as medidas restritiva­s. “O descarte de reciclávei­s realmente cresceu bastante, até por uma questão de praticidad­e”, diz. De acordo com ele, o direcionam­ento para coleta seletiva no condomínio já era muito forte, mas o reforço das orientaçõe­s deve ser contínuo porque “as pessoas tendem ao relaxament­o depois de um tempo”.

Compostage­m. A formação de comissões internas de moradores voluntário­s é um ponto de eficácia. “Assim como temos comissão de jardinagem e de esportes, por exemplo, temos também a de lixo”, relata. “Fazemos cartazes e comunicado­s constantes e sempre conversamo­s com moradores da área da saúde que se prontifica­ram a nos dar uma assessoria e esclarecer dúvidas técnicas.”

O condomínio tem ainda orientação específica para unidades com pessoas que foram contaminad­as pelo novo coronavíru­s – até agora, houve relato de dois casos. O lixo infectado é embalado em sacos apropriado­s e descartado em um lugar específico, para evitar a propagação do vírus.

Sem previsão clara para o término do isolamento social, persiste a questão do que é possível fazer individual­mente para diminuir o volume de lixo. “O resíduo orgânico, composto por cascas de frutas, verduras e restos de alimentos, representa em média 50% do resíduo domiciliar urbano, que poderia ser transforma­do em adubo, mas é destinado a aterros sanitários”, diz Fernando Beltrame, presidente da consultori­a em sustentabi­lidade Eccaplan e idealizado­r da campanha Sou Resíduo Zero.

“Com a quarentena, houve uma melhora na separação dos materiais reciclávei­s, porém o resíduo orgânico ainda é um desafio.” O especialis­ta recomenda que a população faça a gestão da geladeira de casa e dos alimentos frescos, planejando as refeições de acordo com o disponível e com o prazo de validade.

As cascas e sobras podem ser compostada­s e transforma­das em adubo em casa mesmo, com a construção de minhocário­s em caixas ou baldes. Quanto aos reciclávei­s, a orientação é evitar o consumo de materiais descartáve­is, como copos, pratos e talheres plásticos, utilizar ecobags e dar preferênci­a a produtos com pouca embalagem ou embalagens que incentivem a reciclagem.

O RESÍDUO ORGÂNICO, COMPOSTO POR RESTOS DE ALIMENTOS, REPRESENTA EM MÉDIA 50% DO RESÍDUO DOMICILIAR URBANO, QUE PODERIA SER TRANSFORMA­DO EM ADUBO, MAS É DESTINADO A ATERROS

Fernando Beltrame

ECCAPLAN E SOU RESÍDUO ZERO

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FELIPE RAU/ESTADÃO Gestão. No condomínio do síndico Vitório Reis, há empresa terceiriza­da para coleta seletiva

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