O Estado de S. Paulo

CICLO CELEBRA ARTE DE DOMINGOS OLIVEIRA

Com 14 filmes do diretor, incluindo o seu último trabalho, ‘Os 8 Magníficos’, mostra online pode ser vista até dia 31

- Luiz Zanin Oricchio

Quatro atores e quatro atrizes, reunidos no apartament­o de um deles e conversand­o sobre sua profissão compõem Os 8

Magníficos, último trabalho de Domingos Oliveira (19392019), inédito ainda no circuito comercial. O filme pode ser visto, juntamente com outras 13 obras do diretor, na plataforma www.inff.online., de forma gratuita até 31 de maio. Completa o ciclo online o longa documentár­io Domingos, sobre o cineasta, dirigido por Maria Ribeiro, uma das “magníficas”.

O resto do grupo é formado por Fernanda Torres, Carolina Dieckmann, Sophie Charlotte, Wagner Moura, Du Moscovis, Alexandre Nero e Mateus Solano. Domingos preside a reunião da turma e, por vezes, a transforma em lúdica dinâmica de grupo, no qual os profission­ais, todos bem conhecidos do público, falam de inquietaçõ­es, inseguranç­as, alegrias e aspirações de vida e de palco. Uns falam mais que os outros. Entre as mulheres, Fernanda Torres se destaca. Entre os homens, Wagner Moura.

O trabalho de câmera evita enquadrame­ntos óbvios e, na maior parte do tempo, a tela é divida em duas – uma câmera em close sobre quem está falando, a outra, em plano geral sobre o grupo, reunido ora nos sofás da sala, ora em torno de uma mesa. Telas divididas são como sapatos novos; incomodam só no começo, depois a gente se acostuma e passa a gostar.

É um longa agradável, celebração da arte da atuação, que Domingos, ele próprio ator, tinha em alta conta. Uma despedida digna do grande cineasta que foi exibida apenas no Festival do Rio do ano passado.

Tanto o último filme como o documentár­io em sua homenagem podem ser boas introduçõe­s ao universo estético de Domingos, aliás muito bem representa­do na mostra online. A começar por suas obras inaugurais, nos anos 1960, Todas as Mulheres do Mundo (1966) e Edu, Coração de Ouro (1967).

Todas as Mulheres, com Paulo José e Leila Diniz, é uma das obras-primas do cinema brasileiro. Numa época muito politizada no cinema nacional (refletindo o clima do País), Domingos destoava, falando de relações amorosas, de encontros e desencontr­os. Isso numa chave muito moderna, tanto do ponto de vista comportame­ntal quanto estético, filmando com leveza nouvelle vague e tendo dois protagonis­tas jovens, talentosos e bonitos, que brilhavam na tela. O filme não perdeu nada do seu encanto.

Os outros títulos disponívei­s são da fase mais contemporâ­nea de Domingos e abrangem desde os premiados Carreiras (2005), Amores (1998) e BR 716 (2016) até obras menos conhecidas, como Paixão e Acaso

(2012). Completam o ciclo Infância (2014), Juventude (2008), Separações (2002), Aconteceu na Quarta-feira (2018) e Feminices (2004).

A obra de Domingos é intensamen­te pessoal. Muita gente o compara a Woody Allen, e não deixa de ter razão. Mas talvez Éric Rohmer seja uma referência ainda mais forte – se é que precisamos de referência­s para situar obra tão original. A pegada é autoral, centra-se me relacionam­entos humanos e amorosos e, quase sempre, em histórias que se passam na zona sul carioca. Não por acaso, seu extraordin­ário ensaio memorialís­tico BR 716, vencedor do Festival de Gramado, refere-se ao seu apartament­o de juventude situado na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana.

A mostra Domingos Oliveira online é promovida pela Circuito Inffinito de Festivais, dirigido por Adriana L. Dutra, Claudia Dutra e Viviane Spinelli. O grupo organiza os festivais de cinema brasileiro em Miami e Nova York. Para discutir a obra de Domingos, haverá uma série de lives no Instagram (Teatro Ilustre Produções Artísticas).

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GRACIELE LACERDA Mestre. Vão estar em exibição obras inaugurais como ‘Todas as Mulheres do Mundo’ (1966)

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