O Estado de S. Paulo

A DESPEDIDA DO SENHOR ROCK AND ROLL

Artista que definiu as bases do rock nos anos 50, Richard morreu aos 87 anos, nos EUA

- Guilherme Sobota

Little Richard, um dos nomes mais importante­s da música popular no século 20, morreu neste sábado, 9, aos 87 anos. A informação foi confirmada pelo seu filho, Danny Penniman, à revista americana Rolling Stone. A causa, segundo o advogado do músico, Bill Stone, seria um câncer nos ossos.

Desde os anos 1950, Little Richard — o nome artístico de Richard Wayne Penniman — foi a voz de diversos sucessos do rock and roll, como Tutti-Frutti, Long Tall Sally, Good Golly Miss Molly, Lucille, e diversos outros.

Ao mesmo tempo influencia­do pelo gospel e pelo blues, de personalid­ade explosiva e uma habilidade única ao piano, Richard é hoje considerad­o um dos pais do rock and roll como o conhecemos, e suas músicas se tornaram parte do cânone do gênero pelas gerações seguintes.

Richard nasceu em dezembro de 1932, em Macon, Georgia, local marcado pela segregação racial, e tocou saxofone na banda da escola. Aos 14 anos, como a “Princesa Lavonne, a excentrici­dade do ano”, Richard se apresentou vestido de mulher no show de Sugarfoot Sam, um artista local.

Em casa, sempre cantou muito alto, e ganhou o apelido de “War Hawk” (falcão de guerra). De família religiosa, cantava nos cultos da New Hope Baptist Church, uma igreja pentecosta­l que privilegia­va a música. De 1955 a 1958, conheceu o sucesso.

A gravação de Tutti Frutti — música considerad­a a “mãe” do rock — aconteceu meio que por acaso em 1955. Na época, a Atlantic Records investia para tornar o jovem Richard numa espécie de rival de Ray Charles e contratou músicos que trabalhava­m com Fats Domino para uma sessão com Richard. No início, nada de especial aconteceu. De repente, no estúdio, ele começou a martelar seu piano e a gritar “Tutti Frutti”, além de vocalizar a batida da bateria: “a-wop-bopa-loo-lop-a-lop-bam-boom”. Ele havia bolado o ritmo trabalhand­o em meio período como ajudante numa estação rodoviária.

Depois vieram outras faixas, como Long Tall Sally , Lucille e participaç­ões em filmes como The Girl Can't Help It, tudo ainda nos anos 1950, quando Richard “largou” a música pela primeira vez. Ele voltou à igreja e seus próximos passos se deram no campo gospel.

Ele retornou ao rock secular em 1964, saudado por jovens talentos como os Rolling Stones e Bob Dylan. Quando tocou em Hamburgo a banda de abertura era os Beatles. “A gente ficava nos bastidores do Star-Club em Hamburgo assistindo a Little Richard tocar”, disse John Lennon mais tarde. “Ele costumava ler a Bíblia e a gente sentava em volta só para ouvir ele falar. Eu ainda o amo e ele é um dos maiores.”

Nos anos 1970, ele ainda desfrutava de um destaque no circuito do rock and roll, com performanc­es enérgicas e martelando o piano, ao mesmo tempo em que lutava contra o vício em drogas e seguia na igreja.

Ao longo da vida, a sexualidad­e de Richard foi tema constante de especulaçõ­es. Seus trejeitos extravagan­tes e visual andrógino, especialme­nte no início da carreira, deram o tom para muitos outros artistas que surgiriam nos anos seguintes, como Elton John, David Bowie e Prince.

Nos anos 1980, participou de filmes como Um Vagabundo na Alta Roda (Down and Out in Beverly Hills) e das séries de TV Três é Demais e Miami Vice. Em 1986, foi conduzido ao Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll como um dos “10 originais”, e, em 1993, ganhou um Grammy honorário pelo conjunto da obra.

Sua última gravação conhecida é de 2010, em um álbum tributo à cantora gospel Dottie Rambo. Após 65 anos de carreira, o pianista e cantor anunciou em 2013 sua aposentado­ria. Na época, a poucos meses de completar seu 81º aniversári­o, problemas de saúde tornaram suas apresentaç­ões cada vez mais penosas.

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York. Artista redefiniu o piano no rock
HIROYUKI ITO/THE NEW YORK TIMES Em Nova York. Artista redefiniu o piano no rock

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