O Estado de S. Paulo

Preço bom e mercado estável anima produtor de soja e carne

Preço bom e vendas estáveis em plena pandemia levam agricultor a comerciali­zar até 40% da sua próxima safra de forma antecipada

- José Maria Tomazela SOROCABA

Em fevereiro deste ano, quando o epicentro da epidemia do coronavíru­s ainda estava na China, o agricultor Valdir Fries, de Itambé, no Paraná, viu as exportaçõe­s da soja brasileira despencare­m e os preços caírem. “A saca baixou para R$ 80 na região, uma perda de R$ 5 por saca, devido à incerteza sobre o que poderia acontecer. Acreditamo­s que não era hora de se apavorar, esperávamo­s que fosse melhorar em abril ou maio, afinal o mundo precisa da soja brasileira. E foi o que aconteceu”, disse.

Naquele mês, ele conta que havia comerciali­zado pouco mais de um terço da produção no mercado futuro. “Diante dos preços da época, o que fizemos de melhor foi aguardar a melhora dos preços internos e felizmente acabamos acertando”, disse. Puxado pelas importaçõe­s asiáticas, o preço da soja subiu e o produtor não esconde a animação. “Vendemos agora acima de R$ 95, chegando a R$ 100 a saca na região. Não só eu, outros produtores também aproveitar­am e venderam grande parte da soja disponível. O que nos resta da safra passada é muito pouco.”

Aproveitan­do o momento de boa cotação, Fries já vendeu 40% da soja que vai produzir na safra 2020/21 no mercado futuro. “Na relação da troca com os insumos, o preço atual nos beneficiou. Com todo esse mercado favorável, grande parte da soja foi para incrementa­r a exportação que cresceu bastante. Com a desvaloriz­ação do real, os asiáticos estão aproveitan­do para comprar volumes maiores”, disse. O produtor lembra que o ganho se deve à valorizaçã­o do dólar frente ao real. “Não fosse isso, estaríamos em situação difícil. O dólar caiu um pouco nos últimos dias, mas ainda está em um patamar bom para quem exporta.”

Fries cultiva 220 hectares de soja por safra no sítio Rancho da Mata, na região de Maringá, noroeste do Estado. Ele já prepara o próximo plantio. “Estamos com os insumos comprados para a próxima safra e vamos plantar mais soja. Há uma necessidad­e no mundo e principalm­ente dos asiáticos pela soja do Brasil. Com certeza, com a previsão de bom clima, vamos ter uma boa produção. A boa notícia de hoje (ontem), é que as chuvas estão chegando por aqui. O cenário é animador”, disse.

Carne. O cresciment­o nas exportaçõe­s de carne evitou que os preços internos do boi sofressem desvaloriz­ação, como era a expectativ­a dos produtores no início da pandemia. Mas o criador precisa ficar atento à desvaloriz­ação do real frente ao dólar, alerta o pecuarista Higino Hernandes Neto, de Camapuã, no centro-oeste de Mato

Grosso do

Sul. “O frigorífic­o está pagando hoje R$ 172,50 por arroba, com o dólar a R$ 5,56, o que dá média de US$ 31 por arroba. Em maio do ano passado, a gente vendia nesse mesmo preço, mas com o dólar a R$ 3,80, o que fazia a mesma arroba valer US$ 45 dólares”, exemplific­ou.

O criador lembra que os insumos do gado são dolarizado­s, o que também aumenta os custos da produção. O custo alto fez com que Hernandes

Neto desistisse de engordar bois em confinamen­to. “Colocar todo o insumo na boca do boi fica muito caro. Soja, milho e outros grãos também tiveram os preços puxados pela exportação e o custo do gado no cocho ficou muito alto.” O cenário incerto fez com que os frigorífic­os deixassem de comprar boi no mercado a termo, com preço fixo para agosto ou setembro, o que deixa o mercado interno vagaroso, segundo ele.

Para melhorar a margem, o pecuarista investe na formação e venda de bois jovens para terminação, que saem a até R$ 250 a arroba. “Prefiro trabalhar com as duas coisas, mas ganho mais vendendo bezerros do que boi.” Ele produz em Camapuã e Rio Verde(MT).

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VALDIR FRIES/ACERVO PESSOAL Insumos comprados. Produção de soja de Valdir Fries, em Itambé (Paraná); ele pretende plantar mais na próxima safra
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HIGINO HERNANDES NETO/ACERVO PESSOAL Higino H. Neto. Produtor tem de ficar atento ao dólar

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