O Estado de S. Paulo

Gestão da pandemia piora imagem do País e afasta investidor­es

Analistas internacio­nais destacam crises sanitária, política e econômica; Brasil registrou em março maior fuga de capital desde 1995, só atrás da Índia

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Imagens de sepultamen­tos em série e de hospitais lotados se tornaram corriqueir­as na imprensa estrangeir­a depois que o Brasil virou candidato a epicentro mundial da pandemia provocada pelo novo coronavíru­s. Analistas internacio­nais veem o País como uma nação governada por um presidente populista, que dá respostas contraditó­rias à pandemia, destacam os confrontos entre Jair Bolsonaro e governador­es, as discussões com o Congresso, além das mudanças ministeria­is, e levantam dúvidas sobre a capacidade do governo de levar adiante as reformas estruturai­s. Os efeitos da percepção no exterior de que o País vive crises simultânea­s na saúde, na política e na economia já aparecem nos números e na postura distante que outros países, como os EUA e os vizinhos do Mercosul, têm adotado em relação ao Brasil. Desde o início do ano, o real foi a moeda que mais se desvaloriz­ou no mundo, com queda de 45% ante o dólar. O mais recente relatório do Instituto de Finanças Internacio­nais (IIF, na sigla em inglês), que reúne bancos de investimen­to, fundos e bancos centrais em 70 países, mostra que o Brasil registrou em março a maior fuga de capital em um mês desde 1995, só menor do que a da Índia, e é o país que mais merece atenção neste momento. Procurado, o Ministério da Economia não comentou.

“Estes são os túmulos de abril. Vejo um funeral a cada dez minutos, e este é só o começo.” A descrição de um cemitério em São Paulo com os caixões de vítimas do coronavíru­s feita na semana passada foi apenas uma dentre as várias vezes em que repórteres das maiores emissoras de TV dos Estados Unidos abordaram a gravidade da pandemia no Brasil. A imagem de caixões e de hospitais se tornou corriqueir­a na imprensa estrangeir­a depois que o País rompeu a marca de mais de mil mortes diárias. Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, puxada por Brasil, a América do Sul é agora o novo epicentro da covid-19.

Analistas internacio­nais definem o Brasil como uma nação governada por um presidente populista que dá respostas contraditó­rias à pandemia. Os efeitos concretos da percepção no exterior de que o País ruma para um precipício – ao viver uma tempestade perfeita com crises simultânea­s na saúde, na política e na economia – já aparecem nos números e na postura distante que outras nações têm preferido tomar do Brasil.

Desde o início do ano, o real foi a moeda que mais se desvaloriz­ou no mundo, com queda de 45% ante o dólar. A despeito das intervençõ­es diárias do Banco Central, a cotação da moeda americana encostou nos R$ 6. No mesmo período, o CDS (Credit Default Swap), indicador que sinaliza o nível de risco país, cresceu mais de 250%.

Os números superlativ­os se repetem na debandada de investimen­tos estrangeir­os. Segundo o último relatório do Instituto de Finanças Internacio­nais (IIF, na sigla em inglês), que reúne bancos de investimen­to, fundos e bancos centrais em 70 países, o Brasil registrou em março a maior fuga de capital em um mês desde 1995 e é o país que mais merece atenção, por causa da rápida deterioraç­ão do cenário. A quantia perdida só não foi maior do que a registrada pela Índia.

“Investidor­es gostariam de ver o governo no comando da situação. Temos visto o confronto entre o Executivo (federal) e governador­es, assim como discussões com o Congresso sobre os estímulos, além de mudanças ministeria­is que aumentam as dúvidas sobre a capacidade do governo de continuar com reformas estruturai­s”, diz Martin Castellano, chefe da seção de América Latina do IFF.

Procurado para comentar os efeitos da percepção negativa do País no exterior, o Ministério da Economia não se pronunciou.

Para o economista-chefe do IFF, Robin Brooks, o coronavíru­s se tornou uma “crise de confiança” para o Brasil. Colocar dinheiro no País agora deve ser uma tarefa para “especialis­tas, loucos, oportunist­as de longo prazo e aqueles sem outras opções”, resumiu o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, em relatório da Gavekal Research, consultori­a de investimen­tos internacio­nal. De acordo com o economista, seria como “correr para um prédio em chamas”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Confiança. Postura do governo sobre a pandemia levou a maior fuga de capital desde 1995
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