O Estado de S. Paulo

Moro: governo não combate a corrupção

Ex-ministro chamou aproximaçã­o entre governo e Centrão de ‘questionáv­el’ em entrevista ontem

- Rayssa Motta Tiago Aguiar

O ex-ministro Sérgio Moro disse em entrevista ontem que faltou apoio e “impulso” de Bolsonaro no combate à corrupção e chamou a aproximaçã­o com o Centrão de “questionáv­el”.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro afirmou que faltou apoio do presidente Jair Bolsonaro a ações de combate à corrupção. “Me desculpe aqui os seguidores do presidente se essa é uma verdade inconvenie­nte, mas essa agenda contra a corrupção não teve um impulso por parte do presidente da República”, disse Moro em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibida na noite de ontem. Segundo o ex-juiz da Operação Lava Jato, medidas nesse sentido foram sendo “esvaziadas” pelo presidente.

Moro declarou ainda que considera “questionáv­eis” as recentes alianças feitas por Bolsonaro com os partidos do Centrão.

O presidente tem se aproximado do bloco – e negociado cargos com o grupo – em troca de apoio no Congresso.

O ex-ministro também foi indagado sobre a condução da pandemia do novo coronavíru­s pelo presidente. Para Moro, que defende o isolamento social como principal medida de prevenção à covid-19, Bolsonaro adota postura “negacionis­ta” em relação ao vírus. “Acho que a minha lealdade ao presidente demanda que eu me posicione com a verdade, com o que eu penso, e não apenas concordand­o com a posição do presidente. Se for assim, ele não precisa de um ministro, precisa de um papagaio”, afirmou o exjuiz ao comentar as divergênci­as com o chefe do Executivo em relação à crise na Saúde.

O ex-juiz também comentou a reunião ministeria­l de 22 de abril, realizada dois dias antes de anunciar sua demissão do cargo e tornada pública na sexta-feira, e as mensagens reveladas pelo Estadão de que Bolsonaro já havia decidido trocar a direção da PF antes do encontro do dia 22. “Eu não ia discutir isso numa reunião ministeria­l, até porque o ambiente ali não era muito favorável ao contraditó­rio.” Em relação aos palavrões ditos durante a reunião, afirmou que “o tom subiu nos últimos meses”.

Armas. Moro declarou também que a portaria que assinou, ainda ministro, que permite a aquisição de mais munição, foi resultado de “pressão” do presidente.

“Certamente. Eu não queria que isso fosse usado como subterfúgi­o da interferên­cia na Polícia Federal. Eu entendi naquele momento que não tinha condições de me opor a isso porque já existia essa querela envolvendo a Polícia Federal”, disse o ex-ministro.

“Eventualme­nte nessas reuniões tinham discussões veementes. O tom, no entanto, subiu nos últimos meses.” Sérgio Moro EX-MINISTRO DA JUSTIÇA

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