O Estado de S. Paulo

Oliver Stuenkel

- Oliver Stuenkel COORDENADO­R DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA ESCOLA DE RELAÇÕES INTERNACIO­NAIS DA FGV

Imagem do País passa por um desgaste inédito. A política externa de Bolsonaro transformo­u o Brasil em um pária que nem sequer participa dos principais debates internacio­nais.

Aatitude negacionis­ta do governo Bolsonaro frente a pandemia e ao número cada vez maior de infectados e mortes no Brasil virou destaque global e consolida a percepção no exterior de um País à deriva, cujo presidente opera em uma realidade paralela.

O debate internacio­nal sobre o Brasil é marcado pelo espanto do por que um líder democratic­amente eleito ativamente incentivar­ia manifestaç­ões pró-governo enquanto viola e critica medidas de distanciam­ento social adotadas por países ao redor do mundo, a despeito da orientação ideológica dos seus governos.

Da mesma forma, gera perplexida­de a razão pela qual ele trocaria seu ministro da Saúde duas vezes por seguirem as recomendaç­ões da OMS com relação à pandemia. O desgaste mais recente na imagem do País apenas confirma uma tendência visível desde a eleição de Bolsonaro, em outubro de 2018, e seus embates internacio­nais recorrente­s, entre eles, a má gestão da crise diplomátic­a causada pelos incêndios na Amazônia.

Esses episódios causaram uma erosão inédita do soft power brasileiro, construído por um País que possui um dos corpos diplomátic­os mais respeitado­s do mundo e já servia de modelo em temas como Saúde Pública e teve lideranças globais na área do Meio Ambiente. A política externa de Bolsonaro transformo­u o Brasil em um pária que nem sequer participa dos principais debates internacio­nais, seja sobre a pandemia, mudança climática, seja como fortalecer o sistema multilater­al.

Trata-se de uma guinada histórica para um país que tradiciona­lmente se orgulhava do seu papel diplomátic­o altamente respeitado e construtiv­o, e da sua ausência de inimigos.

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