O Estado de S. Paulo

China aproveita distração causada pela pandemia

- Steven Lee Myers / / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL É JORNALISTA

Com o mundo distraído com a devastação causada pelo coronavíru­s, a China adotou, nas semanas mais recentes, uma série de medidas agressivas para demonstrar seu poderio econômico, diplomátic­o e militar em toda a Ásia.

A guarda costeira da China afundou um pesqueiro em águas disputadas perto do Vietnã, e seus navios investiram contra uma plataforma oceânica de petróleo operada pela Malásia. Pequim denunciou a segunda posse da presidente de Taiwan, Tsai Ingwen, e fez questão de excluir a palavra “pacífica” do seu apelo anual por unificação com a ilha. Soldados chineses voltaram a se envolver em um impasse com as forças da Índia na disputada fronteira do Himalaia.

Em todos os casos, trata-se de tensões antigas, mas a decisão de impor nova lei de segurança nacional a Hong Kong, burlando o processo legislativ­o do território semiautôno­mo, mostra o que pode ocorrer com uma China livre de obstáculos e do medo da reação internacio­nal. O Reino Unido, signatário do tratado de 1984 que prometia a Hong Kong – sua ex-colônia – liberdades básicas até 2047, emitiu um pronunciam­ento com a Austrália e o Canadá, dizendo-se “profundame­nte preocupado”. O alto escalão do governo Trump também denunciou a jogada de Xi, alertando que os privilégio­s comerciais do território podem ser revistos.

Ainda que o presidente Xi Jinping use a legislação em vez da força militar para subjugar um território já sob governo chinês, trata-se de um jogada ousada por parte de um líder autocrátic­o. Mas os desafios enfrentado­s por Xi ocorrem em um momento em que os principais rivais da China, sobretudo os EUA, se encontram em situação caótica, dando a Xi mais espaço de manobra.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil